Felicidade

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- Está com sono? – Pergunto.

- Tá brincando?! – Bruno ri, ainda agarrado em mim. – Dormi por vidas inteiras.
- Tem razão, desculpe. – Digo, rindo um pouco. Depois, levanto a cabeça só o suficiente para vê-lo. Ele abaixa o olhar e olha para mim, e, quando o faz, começo a chorar instantaneamente.
- Por que está chorando?! – Ele pergunta, mexendo em meu cabelo. Sinto seus dedos roçando meu couro cabeludo, e penso se essa não é a melhor sensação do mundo.
- Nada, eu só... – Colo os lábios, tentando segurar a emoção que ainda me inunda. – Eu só... achei que talvez nunca mais fosse ver seus olhos assim novamente. Achei que não o teria de novo pra mim. Ainda sinto que estou sonhando... – Acabo sussurrando, talvez com medo de falar mais alto e realmente acordar de um sonho.
Talvez seja por isso que ainda estou agarrada à Bruno, sem pregar os olhos, pensando que se não soltá-lo e nem tirar os olhos dele, nunca mais irei perde-lo. Nós dois ficamos nos olhando, observando, analisando... É como se fosse a primeira vez que estivesse vendo Bruno, querendo perceber todos os seus detalhes.
- Sinto muito que tenha passado por tudo isso. Sinto mesmo... – Ele beija minha cabeça e cheira meu cabelo. Seguro o choro, totalmente emocionada por esse simples gesto. Sinto que só em ver Bruno sinto vontade de chorar.
- Eu senti tanto a sua falta, senti tanto... – Sussurro, de alguma maneira me colando ainda mais a ele.
Bruno me segura firme, sem parar com seus carinhos em minha cabeça e costas. Sinto arrepios e sensações que não sentia desde o dia em que ele adormeceu. Sentir tudo isso novamente é como um presente, uma bênção.
- O que aconteceu? – Pergunto.
- Como assim? – Ele franze um pouco as sobrancelhas. Parece tão perdido em pensamentos quanto eu.
- Bom, pelo que eu saiba, há alguns dias atrás você estava numa maca, e agora está aqui, comigo. – Não consigo segurar o sorriso que estampa meu rosto. – Como isso aconteceu?
- Bom... – Bruno respira fundo e levanta as sobrancelhas antes de continuar a falar. – Na verdade estou acordado há... – Ele fecha um pouco os olhos, parecendo pensar. – 22 dias.
- O QUÊ?! – Sem querer grito e me levanto um pouco. Meu coração dispara. – COMO ASSIM, 22 DIAS?!
- Calma... – Diz Bruno, rindo e me puxando para deitar novamente.
- Do que está rindo?! – Pergunto, um tanto nervosa. – Como é que você está acordado há 22 dias e NINGUÉM ME FALOU NADA?! – Grito de novo, sem querer, sentindo certa raiva e revolta em mim. Bruno me observa, colando os lábios, parecendo segurar a risada. Fico ainda mais irritada. – Bruno, juro, se você rir de novo...
- Ok... – Diz ele, levantando as mãos, como se rendendo. – Tenho a palavra para explicar?
- Começa. – Digo, cerrando os olhos.
Percebo agora que, além da surpresa e da raiva, me sinto um pouco... magoada. Droga, como Bruno está acordado há mais de semanas e ninguém me disse nada?! Sofri por não saber o que tinha acontecido com ele, presa num SPA sem notícias nenhuma.
- Acordei dia 30 de setembro, no mesmo dia em que você... bem, no mesmo dia em que você se afastou e foi para o SPA, ou clínica, não sei. – Bruno faz movimentos com as mãos enquanto me sento na cama, de frente para ele. – Me lembro de ter acordado muito atordoado, pensando que porra eu estava fazendo deitado numa maca de hospital com enfermeiros me olhando. Quando doutor Stuart me contou que eu estava em coma, quase ri achando que ele estava louco. – Bruno sorri, passando a mão na testa, parecendo se lembrar. – Depois de explicações, fiz de tudo para que pudesse te ver, mas quando Stuart e Katherine chegaram à conclusão de que tanto eu como você precisávamos nos recuperar antes de qualquer coisa, acharam melhor você não ficar sabendo, pelo menos por um tempo.
- Não acredito que doutora Katherine sabia... – Digo, me sentindo desacreditada. Então é por isso que a estava achando estranha... Ela sabia que Bruno tinha acordado e não me disse nada! – E como esconder isso de mim possui algum benefício?! Tem noção do quanto fiquei preocupada esse tempo todo?!
- Pelo que entendi e soube, e, por favor, me corrija se eu estiver errado, você meio que surtou e por isso teve que se afastar. – Bruno parece cuidar com as palavras ao dizê-las.
- Certo. – É só o que respondo depois de um bom tempo encarando-o, sentindo vergonha de mim mesma por saber que tem razão. Bruno me dá um sorriso torto e volta à sua história.
- Quando eu acordei, sequer conseguia andar, então, como todo paciente depois de um coma, eu precisava me recuperar. Doutora Katherine disse que você estava com o emocional muito abalado, e sabia que, se soubesse que eu estava acordado no hospital, faria de tudo para ir me ver, talvez retardando sua recuperação, algo como voltar à estaca zero. Acredito que o receio dela e de doutor Stuart era de que talvez eu não conseguisse me recuperar totalmente ou tivesse alguma outra complicação e você não conseguisse resistir ao me ver, principalmente pensando no quanto estava mal. – Bruno fala me olhando diretamente nos olhos. – Eles decidiram esperar um tempo antes de te contar, tendo certeza de que eu estava bem e o coma não deixou sequelas através de exames e outras coisas. – Ele suspira. – Me perdoe, mas eu não tive outra escolha senão essa, e, no fundo, mesmo demorando para entender e compreender, eu sabia que era o melhor.
Me sinto sem palavras. Faz total sentindo o que Bruno disse, mas é inevitável sentir uma certa raiva e mágoa por ele ter acordado a tanto tempo e eu ter ficado sabendo só agora, depois de tanto sofrimento. Franzo as sobrancelhas, tentando organizar os pensamentos e sentimentos.
- Eu só... Só queria te ver.
- E está me vendo agora, não está? – Bruno abre um sorriso enorme, e meu coração palpita. Sem querer, sorrio. – E vamos combinar, o que são 20 dias depois de mais de 50 de espera?
- 20 dias são 20 dias! – Digo, espalmando as mãos. – 20 dias é muita coisa!
- Tem razão. – Ele diz, me analisando. Me sinto completamente derretida por esse olhar. Completamente... enfeitiçada. – Mas valeu a pena esperar, certo? – Bruno sorri e faço o mesmo.
- Sim. – Sorrio. – Por acaso foi você quem teve a ideia dessa chegada surpresa?
- Hm... – Bruno cerra os olhos, com seu típico jeito malandro. Sinto, de novo, vontade de chorar e rir ao mesmo tempo. Senti saudade de tudo dele, e é claro que seu bom humor e seu jeito também. – Digamos que eu adoro surpresas...
- Você sabe que quase me matou de susto, não sabe? – Digo, rindo um pouco.
- É, você realmente pareceu muito assustada. – Ele responde, rindo também. – Mas não parecia mais tão assustada há minutos atrás. Na verdade, parecia bem...empolgada. – Bruno levanta as sobrancelhas sugestivamente, me encarando nos olhos. Sinto arrepios percorrerem meu corpo e meus hormônios dançando em mim. É claro que também senti falta desse Bruno safado.
- Eu sei o que está fazendo... Conheço seus truques. – Digo, levantando as sobrancelhas também.
- E adora eles. – Bruno responde presunçosamente. Mordo o lábio inferior, sabendo que ele tem total razão. Adoro seus truques, e faço questão de sempre cair neles. – Vai, me conta o que aconteceu por aqui enquanto estive fora.
- Nossa... – Agora sou eu quem rio. – Como mudou de assunto rapidamente!
- Só estou guardando o melhor para o final. – Bruno diz, batendo a mão na cama, como me chamando para voltar a se aconchegar nele. Sorrio. – E não posso negar que estou curioso para saber.
- Conta você primeiro, afinal, tecnicamente, você que esteve fora, não é?
- Sim, mas eu quem perguntei primeiro, então... pode começar. – Bruno puxa meu braço e me deito junto com ele, entrelaçando nossos corpos. Sinto seu calor em mim de novo e é simplesmente uma das melhores sensações que já tive em toda minha vida.
- Certo... – Digo, respirando fundo e pensando, alcançando na memória todos os momentos, que, aliás, foram muitos. Só agora percebo o quanto é difícil contar para alguém sobre isso. – Acho que você talvez nem acreditaria.
