Capítulo 25

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Boa Leitura

Safira

Burra, burra, burra, você é uma burra Safira!

Me xinguei por tantas horas naquele dia enquanto enfiava meu rosto no travesseiro. Eu sabia que algo estava errado, sentia isso a cada ação tomada, a cada releitura do plano e ajuste. Fui idiota demais por ter deixado tudo escrito no papel, eu sei disso e aceito de bom grado que me chamem de burra. Mas o pior de tudo é não ter escondido bem, se ao menos não tivesse desmaiado, talvez...conseguisse ter evitado que encontrasse esse maldito papel. Heitor passa menos tempo no quarto, se eu tivesse acordado jamais se ocuparia procurando por algo se sua esposa estiver bem. Tenho certeza que preferiria grudar em mim e gastar seu tempo me tocando do que vasculhar minhas coisas. E como saberia que ele logo procuraria na maquiagem? Jamais o vi mexer.

Se eu não tivesse desmaiado.
Se eu não tivesse escrito naquele papel.

Penso na medida que levanto do vaso depois de ter vomitado mais uma vez. Já se passaram um mês e meu estado é péssimo. Todos os dias, sempre pela manhã, libero tudo que comi do dia anterior. Limpo a boca e escovo os dentes enquanto miro no espelho cada um dos detalhes do meu rosto. Olheiras, lábios ressecados, pele pálida, olhos profundos e inchados. Suspiro cuspindo na pia a pasta e lavando minha boca mais uma vez.

Saindo do banheiro e me sentando na cama enquanto meus olhos recaiam na bandeja acima da mesinha de vidro - devem ter colocado aqui quando estava no banheiro - abro e uma expressão de nojo se forma em meu rosto. Seguro a ânsia e me afasto da mesa. Sei que o problema não é a refeição, Heitor pediu pra prepara tudo de bom para que eu possa me alimentar melhor, mas não sinto o sabor da comida e o cheiro é nojento. Sinceramente não sei se o sintoma é da gravidez, não posso pesquisar já que Heitor tirou o celular de mim. E jamais vou falar o quão mal estou me sentindo, isso faria ele grudar em mim ainda mais e francamente, estou com tanto ódio dele que até seu cheiro me irrita. Fora que, talvez já tenha percebido.

Falando em Heitor, pelo menos uma vez no dia vem me ver. Não dormimos mais juntos desde que descobriu que estou tendo muitos enjôo com sua presença, mas sempre vem me ver. Nos primeiros dias tentei puxar assunto sobre o remédio, mas nada foi dito, sempre mudando de assunto. Tudo o que sabe dizer é que devo me alimentar melhor, ficar agasalhada, o que é estranho pois o verão está se aproximando, e principalmente, não devo esquentar a cabeça e nem ficar pensando no aconteceu. Diz que todo o estresse é passado pro bebê. Tudo em sua volta se resume na minha saúde e no bebê. Sempre bebê, bebê e bebê.
Talvez seja por isso que eu não esteja tão alegre pela gravidez, seu modo superprotetor me irrita. Irrita só de entrar no quarto. Não consigo esconder minha expressões quando estou com ele, sei que já notou mas não reclama. Na verdade, não reclama de nada!

Não deixo de pensar no dia da festa, nunca o vi daquele forma tão ironicamente maldoso, seus olhos eram quase negros quando sorria e me tratava com carinho. Se sua expressão distorcida e séria já me causa medo, o de agora me deixou com medo triplicado. Não conhecer esse seu lado me deixou com medo tão grande que demorou um dia para que eu possa acreditar que realmente foi real.

Heitor consegue ser um maluco sorridente.

Por outro lado, depois de ficar trancafiada dentro desse quarto, passei a refletir nas ações de Heitor. Esconder e manipular tudo de uma forma tão normal. Não se importar nenhum pouco se eu sei ou não das coisas, pois sabe que não tenho poder pra nada, não tenho forças e muito menos capacidade pra fugir por conta própria, ainda mais grávida. Demorei pra entender isso e fui pensando na maneira como me têm na palma de sua mão. E então, as peças começaram a se encaixar quando notei que ele descobriu que eu estava ouvindo a conversa no escritório, não pelo papel, mas sim porque me conhece. Heitor desconfiou do meu jeito distante e como me afastava abruptamente de seus toques, para mim era inevitável, mas para uma pessoa que me conhece tão bem, é estranho. E só agora, refletindo e pensando em tudo, eu posso dizer:

OBEDEÇA-ME, SAFIRA! - Romance DarkOnde histórias criam vida. Descubra agora