Capítulo 4

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Cassie

Era madrugada. A sala estava mergulhada em um silêncio denso, apenas interrompido pelo tique-taque suave de um relógio distante. Eu estava sentada no sofá de Vini, sentindo o peso das broncas recentes pairando no ar. Ele permanecia de pé, os braços cruzados, me encarando com uma expressão que misturava preocupação e frustração após longos minutos de sermão.

Eu sabia que, aos olhos dele, tinha cruzado uma linha perigosa. Fiz exatamente o que o senhor Manson havia me advertido para não fazer.

- Perdão - comecei, minha voz fraca. - Eu pensei que seria mais uma noite comum naquela boate.

Vini soltou uma risada seca, sem humor. Seus dedos deslizaram sobre o rosto, esfregando as têmporas, como se tentasse organizar seus pensamentos ou afastar a frustração crescente.

- Está de brincadeira, Cassie? Você saiu de madrugada para trabalhar numa boate com um cara que mal conhecia?

Eu desviei o olhar, incapaz de sustentar seu olhar crítico. - Eu o conhecia há vários meses, Vini. Não pensei que ele... - As palavras morreram na minha garganta, e engoli em seco, sentindo a pressão de suas palavras me esmagando.

- Pois é! Meu pai disse que a mulher está bem, mas... e se fosse você? Se fosse sequestrada e... abusada? - Ele passou as mãos pelos cabelos, agitado. - Porra, Cassie! Pensa!

A irritação em sua voz fez meu estômago revirar.

Eu me levantei do sofá, sentindo o calor da raiva subir pelo meu corpo, misturado à culpa que me sufocava.

- Como eu iria adivinhar que a boate onde eu trabalhava há meses era fachada para uma rede de tráfico humano nos subsolos? - Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, carregada de frustração.

Vini me observou, surpreso pelo meu tom, mas permaneceu em silêncio. Eu me aproximei dele, o olhar firme, tentando esconder a vulnerabilidade por trás da minha raiva.

- Eu sou pobre, Vini. Fodida. Preciso de dinheiro. E o único que me ofereceu uma renda extra foi aquele desgraçado doentio.

Ele ficou quieto por um momento, parecendo processar minhas palavras. Finalmente, suspirou e quebrou o silêncio com um tom mais calmo. - Por que você não me disse antes que trabalhava naquela boate?

Eu desviei o olhar, incapaz de encará-lo naquele momento. - Não achei necessário contar...

- Não achou necessário? - Ele cruzou os braços, o olhar ainda incrédulo. - Você trabalhava mesmo só como garçonete?

Me virei rapidamente, a raiva borbulhando novamente. - O que está insinuando com isso?

- Eu só fiz uma pergunta - ele disse, levantando as mãos como quem não queria começar outra discussão.

- Sim, Vini. Somente como garçonete - respondi, tentando acabar com aquela conversa.

O silêncio entre nós voltou, pesado. Vini suspirou e se sentou no sofá, passando as mãos pelos cabelos. Sua expressão era confusa, mas havia algo mais lá... uma preocupação genuína.

- Eu só tenho medo de te perder, Cassie. Me desculpe... Eu sei que o dinheiro que você ganha não é o suficiente. Mas se eu soubesse que você estava se submetendo a isso... eu teria ajudado... Eu deveria ter ajudado.

Um sorriso suave se formou no meu rosto, e eu dei um passo à frente, envolvendo-o em um abraço. - Chega de tristeza, ok? Eu estou bem, e é isso que importa.

Ele sorriu e retribuiu o abraço, apertando-me de leve.

- Sim... Mas, convenhamos, você foi bem burra de sair assim sabendo que está sendo perseguida.

A Maldição De WesterfairOnde histórias criam vida. Descubra agora