- Foi tão ruim assim? – Pergunta Bruno, rindo e olhando para mim.
- Na verdade foi, sim... – Respondo, sentindo arrepios ao lembrar dos piores momentos da minha vida. Bruno, obviamente, percebe minha frustração.
- Olha, não precisa conversar agora se não quiser...
- Não, eu quero. – Com muito esforço, me afasto um pouco de Bruno, o suficiente para podermos olhar um para o rosto do outro sem ficar com torcicolo.
Só por me afastar um pouco consigo sentir falta de seu calor. Parece que meu corpo necessita de Bruno de uma forma que nunca conseguirei explicar. Enxugo algumas lágrimas e respiro fundo, tentando começar do começo. Bruno me observa com olhos atentos, me dando tempo. Ver os olhos dele me faz querer chorar ainda mais.
- Depois que você teve aquela crise terrível e foi para a cirurgia, eu... surtei, como você disse. Fiquei no hospital por horas esperando por uma resposta, e quando doutor Stuart me disse que você... – Minha garganta fecha, e, sem querer, começo a chorar de novo. Bruno me abraça.
- Tudo bem. Tá tudo bem. – Ele sussurra, passando a mão pelas minhas costas. Ouvir a voz dele, ver seus olhos e sentir seu cheiro me causam uma emoção muito forte. Tento me recompor.
- Quando ele me disse que você entrou em coma, meu mundo... caiu, por completo. Não sabia o que fazer, o que pensar, o que sentir. Só... me senti... sem chão. Sem... mundo. – Digo, com sinceridade, olhando para Bruno e fungando. Ele me observa sério, atento, sua mandíbula marcada. – Depois me encontrei com sua família e com os meninos, que, aliás, quase me enforcaram por saber que eu sabia sobre tudo que passou e não tinha contado a ninguém. Tahiti, em especial, foi a que praticamente me comeu viva.
- É, é algo bem típico dela. – Bruno diz, rindo baixinho. – Mas não foi justo com você. Phil, Eric, Rita e Liza sabiam também.
- Sim, eles até interviram, mas mesmo assim... – Suspiro. – Olha, não culpo sua família por ficarem putos da vida comigo ao saberem que escondi isso... Eu também ficaria se estivesse no lugar deles.
- Me desculpe por ter pedido que guardasse segredo sobre isso... – Bruno me olha com ternura. – Deve ter sido muito difícil.
- Pra ser sincera, foi, sim. – Respondo, respirando fundo. – Mas nada comparado ao que você passou. Sei também o quanto sofreu com tudo isso. – Digo, passando a mão em seu rosto. Bruno pega minha mão e beija a palma. Sinto meu coração queimar e os olhos encherem d'água. Antes que eu comece a chorar de novo, continuo falando. – Bom, aí Liza simplesmente chega com a notícia de que a história sobre o câncer estava rodando o mundo e que alguém vazou a informação.
- Fiquei sabendo... – Ele diz, agora sério demais. – Um dia depois em que estava acordado peguei meu celular na mão e... bum, o mundo todo estava falando sobre isso. Liza e todos os outros também me contaram... – Bruno olha para baixo, para nada em específico, talvez tentando encontrar ali alguma resposta. – Não consigo entender... Quem pode ter feito isso? Quero dizer, não contei pra mais ninguém além de você, Phil, Eric e Liza, e, bem, Rita, que tinha que saber de qualquer forma. Não acredito que algum deles iria contar, considerando que todos souberam desse segredo praticamente desde o início. Se fosse um deles, teriam vazado a informação há muito tempo...
Colo os lábios, sentindo o coração acelerado e uma imensa culpa pairando em minhas costas.
- Não vai ficar zangado se eu te contar uma coisa? – Pergunto como uma criança. Bruno olha para mim cerrando os olhos, obviamente suspeitando de algo. Mordo o lábio e olho para ele, unindo coragem para contar a besteira que fiz. – Eu meio que contei pra Jaque, pra Amber e também pra Trisha sobre isso... – Fecho um olho, como me protegendo de uma pancada, tentando esconder meu constrangimento. – Não disse especificamente o que era, mas contei que você estava... doente.
Bruno me analisa, sério, e não faço ideia do que esteja passando em sua cabeça. Me lembro mais uma vez o quão estúpida foi a atitude de contar o segredo de Bruno para outras pessoas.
- Foi no dia da festa do meu aniversário. Eu estava fragilizada e todas as meninas também, e aí a gente se encontrou no quarto do hotel, aí uma contou uma coisa, e a outra contou também, e a outra, e a outra, e aí eu não aguentei e contei também, e...
- Tudo bem, tudo bem. – Diz Bruno, pegando em minhas mãos, acredito que na intenção de me fazer parar de mexê-las tanto. Olho em seus olhos, me sentindo ainda mais culpada. – Eu entendo.
- Não, olha, me desculpe... Você confiou seu segredo a mim e eu acabei contando. É só que eu estava... fragilizada, e não conseguia mais guardar isso. Por favor, não me ache fofoqueira... Eu só... Eu...
- Calma. – Bruno, agora, sorri. – Está tudo bem, eu não a culpo.
- Mesmo? – Pergunto, olhando fundo em seus olhos, talvez como uma criança. Ele sorri.
- Talvez a situação esteja favorável para você, afinal, não conseguiria ficar bravo nem se quisesse depois de tanto tempo longe. – Quando Bruno diz isso, meus olhos queimam. Droga, vou chorar de novo?! – Mas é claro que você estava sob pressão, afinal, te coloquei nessa posição. Pode não parecer, mas manter um relacionamento com Bruno Mars é realmente algo muito complicado... – Bruno levanta o queixo, olhando para cima, fazendo graça, e me seguro para não pular em cima dele enquanto rio. Como ele consegue utilizar de bom humor tão facilmente?
- Obrigada por entender. – Digo, sorrindo e correndo a mão pelo seu peito.
É então que a vejo de novo. A cicatriz. Nem pequena, nem grande, mas visível.
- Gostou no novo visual? – Bruno pergunta. – Acho que pareço mais durão com uma cicatriz, não pareço?
Rio, roçando meus dedos por ela. Então sorrio, pensando o quanto ela parece insignificante perto de tudo o que Bruno passou.
- Continua... – Ele me incentiva, sorrindo.
- Ã... – Tento me lembrar do que estávamos falando. – Bom, encontrei alguns vídeos nossos, aqueles caseiros que sempre fazíamos, e me agarrei a eles... Acho que assisti todos, inclusive um que não fazia ideia de que existia. – Olho para Bruno com um sorriso maroto, e ele franze as sobrancelhas, talvez não entendendo. Sorrio. – "Move On, to Saphira". – Quando digo isso, Bruno abre um pouco mais os olhos e sorri, agora, entendendo. O brilho de seus olhos me deixa hipnotizada. – Não me contou que tinha gravado aquele vídeo.
- Era uma surpresa... – Seu sorriso inocente derrete meu coração por completo. – Que você descobriu.
- Eu... amei o vídeo. – Digo, sorrindo, sincera. – Me deu forças pra continuar.
- Fico muito feliz por saber disso. – Bruno olha para mim e sorri tão sinceramente que meu coração bate mais rápido. – Sempre gostei dessa música, aliás, de todas as minhas antigas... Achei que essa é uma das que retratam perfeitamente o que já passei e o que sinto por você.
- E, como sempre, você acertou. – Respondo, com um sorriso enorme. Bruno sorri também e depois deposita uma mão em minha coxa, dando um tapinha.
- Vamos lá, o que mais?!
- Ã, deixa eu pensar... – Forço a mente para lembrar, talvez contando as coisas na ordem errada dos acontecimentos. – Desmaiei numa farmácia cercada por uma multidão.
- Tá falando sério? – Bruno arregala um pouco os olhos, levantando as sobrancelhas.
- Não soube disso?
- Liza me contou que você passou mal, mas não que... desmaiou. – Ele demonstra uma expressão preocupada enquanto continuo sorrindo para ele, que nem uma idiota. É inevitável. – Você estava sozinha?
- Sim. – Respondo, e Bruno fecha a cara. – Mas por escolha minha. Jaque quis ir comigo, mas não deixei. Ainda bem que Big Joe chegou a tempo... – Digo, realmente parecendo aliviada. Pensar nisso me faz perceber o perigo que corri e o quanto devo à Big Joe.
- Jaqueline parece ter tido muita paciência com você.
- Ela e todos a minha volta. Não sei o que farei para recompensá-los por isso. – Colo os lábios, pensando no quanto realmente todos me ajudaram. Não sei o que seria de mim sem esse apoio.
- Daremos um jeito. – Ele sorri, e, obviamente, sorrio também. – Mais alguma coisa?
- Ã... Sua irmã, Tahiti, veio me visitar, e lutamos um pouco...
- Vocês brigaram?! – Bruno arregala os olhos, parecendo extremamente surpreso e preocupado. Mordo o lábio, aproveitando o momento.
- Foram só uns tapas... – Colo os lábios, acrescentando drama à minha atuação. Bruno fica me encarando com os olhos arregalados, a boca um pouco aberta, obviamente sem saber o que dizer. – Sua irmã é incrível no boxe.
- Mas que... – Ele franze as sobrancelhas, espalmando as mãos, ainda mais confuso. Começo a rir.
- Droga, Bruno, como pode achar que eu e sua irmã brigamos?! Tá doido?! – Digo, ainda rindo, e Bruno ri também.
- Isso não me surpreenderia! Sinto que ainda tem muito para me contar, e levando em conta o temperamento de Tahiti, não duvidaria disso.
- Fique tranquilo, sua irmã me ajudou muito. Lutar com ela me ajudou a aliviar a tensão, pelo menos por um tempo. E é claro que os meninos também me ajudaram demais. Até cantamos no estúdio, juntos.
- Phil me contou que tiveram uma experiência... intensa. – Bruno diz, levantando uma sobrancelha. Sorrio.
- Sim, pra dizer o mínimo. Foi como sentir a emoção jorrando de nós.
- Parece que perdi um grande momento... – Bruno sorri, mas consigo sentir uma pontinha de angústia. Com certeza foi difícil e triste ficar afastado por todo esse tempo, ainda mais levando em conta tudo o que aconteceu.
- Ainda teremos muitos outros momentos como esse, com certeza. – Sorrio. – Claro que não pelos mesmos motivos. – Suspiro, sentindo calafrios ao pensar em passar por algo assim de novo.
- E o que mais?
- Ã... – Colo os lábios, pensando, e quando essa lembrança me vem à mente, sinto calafrios intensos pelo corpo, além de um pouco de ânsia de vômito.
- Tudo bem? – Bruno pergunta, parecendo um pouco preocupado. – Parece pálida.
- Não, eu só... – Tento fingir indiferença, mas é impossível. – Eu só estou surpresa comigo mesma por ter feito o que fiz...
- O que você fez? – Bruno cerra os olhos, desconfiado, e engulo em seco, demorando um pouco para falar.
- Durante esse tempo, uma das coisas que conheci foi o meu limite, e eu o ultrapassei com Trisha. – Sinto outro calafrio ao dizer o nome dela. Bruno me olha com compreensão. Será que já sabe o que aconteceu?
- Fiquei sabendo que se desentenderam... Por que aconteceu e como aconteceu?
- Ã... – Sinto dificuldades em falar. Não achei que seria tão difícil contar isso à Bruno.
- Ok, agora estou um pouco preocupado... – Bruno diz, sorrindo mas ao mesmo tempo um tanto nervoso. – Trisha não está morta, certo?
- Credo, Bruno! – Digo, dando um tapinha em seu braço e fazendo uma careta. Ele ri, mas parece aliviado também. – Não, não é isso. Mas... – Engulo em seco de novo, pensando que, se eu fosse mais audaciosa, não sei o que seria de Trisha.
- Mas...? – Incentiva Bruno, parecendo muito curioso. Respiro fundo.
- Liza veio em casa como de costume e trouxe consigo um envelope. Ela deu mole e o peguei em mãos, sem intenções reais de ver o que tinha ali, só para passar o tempo. Quando tirei o conteúdo, vi fotos de Trisha saindo do prédio da TMZ, o mesmo site que publicou a nota sobre o câncer. – Olho para Bruno, que, agora, parece muito sério, prestando atenção. Olho para baixo, continuando. – Quando eu encaixei algumas peças na mente e percebi que tinha sido Trisha quem vazou a informação, eu simplesmente... surtei, de novo. Peguei o carro, dirigi até sua casa e a confrontei. – Olho de novo para Bruno, que continua calado. Colo os lábios antes de criar coragem para contar. Quando falo, sussurro. – Eu estava no máximo do meu limite. Sua situação não melhorava, estava sentindo a pressão e a angústia por todos os lados. Quando descobri que Trisha tinha feito isso, eu só queria... – Bruno me encara, e engulo as palavras. – Não sei, só queria ir até lá. Quando cheguei, acabei perdendo o controle. – Colo os lábios e não digo mais nada. Bruno fica me encarando, esperando que eu continue.
- De que forma? – É só o que ele pergunta. Olho no fundo de seus olhos, doendo ter de contar isso.
- Minha raiva estava além de mim, e senti uma força como nunca antes. No final, acabei encostando uma faca em seu pescoço, ameaçando-a... – Colo os lábios novamente e Bruno arregala um pouco os olhos. – Liza chegou, contornou a situação, e, de novo, Big Joe nos salvou.
Fico esperando Bruno dizer alguma coisa, mas só o que ele faz é ficar me observando, parecendo muito surpreso. Sinto uma ponta de medo. E se Bruno me olhar com outros olhos, agora que sabe o que fiz? Uma lágrima cai de meu olho.
- Olha, Bruno, sei que o que fiz foi horrível, e até hoje não consigo entender como cheguei a esse ponto, mas quero que saiba que... – Olho em seus olhos, sentindo minha visão embaçar pelas lágrimas. – Eu nunca seria capaz de machucar ninguém. Eu passei dos limites, mas, no fundo, de alguma forma, sabia que nunca iria ferir Trisha. Por favor, não duvide de mim agora, ok? Eu juro que essa não sou eu, eu só... – Colo os lábios. – Eu só precisava de ajuda.
De novo, espero Bruno reagir. Seus olhos correm pelo meu rosto, me analisando.
- Por favor, diz alguma coisa. – Digo, chorando. Bruno pisca forte.
- Você andou de carro, sozinha?!
- Quê? – Franzo as sobrancelhas, me perguntando se Bruno sequer ouviu o que eu acabei de dizer.
- Você não tinha medo de dirigir?!
- Bruno... – Olho para ele desacreditada. – Acho que essa não é a questão aqui. Eu coloquei uma faca no pescoço de Trisha! Sequer ouviu o que eu disse?
- Sim, eu ouvi, sim. Mas o fato de dirigir sozinha me deixa surpreso... – Ele diz, parecendo tranquilo. Quando respira fundo, não tenho noção do que irá dizer. – Minhas aulas deram resultado. Eu sempre soube que sou um ótimo professor.
O encaro por alguns segundos de olhos cerrados, desacreditada vendo um sorriso estampado em seu rosto. Ele cola os lábios, segurando a risada, e segura em minha mão.
- Olha, não vou te achar louca por ter feito isso, ok? É claro que me surpreende, mas não me assusta. – Bruno sorri, e faço o mesmo, só que chorando.
- Tem certeza de que não me acha louca?
- Só as vezes. – Quando Bruno responde, rio, me agarrando ainda mais a ele. – Mas tudo bem, eu te conheço e sei que não seria capaz de fazer nada para machucar alguém. Sei quem você é.
- Obrigada. – Digo, com a voz embargada.
- Você conversou com Trisha depois do ocorrido?
- Não. – Respondo sincera, abaixando os olhos. – Não tive tempo nem coragem. Mas irei fazer isso, sei que preciso.
- Certo, também acho. – Bruno sorri sinceramente. – Bom, parece que a ideia de brigar com minha irmã não era tão louca assim, afinal. – Bruno segura a risada, e olho para ele cerrando os olhos. Ele seca minhas lágrimas e aperta um pouco minha bochecha, o que me faz sorrir. – Por favor, não me diga que ainda possui mais notícias tão surpreendentes quanto essa.
- Ã... – Apoio a mão no queixo, pensando nos acontecimentos, e, quando a maior coisa que já aconteceu comigo passa pela minha cabeça, arregalo os olhos.
Meu Deus, como pude esquecer de contar isso à Bruno assim que o vi?! Não era essa minha vontade?! Pelo visto a emoção foi tanta que até me esqueci. Como sempre, passo a mão pelo meu abdômen, quase num ato imperceptível, e sorrio e choro ao mesmo tempo.
- Saphira? – Chama Bruno, me olhando com curiosidade.
- Eu... – Olho para Bruno e colo os lábios.
Não sei porque, mas agora sinto... medo em contar. Receio, talvez. Quando descobri a gravidez, estava num momento louco da vida, mas tinha a certeza de que tinha que contar à Bruno. Agora que ele está à minha frente, podendo ouvir, sinto... insegurança. Meu coração acelera. Engulo em seco, postergando a notícia.
- Sua vez. Me conte suas experiências.
- Mesmo? Tem certeza que todas as novidades acabaram? – Ele pergunta, sorrindo. Sorrio também, tentando disfarçar. Não sei porque, mas não consigo contar agora.
- Só me conte, estou curiosa.
- Certo... – Diz Bruno, respirando fundo, parecendo... desapontado? Franzo as sobrancelhas, não entendendo. O que será que ele queria que eu dissesse? O que quer que fosse, agora fica para trás, já que ele começa a falar. – Bom... Me lembro de desmaiar logo depois de ter aquela crise e cenas passarem pela minha cabeça.
- Como assim cenas? Tipo um filme? – Pergunto, franzindo as sobrancelhas.
- É, tipo um filme... – Bruno olha para a frente, como vendo esse filme a sua frente. – Vi imagens de minha família, dos meninos, de shows, de Kami... – Sua voz vacila um pouco, e colo os lábios para não chorar. Sempre que Bruno fala de sua filha sua voz vacila, e penso no quanto sofreu com isso. – E a última cena foi... você.
- Eu? – Pergunto, surpresa. Bruno sorri.
- Você no Havaí. Seus cabelos voando, sua pele queimada, a flor atrás da sua orelha... Consigo me lembrar de todos os detalhes.
- Bruno... – Sussurro, a voz já embargada e os olhos queimando. Sinto como se pudesse agarrá-lo e segurá-lo perto de mim pra sempre. Como lendo minha mente, ele me puxa mais para si, e sinto ainda mais o calor de seu corpo.
- Pensei que iria morrer. – Bruno sussurra, e consigo ouvir seu coração acelerar um pouco. Olho para seu rosto enquanto ele continua com os olhos focados na cama, para nada específico. Parece... aflito. Acaricio seu braço, talvez tentando confortá-lo. – Nunca irei esquecer dessa experiência em toda minha vida.
- O que sentiu? – Pergunto, talvez baixo demais. Bruno me encara com as sobrancelhas franzidas. – Quero dizer, o que sentiu durante todo esse tempo? Você sonhava? Ouvia?
- Eu não sei, ao certo. – Responde Bruno, agora novamente perdido em pensamentos. – Depois que esse filme passou em minha cabeça, eu simplesmente... apaguei. Me senti perdido, no escuro. É estranho, mas parecia que eu sabia que estava dormindo, porém não conseguia acordar.
- Sinto muito... – É só o que consigo sussurrar, sentindo uma lágrima caindo de meu olho. Pensar que Bruno passou por tudo isso faz meu estômago revirar.
- Tudo bem, não foi tão ruim assim. – Ele tenta sorrir. – Na maior parte do tempo foi terrível, mas... meus dias preferidos eram os que você lia para mim, ou me mostrava alguma música, ou conversava comigo.
Num solavanco, me sento na cama, olhando para Bruno com olhos arregalados e o coração acelerado.
- Bruno... – Minha voz ainda parece um sussurro, mas mais ansiosa. Ao sentir meu rosto molhado, sei que estou chorando. – Você disse que...
- Isso não acontecia sempre. Na maior parte do tempo, me sentia anestesiado, fora de mim, desligado, mas, às vezes, eu conseguia... ouvir sua voz. – Bruno sorri para mim, e posso ver que está emocionado. – Me lembro que eram nesses momentos que eu quase eu conseguia... Eu quase conseguia... – Bruno engasga um pouco e engole em seco, com certeza engolindo o choro. Seguro em sua mão, levando-a até meu rosto enquanto choro. Bruno dá um sorriso torto e me olha com ternura. Depois de um tempo, abaixo nossas mãos, mas não solto da dele. Parece estar tremendo um pouco. – Eram nesses momentos em que eu quase conseguia voltar. Eu não sei explicar, mas é como se uma luz surgisse, e, quando estava quase alcançando, tudo sumia de novo, e eu desligava. – Talvez eu esteja com uma expressão um tanto confusa, já que Bruno me analisa. – Desculpe, não sei explicar.
- Tudo bem. – Respondo, sorrindo e afirmando com a cabeça. – Tudo bem.
- Às vezes eu ouvia os outros também, como Phil me contando piadas... Dá para acreditar?! Phil me contando piadas enquanto eu estava em coma! – Bruno sorri, parecendo ainda mais emocionado. Sorrio e rio, também sentindo a mesma coisa. – Mas a sua voz era... diferente. – Ele diz, agora sorrindo. Penso que meu coração irá explodir. Talvez eu desidrate de tanto chorar. – Ela me fazia querer voltar e lutar por isso.
- Bruno... – É o que consigo dizer em meio ao choro. – Não sabe o quanto queria que voltasse... Todos aqueles dias, eram como acordar e lutar para viver, para ter... esperança. – Olho nos olhos dele. Estão tão intensos que choro ainda mais. – Nunca desisti porque no fundo eu sabia que você me ouvia. Eu sabia que sempre estivemos... conectados.
Bruno continua me encarando, sorrindo, encostado na cabeceira da cama. Ele agora é quem acaricia minha mão enquanto continuo chorando, sentindo forte a emoção. Saber que Bruno realmente me ouvia me faz sentir... mais viva, acho. Me faz pensar que tudo valeu a pena, e que o sofrimento acabou. Esse último fato é o que me faz sorrir, chorar e rir ao mesmo tempo. É ainda inacreditável. Bruno me puxa para si e assim nos abraçamos. Seguro firme em seu pescoço, e ele em minha cintura. Sinto arrepios pelo corpo.
- Ainda bem que tenho você. – Bruno sussurra, passando a mão pelo meu cabelo enquanto choro copiosamente sentindo seu cheiro e sua pele. – Ainda bem que tenho você, Saphira. Me sinto... abençoado.
- Eu senti tanto a sua falta, tanto, tanto, tanto... – Minhas palavras saem em meio a soluços, mas não consigo fazer diferente.
Estou extremamente emocionada ao poder abraçar Bruno outra vez. Sei que ele está aqui, e, ao mesmo tempo, ainda não consigo acreditar. Talvez eu esteja agarrada a ele para aproveitar cada segundo ao seu lado, talvez com medo de Bruno sumir. Parece uma ideia idiota, mas é o que sinto. Sei que poderia ficar assim para sempre com ele.
- Sabe... – Ele diz de repente enquanto me afasto um pouco, só para poder olhar em seus olhos. – Tem uma coisa que eu... preciso saber.
- O que quiser. – Respondo, sorrindo. Bruno, pelo contrário, parece... inseguro, nervoso, mordendo o lábio enquanto aperta minha cintura. Franzo as sobrancelhas. – Tudo bem?
- Eu só... – Ele respira fundo. – É que eu também sonhei coisas loucas enquanto estava dormindo, e eu não sei...
- Não sabe o que? – Pergunto, acariciando sua nuca e passando a mão em seus ombros. Bruno olha para baixo. O que quer que irá dizer, não parece ser fácil. – O que sonhou? Macacos voadores?
- Ã... – Bruno olha para mim confuso, depois, com diversão nos olhos. Talvez a tentativa de quebrar o gelo funcione. – Não, mas com certeza com golfinhos e unicórnios voadores.
- Golfinhos e unicórnios? Uau, isso sim me surpreendeu. – Rio, ainda fungando enquanto Bruno ri também. Depois ele pega em minha mão e olha para ela. Assim, após um tempo, a beija, e depois volta a me encarar. Não sei porque, mas sinto o coração acelerado.
- Saphira, eu preciso saber... – Bruno parece mais determinado. Fixo meus olhos nos seus, esperando o que quer que ele queira dizer. – Pode ser loucura, mas... Sabe o que me acordou do coma?
- Hm... – A pergunta me pega de surpresa. – Não sei.
- Eu não sei se sonhei, se talvez seja minha mente pregando peças, e, por favor, não me ache louco, mas eu... ouvi uma coisa... e preciso ter certeza. Não me importa se foi um sonho ou não, eu só preciso saber... – Bruno parece receoso, seus olhos brilhando enquanto meu coração pula dentro de mim. Talvez eu esteja com os olhos arregalados. Sinto arrepios pela pele e uma ansiedade sem igual. Quando ele fixa os olhos nos meus, eu sei o que ele irá dizer. Por algum motivo, eu sei, e isso me faz tremer. – De alguma forma, eu ouvi você dizendo que nós estávamos esperando... um.... filho.
Quando Bruno diz isso, sinto como se jogassem um balde de água gelada em mim. As palavras somem, e o coração dispara. Meus olhos arregalam, e a respiração fica desregulada. Meu Deus, ele ouviu. Ele realmente ouviu o que eu contei sobre o bebê, e, mais importante que isso... acordou.
- Saphira? – Chama Bruno, me acordando do transe. Olho para ele sentindo os olhos queimarem, e sei que irei chorar. Chorar porque irei contar ao homem que amo que sim, estamos realmente esperando um bebê. Sem querer, sorrio. – Tudo bem?
- Eu sei que hoje é seu aniversário e eu ainda nem te dei os parabéns, mas eu tenho um presente pra você. Talvez o maior que eu poderia te dar... – Minha voz é quase um sussurro, já embargada.
Depois que digo isso, engatinho pela cama e estico o braço até a mesa de cabeceira. Giro a chave da segunda gaveta e, quando o encontro lá, meu coração dispara ainda mais. Sorrio, sabendo que Rita e nem ninguém nunca mexeria ali, e agradecendo por ter tempo de ter escondido antes de ir para o SPA. Quando o pego em mãos, sinto meu corpo vibrar.
Volto para Bruno, que, agora, parece ainda mais confuso. Colo os lábios, chorando, sentindo uma emoção que nunca senti antes na vida. Cheguei a pensar que nunca teria essa oportunidade, mas agora, com Bruno à minha frente, sinto um misto de sensações que quase me derrubam. Já pensei em diversas formas de contar a ele, mas nenhuma chega nem perto da emoção que estou vivendo agora. Ainda sinto medo em contar, talvez receio por falar em voz alta, então decido fazer melhor. Decido mostrar.
- Tudo bem? – Diz Bruno, chegando um pouco mais perto e parecendo preocupado. – Por que está chorando de novo?
Olho no rosto dele e dou um sorriso fechado, tentando demonstrar o quanto o amo. Seus olhos preocupados, suas mãos ágeis aquecendo meus braços... Bruno sempre foi um homem maravilhoso, e sei que será também um pai maravilhoso. É por isso que, sem dizer palavra alguma, estico minha mão até ele e a abro. No início, Bruno fita o objeto em minhas mãos franzindo as sobrancelhas. Depois de talvez 4 segundos, ele arregala os olhos cada vez mais e alterna o olhar entre mim e minha mão.
- Isso é... – Bruno sussurra, parecendo desacreditado como nunca vi antes. Afirmo com a cabeça enquanto ele pega o teste de gravidez de minha mão e o analisa.
Bruno abre a boca devagar, como raciocinando o que eu disse, e seus olhos continuam arregalados. Parece totalmente surpreso e... desacreditado. Alguns segundos depois ele começa a sorrir e a chorar, a respiração desregulada. Depois, ele só chora, o corpo todo tremendo. Fico onde estou, dando espaço a ele. Quando seus olhos focam nos meus, vejo-os transbordando de lágrimas, mas, pelo seu enorme sorriso se formando, sei que é de alegria. Meu coração bate tão forte que parece querer sair de mim.
- Meu Deus... – Ele sussurra, alternando os olhos entre mim e o teste. Sua expressão é uma mistura de emoções que nem eu consigo discernir. Ele fixa os olhos nos meus e sorri, ainda chorando. Sinto que meu coração irá explodir enquanto choro também. – É real, Saphira... É... Estamos... estamos...
- Sim, estamos! – Digo, afirmando com a cabeça e chorando.
- Está grávida... – Bruno estica gentilmente sua mão até minha barriga, e o calor que sinto quando ele me toca me faz emocionar ainda mais. Bruno olha para mim e posso sentir seu corpo tremendo. Ele não para de sorrir e chorar. – Teremos um... filho. Teremos um filho!
Bruno, de repente, me abraça, praticamente me jogando na cama. Choramos juntos por algum tempo, até ele conseguir dizer alguma coisa, a voz totalmente embargada e carregada de emoção.
- Eu sabia... Foi nosso filho que me fez voltar, Saphira. Foi ele. Ou ela. Eu não sei, só sei que ouvi sua voz me dizendo que estávamos esperando um bebê, e foi aí que eu encontrei forças para... voltar. Não sei explicar, mas foi aí que eu consegui... – É a primeira vez que vejo Bruno tão emocionado e empolgado, o que me faz ficar ainda mais. Choro tanto que soluço, tremendo o corpo sob seu abraço. Ele me agarra, chorando e dizendo coisas que me fazem sorrir.
Só nesse momento é que parece que tudo realmente está se encaixando. Que finalmente, depois de tanta coisa, estamos... juntos. E que nada irá nos separar. Porque agora não somos só nós dois. O time está crescendo, e quem vem por aí será uma mistura perfeita minha e de Bruno, e não consigo imaginar algo mais esplêndido e maravilhoso que isso.
- Eu serei pai... – Diz Bruno, pegando em meu rosto e apertando minhas bochechas enquanto continua chorando. Seus olhos estão vermelhos, assim como seu nariz, e um sorriso estampa seu rosto, o que o deixa ainda mais reluzente. Rio, afirmando veementemente com a cabeça. – Pai... – Ele repete, agora, encostando nossas testas. – Eu juro, vou tentar ser o melhor. Para você. Para ele. – Bruno coloca novamente a mão na minha barriga, e sinto que eu poderia explodir de felicidade. – Seremos nós, sempre.
Quando Bruno me abraça de novo, sei que tudo o que disse é real. Nem me incomodo em perguntar se está feliz, se gostou da notícia, porque está mais que clara a resposta. Me sinto, depois de tanto tempo, segura nos braços do homem que amo, e com alguém tão especial crescendo dentro de mim. Sinto como se meu coração expandisse, cabendo, agora, mais uma pessoa, ao lado de Bruno. Meus dois amores, que sei que irei levar pra vida toda.
- Temos que contar para Rita. RITA! RITAAAAAA! – Bruno praticamente pula da cama, correndo como uma criança pelo quarto. – E para Phil também! PHIIIIIIIIL! Será que Phil já foi embora?!
- BRUNO! ESPERA! – Grito, o que o faz parar por alguns segundos, exasperado. Olho para seu corpo e seguro o riso. – Meu Deus, Bruno, você está nu! Perdeu o juízo ou quer matar Rita do coração?!
Bruno olha para si mesmo, como para ter a certeza de que estou certa sobre o que estou falado. Ele rapidamente corre e veste uma bermuda que estava debaixo da cama.
- Bruno, calma! – Digo, rindo um pouco.
- Seremos pais. SEREMOS PAIS! – Ele me pega da cama de repente e me gira no ar, o que me faz assustar e rir, além de sentir uma felicidade imensa que quase não cabe dentro de mim. – VOCÊ SERÁ MÃE, E EU PAI. SEREMOS PAIS, E TEREMOS UM FILHO. E VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA. DE MIM!
- SIM, SIM, SIM! – Consigo dizer, rindo, sentindo a empolgação enquanto ele me coloca na cama de novo. Bruno parece uma criança, os olhos brilhando, um sorriso enorme estampado no rosto. Olho para ele e sinto vontade de chorar ao pensar no homem que tenho ao meu lado. – Olha, iremos contar para Rita e para todos os outros, mas antes você precisa pelo menos se vestir direito! – Rio quando vejo só uma perna de Bruno dentro da bermuda, agora o tecido caindo no chão novamente. Bruno a levanta de forma desajeitada, e quase cai no chão ao tentar vestir. – Calma, amor! Que ansiedade! Olha, não acha melhor esperarmos para reunir todo mundo? Pense no que Tahiti vai pensar ao saber que você contou que está esperando um bebê e ela não foi uma das primeiras a saber...
Bruno para, de repente, os olhos arregalados, parecendo pensar.
- Tem razão, Tahiti me comeria vivo... – Ele cerra os olhos. – Ok, vou reunir o pessoal. – Ele caminha até a porta, e franzo as sobrancelhas.
- Agora?! – Pergunto, torcendo para que a resposta seja "não".
- Sim! – Ele responde, vindo até mim e me beijando rapidamente. Quando me olha nos olhos, quase choro de emoção. – Quero que todos saibam, que todos se sintam felizes como eu estou feliz!
- Bruno, eu sei, e, acredite, eu também quero, mas precisa esperar! Eu ainda nem tomei banho ou troquei de roupa!
- Aqui, eu pego para você. – Bruno agacha na cama e pega minhas roupas do chão, jogando em cima de mim, ignorando totalmente a parte do banho. Rio. – Tá aí, calça, camiseta, sutiã, calc... Onde está sua calcinha?
- Acho que aqui, debaixo da.... – Começo a me levantar, mas Bruno me joga na cama de novo. Me assusto um pouco, franzindo as sobrancelhas.
- O que você está fazendo?! – Ele questiona com uma careta no rosto. Me sinto confusa.
- Bruno, só vou pegar a calcin...
- NÃO! – Ele diz, me impedindo de levantar.
- Bruno, qual o problema?! – Não sei porque, mas começo a rir. Sei que vem coisa por aí.
- Você está grávida, Saphira! Grávida! Sabe que não pode fazer esforço!
- AH, MEU DEUS. – Apoio a mão no rosto, rindo. – Você só pode estar brincando...
- Vou pegar uma calcinha para você. Não se mexa. – Ele diz, apontando para mim e literalmente correndo até o closet.
Reviro os olhos enquanto ouço gavetas abrindo e fechando. Depois de um tempo ele chega com uma das calcinhas mais caras que eu tenho, obviamente para ser utilizada em momentos especiais.
- Toma.
- Bruno, essa calcinha não é pra ser usada agora! – Digo, tentando ser o mais simpática possível. Bruno me olha com tanta incredulidade que quase rio.
- E desde quando você tem calcinhas certas para usar em determinadas horas do dia?!
- Bruno, pelo amor de Deus, essa calcinha é pra transar! Não é confortável para usar agora!
- Para transar? – Bruno pega a calcinha e levanta, analisando-a com os olhos cerrados. – Não me lembro dela.
- Porque você rasga todas e essa foi a única que consegui proteger. – Quando digo isso, um sorriso malandro perpassa o rosto de Bruno, e seus olhos incendeiam rapidamente. Segundos depois está novamente extremamente ansioso e inquieto.
- Ok, vou pegar outra. – Ele corre de novo para o closet, e ouço novamente as gavetas.
- A primeira gaveta, amor. A primeira. – Grito em cima da cama, obviamente não arriscando minha vida a ir até o closet e Bruno me pegar "fazendo esforço". Estou rindo novamente disso quando ele chega com uma das calcinhas mais horríveis que tenho. Faço uma careta. – Credo, Bruno, essa calcinha é horrível! Não tinha uma melhor?!
- ONDE DIABOS VOCÊ GUARDA SUAS CALCINHAS PARA SEREM USADAS AS... – Bruno olha para o relógio na mesa de cabeceira e depois para mim. – 4 HORAS DA TARDE?! – Ele está com a respiração descompassada, a testa suando, e sinto como se a ansiedade estivesse borbulhando dentro de si.
- Na gaveta debaixo das que uso às 3 da tarde. – Digo, mordendo o dedo, o que faz Bruno curvar um pouco a cabeça, obviamente irritado. Rio e pego a calcinha de sua mão. Começo a vestir, ficando em pés, e Bruno me analisa como se eu fosse quebrar a qualquer momento. – BRUNO! – Digo, o que o faz assustar.
- Sim?
- Eu não tenho osteoporose, se é o que está pensando.
- Só estou te olhando!
- Jura? Parece mais que está calculando na mente formas de vestir uma calcinha em mim sem que eu tenha que fazer muito "esforço".
- Ã... – Bruno olha para mim tentando mentir. – É claro que não!
- Claro... – Reviro os olhos, terminando de vestir.
Visto o resto das roupas enquanto Bruno literalmente pula e me agarra em todo o processo. Um dos meus braços fica entalado numa manga da camiseta enquanto ele me roda pelo quarto.
- Bruno, meu braço! Meu braço! – Digo, tentando gesticular as palavras enquanto meu rosto está enterrado no peito de Bruno.
- Oh, me desculpe, mil perdões. – Ele diz, me colocando no chão com cuidado demais.
Reviro os olhos. Quando olho para o rosto de Bruno, sinto vontade de rir, considerando tanta empolgação. Sinto também vontade de chorar, pensando que tive medo de contar a ele sobre o bebê. É claro que Bruno reagiria da melhor forma possível, afinal, ele é Bruno, o homem que eu amo e uma das melhores pessoas que conheci na vida.
- É que seremos PAIS! Minha nossa, temos muito o que fazer. Precisamos comprar uma babá eletrônica, não é? – Ele diz, como pensando. Fico encarando Bruno depois que diz isso, talvez tentando saber se está falando sério. Quando o percebo sério, maquinando coisas na cabeça, sei que está. Ele anda pelo quarto enquanto fala. – Vou ligar para o hospital e pedir a melhor enfermeira aqui 24 horas. Ela pode dormir no quarto de hóspedes, não acha? – Enquanto ele fala, tento interromper, mas ele continua seu monólogo. – Podemos também fazer exames, quem sabe descobrir o sexo? Podemos comprar outra casa, uma maior, com um campo mais extenso para a criança brincar.
- Bruno...
- O que acha de um cachorro novo? Ou talvez uma lhama? Assim eles crescem juntos... Não, lhama não, acho que um gato.
- Bruno...
- Irei providenciar mais carros e mais motoristas, e também uma ambulância. O que acha de um helicóptero, caso ocorra algum incidente e...
- BRUNO! – Grito, conseguindo, agora, chamar sua atenção.
Ele para no meio do quarto, já com o celular em mãos. Vou até ele e apoio uma mão em seu peito. Noto seu coração acelerado.
- Primeira coisa: respira fundo. Se continuar assim, terá um infarto.
Bruno, mesmo relutante, faz o que digo, respirando fundo três vezes seguidas. Sorrio.
- Certo. Agora, segunda coisa: você ao menos está ouvindo o que está dizendo? Helicóptero? Lhamas?!
Bruno continua com seus olhos focados nos meus, agora, parecendo mais calmo.
- Não acha que está exagerando?
- Me desculpe... – Ele diz, agora, sussurrando, totalmente o contrário da energia de segundos atrás. – Eu só... – Bruno, agora, parece estar... angustiado. – Eu só quero fazer certo dessa vez.
Meu coração dispara ao ouvi-lo dizer isso.
- Já passei por isso uma vez. – Ele continua. – Já tive oportunidade de criar um filho, e eu... eu.... falhei.
Bruno, de repente, com suas palavras, se mostra triste. Imediatamente meu coração se quebra em milhões de pedaços, ou talvez sinto como se uma faça o rasgasse. Sei que ele está se referindo à Kami, sua filha. A dor em suas palavras e em seus olhos me dói na alma. Sei que Bruno já passou por isso antes, e teve como resultado uma experiência traumatizante.
- Não posso falhar dessa vez... – Bruno, com os olhos lacrimejando, me encara profundamente, o que me faz arrepiar. Ele coloca uma mão em minha barriga e me puxa pra mais perto. – Não consigo me perdoar pelo que aconteceu com Kami... Talvez, se eu tivesse tido mais cuidado, se Jessica tivesse se cuidado mais, ou se tivesse prestado mais atenção, talvez... – Bruno cola os lábios, com certeza segurando o choro. Olho firme em seus olhos, tentando não chorar antes dele. Ver Bruno triste é como me matar por dentro. – A questão é que não posso falhar de novo, tudo tem que ser perfeito para quando ele ou ela chegar.
Me sinto, novamente, emocionada. Seguro firme em seu rosto, o encarando com sinceridade e afeto.
- Você não falhou com Kami, Bruno, e sei que não irá falhar agora. Você será incrível, assim como é incrível comigo e com todos ao seu redor. – Algumas lágrimas descem pelo meu rosto. Sorrio. – Não há homem melhor no mundo que possa ser pai de meus filhos.
Bruno me abraça forte, parecendo... emocionado.
- Podemos conversar sobre helicópteros e lhamas depois, ok? – Digo.
- Ok. – É só o que ele responde, a voz um pouco embargada.
Ele encaixa sua cabeça em meu pescoço e ficamos assim durante um tempo, balançando nossos corpos. Acaricio sua cabeça e sinto Bruno se acalmando, aos poucos. Sua respiração se regula e seu coração não parece mais tão disparado. Só quando ele fala novamente é que noto sua voz ainda um pouco embargada.
- Eu só quero cuidar de vocês.
- Eu sei, e você vai. Como mais ninguém consegue fazer. – Sussurro, beijando seu pescoço. Bruno levanta a cabeça e me olha, agora, sorrindo. Inesperadamente ele me beija, e passo novamente as mãos pela sua nuca. É um beijo suave, calmo, apaixonado. Ele roça nossas bocas uma na outra, sentindo a fragilidade do momento. Sorrio. – Eu te amo. Você é um grande homem e será um grande pai.
- Espero que não esteja se referindo ao meu tamanho... – Bruno cerra os olhos e faz uma careta.
Rio de sua piada, sentindo o coração queimar. Como amo esse homem.
- Eu te amo. – Roço nossos narizes, sentindo uma sensação tão boa que nem acredito.
Então penso no quanto Bruno está animado com a notícia, o quanto ficou absurdamente feliz e o quanto me sinto ainda mais encantada por ele. Talvez meu medo de contar inicialmente foi a dúvida de como ele reagiria. Conheço Bruno o suficiente para saber que é uma das melhores pessoas que já conheci na vida, mas mesmo assim me senti receosa. A notícia de que será pai não é o mesmo que contar que comprou um carro novo. É algo que muda sua vida para sempre, e não tinha a certeza se Bruno ficaria feliz ou não com essa notícia. Depois de sua reação, meu coração parece, ao mesmo tempo, calmo e acelerado. Tenho mais uma qualidade de Bruno que posso listar, mais uma razão para eu o amar tanto. Bruno nem sequer pensou, nem sequer recuou. Ele só se surpreendeu, e, no momento seguinte, estava me abraçando e dizendo o quanto estava feliz com isso. Não há sensação melhor que essa. Decido fazer algo por ele, já que se sente tão ansioso para anunciar tal novidade.
- Olha, nós podemos contar para o pessoal amanhã, numa festa... O que acha?
- Uma festa? – Bruno nem me espera terminar de falar, fitando meus olhos com ansiedade. Sorrio.
- Sim, podemos dar uma festa de aniversário atrasada para você, e aí, de surpresa, contamos. O que acha?
- Acho ótimo. – Bruno fala com muita ansiedade, parecendo uma criança. – Parece que meu aniversário está em segundo plano esse ano.
- Está enciumado? – Pergunto, levantando uma sobrancelha e provocando Bruno. Ele sorri.
- Sabe que essa sua festa surpresa de recepção era também uma festa para comemorar meu aniversário, não sabe?
- Jura?! Acho que vi uma faixa escrita "Bem-vinda de volta" e não "Parabéns". – Mordo o lábio, e Bruno sorri novamente, apreciando meu sarcasmo.
- Estou ansioso para nossa festa. – Ele diz, analisando meus olhos intensamente enquanto continua sorrindo. – E, aliás, seus olhos estão quase azuis, sabia? Da mesma forma que estava em nossa primeira noite. – Bruno diz de uma forma tão carinhosa que quase me faz chorar.
- E por que você acha que está assim?
- Hm, será que é porque está muito, extremamente, exageradamente e imensuravelmente feliz?
- Isso sim é algo que eu diria. – Respondo, sorrindo e depositando um beijo de leve em seus lábios. Estar com Bruno significa me segurar o tempo inteiro para não me agarrar em seu pescoço e ficar pendurada para sempre. – Acha que o pessoal ainda está por aqui?
- Bom, se não estão, terão que vir para nossa super festa de revelação de gravidez de Saphira amanhã.
- Nossa, é um nome grande pra uma festa, não acha?
Minha barriga, de repente, ronca alto, fazendo Bruno ouvir. Até eu me assusto, já que fazia muito tempo que não sentia tanta fome.
- Irei buscar alguma coisa para comermos. – Ele diz. – O que quer?
- Ã... qualquer coisa.
- O que acha de macarrão com queijo?
- Pode ser.
- Ou lasanha?
- Pode ser... – Respondo, franzindo as sobrancelhas. – Qualquer coisa.
- Ou arroz com feijão? Não é isso que vocês sempre comem no Brasil?
- É, sim. – Rio.
- O que grávidas comem? – Ele pergunta, cerrando os olhos.
- O que todo mundo come! – Digo, rindo. – Bruno, estou grávida, não doente! Eu só irei comer mais do que habitualmente comia.
- Tem razão. Então trarei macarrão com queijo, lasanha, arroz com feijão, salada, bife...
- Está ótimo. – Corto seu raciocínio antes que ele insira mais algum prato no cardápio. – E como assim "trarei"? Não vamos comer lá embaixo?
Bruno abre a boca para responder, e, sabendo o que irá dizer, o interrompo.
- Se disser que não posso fazer esforço, irei brigar com você. – Digo. Bruno cola os lábios, talvez segurando uma risada.
- Certo, vou pedir à Rita que arrume a mesa para nós.
Bruno vai até a porta correndo enquanto olho para ele sentindo aquela emoção de novo. Talvez eu sinta isso pelo resto da vida, sempre que Bruno estiver comigo. De repente ele para no batente da porta, sorrindo para mim e quase fora do quarto.
- Sem esforços, ok?
- Bruno... – Reviro os olhos, rindo. Ele sorri para mim, e o brilho presente em seus olhos me faz querer chorar. É maravilhosa a sensação de ser amada por alguém como ele.
- Eu te amo. – Ele sussurra, sorrindo de um jeito malandro. Sorrio de volta.
- Te amo também. – Respondo da mesma forma.
- Seremos pais! – Ele diz de novo, ainda sussurrando, mas animado. Rio de novo.
- Sim, seremos, sim.
Quando Bruno sai correndo pelo corredor, passo a mão na barriga e uma lágrima escorrega pela minha bochecha. Essa, diferente de tantas outras, é de felicidade. Pura felicidade. Alcancei algo em minha vida que nem acreditava ser possível: amor pleno. Sinto como se meu amor por Bruno, agora, aumentasse, dando espaço para mais alguém que está por vir. Por vários momentos achei que não teria Bruno de volta, e em outros momentos achei que não conseguiria dividir a felicidade de ter um filho com ele. Graças aos céus eu estava errada. Sorrio de novo, na tentativa boba de sentir qualquer volume a mais na barriga. É claro que ainda não há, mas ainda assim tento. Pode não haver aqui, mas em meu coração há, agora, muito volume. Bruno e nosso filho. Nunca achei que poderia estar tão feliz.


- Eu nem acredito que estou vendo vocês dois juntos, comendo aqui, de novo! – Diz Rita, juntando as mãos em frente ao peito e sorrindo largamente. Respondo somente com um sorriso fechado, considerando que estou mastigando o macarrão com queijo que, aliás, está divino. Bruno pega em minha mão e sorri. – Eu disse que tudo daria certo, não disse?
- Disse sim, Rita. – Tento dizer enfiando um pedaço de bife na boca, já olhando para o frango com batatas, peixe e outras coisas que Rita fez. Bruno me prometeu que não foi ele quem pediu que fizesse, mas tenho certeza de que foi.
- Rita, a comida está "delixious" – Minha mãe diz, colocando um pedaço de salmão na boca. Rita olha para ela cerrando um pouco os olhos, e seguro a risada.
- Ela quis dizer que a comida está deliciosa, Rita
Bruno, de repente, dá alguns risinhos enquanto come. Fez isso alguma vezes enquanto estamos na mesa. Agora, olho para ele com as sobrancelhas franzidas.
- Bruno, do que você está rindo?! – Sussurro na tentativa de tirar a atenção de nós, mas Rita e minha mãe nos encaram. Bruno sorri e ri mais um pouco, negando com a cabeça.
- Nada. – Ele diz, colando os lábios, como segurando a risada. Parece ter ouvido uma piada.
- Com certeza é alguma coisa. – Levanto as sobrancelhas. Bruno sorri de novo.
- O que estão tramando? – Rita pergunta, cerrando os olhos e nos analisando.
- Nada. – Nós dois respondemos, rápidos demais, o que faz deixa-la ainda mais desconfiada. De todos, com certeza, minha mãe é a mais confusa, demonstrando aquela expressão de "por favor, traduzam!"
- Eu só estou feliz demais, Rita. – Diz Bruno, sorrindo sinceramente. – Feliz demais.
- É claro... – Diz ela, ainda desconfiada. Depois, sorri largamente. – Bom, então teremos uma festa amanhã?
- Sim, e precisamos que seja perfeita. – Bruno, agora, dá total atenção à Rita, depois olha para minha mãe. – Acha que consegue nos ajudar com isso, Silmara?
Minha mãe fica olhando para Bruno, sorrindo, como aquelas vezes em que a pessoa repete várias vezes o que disse e, pra fingirmos que entendemos, só sorrimos. Seguro a risada.
- Bruno quer saber se você pode ajudar com a festa amanhã, mãe.
- Ah, claro! – Diz ela, levantando rapidamente da mesa. – Já estou pensando no cardápio. – Sem muitos rodeios, ela vai até a cozinha, e sinto pena de Rita por agora ter de se esforçar para sequer entender o que minha mãe diz.
- Vou junto. – Diz Bruno, sussurrando, como adivinhando meus pensamentos. Sorrio.
- Obrigada. – Respondo. Ele se levanta da mesa e segue minha mãe.
Ainda sentindo fome, corto um pedaço de frango e como. Gemo de prazer ao sentir a comida tão gostosa. Não sei se realmente está deliciosa assim ou sou eu, depois de muito tempo sentindo prazer em comer. De repente, Rita senta ao meu lado e agarra no meu braço repentinamente. Seus olhos estão brilhando e suas bochechas estão rosadas. Olho para ela um tanto assustada.
- Você está, não está?! – A ansiedade e excitação estão visíveis em sua aparência e voz. Franzo as sobrancelhas.
- Do que está falando?!
- Você está grávida, não está? – Rita sussurra, e sinto meu coração acelerar. Fico sem palavras, talvez não sabendo como responder a isso. Ela revira os olhos. – Pelo amor de Deus, fui eu quem deu a ideia de você fazer o teste! Eu sei, aqui no fundo do coração, que você está! – Rita parece ansiosa, e sei que não conseguirei esconder dela. Sorrio, agora, me rendendo.
- Sim, Rita, estou.
- AH! – Ela grita e me abraça, quase quebrando meu pescoço. – EU SABIA! EU SABIA! – Depois de um tempo, ela afrouxa um pouco os braços, e, assim, me desvencilho.
- Rita, isso precisa ser segredo, ok? – Sussurro. – Pelo menos até a festa de amanhã.
- Então é esse o motivo da festa?! – Ela sorri, entrelaçando suas mãos em frente ao peito. – Eu sabia que tinha algum motivo a mais do que o senhor Bruno ter voltado para nós.
- Sim, tem sim, mas, por favor, não conte. Nem minha mãe sabe.
- As mães sempre sabem, minha querida. – Rita passa a mão na minha bochecha e seus olhos enchem d'água. – Mas tudo bem, posso guardar seu segredo. Ou melhor, o segredo de vocês. – Ela sorri. – Então é por isso que senhor Bruno está rindo a todo momento?!
- Parece que sim... – Rio, sentindo meus olhos também encherem d'água. – Estou tão feliz, Rita... Tão feliz...
- Eu sei, minha filha. Eu sei. – Rita pega em minhas mãos e sorrimos e rimos uma para a outra.
- Filha, por favor, dá pra me ajudar a explicar como eu faço meu doce de abóbo... – Minha mãe para de falar quando vê eu e Rita secando as lágrimas. Ela franze as sobrancelhas. – O que está acontecendo?
- Mãe... – Digo, tentando disfarçar, ainda com um sorriso no rosto. Bruno chega logo depois dela, parando quase ao seu lado. Ele sorri para mim, fazendo meu coração acelerar.
- Filha, você está bem? – Minha mãe corre até mim, agachando para poder me olhar enquanto continuo sentada. Sua expressão preocupada me faz querer abraça-la. – Está passando mal?
- Não, mãe, muito pelo contrário. – Digo, agora deixando o choro inundar meu rosto e o sorriso estampar. – Eu estou muito bem e muito feliz, porque... – Meu coração acelera. Pego em suas mãos, sentindo calor e alegria ao poder contar isso a ela. Não sei como escondi por tanto tempo, e não me importo se revelaremos só amanhã. Minha mãe merece saber disso mais que qualquer outro. – Porque eu estou grávida, mãe.
Minha mãe me encara pelo que parece uma eternidade. Seu rosto demonstra confusão, talvez processando a ideia.
- O quê? – Ela pergunta, como se realmente não entendesse.
- Estou grávida, mãe.
- O quê?!
- Estou grávida.
- O QUÊ?!
- Mãe! – Rio, dando um tapinha em seu braço, talvez pensando se não estou falando em inglês. – Disse que estou grávida! Eu e Bruno teremos um... filho. – A ideia ainda parece muito recente para eu dizer "filho" em voz alta, mas é uma das melhores sensações que já tive na vida.
Depois de alguns segundos piscando forte e raciocinando a ideia, minha mãe sorri e seus olhos enchem de lágrimas, como os de Rita.
- Filha... – É a única coisa que minha mãe diz antes de me abraçar forte e começar a chorar. Choro junto, sentindo a emoção. Consigo olhar para Bruno, que está sorrindo e os olhos estão marejados também. – Eu não acredito! – Ela diz, agora parecendo processar toda a ideia. – VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA! AI, MEU DEUS. ESTÁ GRÁVIDA! – Ela ri, me abraçando forte, depois, se levantando. Minha mãe parece não saber o que fazer com o corpo enquanto dá gritinhos e pula no lugar. – EU SEREI AVÓ, AI MEU DEUS, EU SEREI AVÓ! AVÓ! – Ela olha para Bruno e vai até ele, abraçando-o. Bruno gira minha mãe no ar, fazendo todos nós rirmos. É uma cena linda e cômica ao mesmo tempo. – Vem, filha, precisamos começar a pensar no quartinho dele. Ou dela! Ai, meu Deus, será que é uma menininha?! – Minha mãe me pega pelo braço e me arrasta pela casa.
Antes de segui-la, olho para Bruno, que sorri. Sorrio também, agora, sendo puxada escada acima pela minha mãe. E me sentindo muito, muito feliz.

...

- Pessoal... Pessoal... – Bruno diz, batendo um garfo na taça de champanhe.
Considerando que todos estão na área de lazer, há muito barulho e conversa, além de movimento. São alguns segundos até que todos consigam prestar atenção e os pais consigam tirar as crianças da piscina para ouvirem o que o "tio Bruno" tem a dizer.
É claro que todos aceitaram o convite de última hora para uma festa em casa, já que todos agora querem passar o máximo de tempo que conseguirem ao lado de Bruno. E é claro que Bruno fez questão de que fosse uma festa no mínimo incrível, com decoração, muita comida e bebida. Agora, eu e ele estamos à frente de todos para contar a novidade. Me sinto nervosa e ansiosa. Minhas mãos tremem enquanto não consigo parar de sorrir. Geronimo e Mel brincam na grama, o sol quente do dia deixando-os mais agitados ainda. Tahiti pisca para mim de onde está, assim como todas as outras irmãs. Dou um tchauzinho a elas, sorrindo.
- Bom, antes de mais nada, quero agradecer a presença de todos aqui. De alguma forma, vocês sempre conseguem encher minha casa. – Bruno diz e todos sorriem, assim como eu. Olho para meu pai, minha mãe e Gabriel, depois para Jaque e Brian, Liza, os meninos e suas esposas, namoradas, filhos, as irmãs de Bruno com seus maridos e filhos, o pai de Bruno e o pessoal de casa. Sinto que meu coração irá explodir. – Sabemos que ontem foi meu aniversário, e que, como a data importante que é, precisávamos comemorar de novo. – Os meninos vaiam Bruno, e rio, assim como todos os outros. – Mas, mais importante que isso, eu e Saphira estamos muito felizes, porque, bem... – Bruno pega em minha mão, e sorrio ainda mais, sentindo como se a ansiedade fosse me consumir. – Vocês estão aqui hoje não só para comemorarem meu aniversário, mas também porque temos uma novidade para contar, e que manteremos em segredo. Eu e Saphira confiamos em cada um aqui e pedimos confidencialidade.
Se todos já estavam prestando atenção, agora ela é redobrada. Alguns franzem as sobrancelhas, outros sorriem, os olhos grudados em nós e o silêncio instaurado. Parecem muito curiosos. Bruno olha para mim sorrindo, e sorrio de volta.
- Não sei a melhor forma de dizer isso, mas...
- ESTOU GRÁVIDA! – De repente, explodo, gritando, não conseguindo conter a ansiedade em mim. Quando digo essas palavras, sinto como se tirasse toneladas das costas. – Minha nossa, que alívio poder compartilhar isso... – Sussurro, suspirando. Todos ficam em silêncio, nos encarando. Então, sorrio, me recompondo, – Pessoal, eu e Bruno estamos esperando um... bebê.
Quando acabo de dizer isso, todos gritam, principalmente os meninos, que urram. Eles correm até Bruno e o pega nos braços, quase jogando-o no ar. Alguns estão com as mãos na boca, outros com ela escancarada e olhos arregalados. Rio enquanto Jaque corre até mim, já chorando e quase me derrubando no chão. São muitas reações ao mesmo tempo que não consigo acompanhar.
- Eu não entendi! O que aconteceu?! – Ouço, de repente, meu pai falando, o único aqui que não entende inglês e que não soube antes, como minha mãe. Ainda estou impressionada por ela ter guardado o segredo desde que meu pai chegou aqui. – Alguém pode me explicar?!
Me separo de Jaque e vou até ele. Minha mãe não consegue parar de chorar, e Gabriel continua com os olhos arregalados e a boca escancarada, obviamente nem ouvindo o que meu pai está dizendo. Chego até meu pai e o abraço.
- Filha, não entendi o que disseram... O que aconteceu?!
- Eu... – Sorrio, sentindo os olhos queimando. – Estou grávida, pai.
Meu pai arregala os olhos, olhando para mim. Depois, seus olhos também começam a lacrimejar.
- Meu Deus... – É o que ele diz, depois, me abraça forte e beija o topo de minha cabeça.
No momento, me sinto a pessoa mais feliz e mais sortuda desse mundo. Amada, protegida. Olho para Bruno, para os meninos ainda gritando, todos parecendo surpresos e também felizes. Penso que, mais importante que qualquer outra coisa, agora eu tenho Bruno de volta. Sem câncer. Sem crises. Só o meu Bruno. E nosso filho. Comigo, pra sempre. Não consigo medir o tamanho da minha felicidade.


Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora