Capítulo 54

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Pietro

- Ahh! - May gritava em agonia, tentando trazer Cassie, a filha de Fylanor, ao mundo. Os médicos estavam em volta dela, fazendo o possível para tornar o parto menos insuportável.

- Respira fundo, May! Ela está quase lá! - uma das médicas tentava acalmá-la, enquanto o caos se desenrolava.

- Argh! Eu não consigo, caralho! - o desespero se agarrava a cada palavra que ela gritava.

A cena era um desastre total. Os cabelos de May estavam completamente bagunçados, e ela suava tanto que, honestamente, eu torcia para que Cassie escorregasse logo para fora, como se a própria gravidade estivesse a nosso favor.

- Claro que consegue, força! - insistiu a médica.

Eu achava que tinha um estômago forte para tudo, mas ver uma mulher dar à luz era outra história. Eu sabia que era doloroso, mas não imaginava esse nível de sofrimento.

Por um breve momento, quase senti a dor na base da minha barriga. Sim, foi uma péssima ideia estar aqui.

Enquanto eu me perdia nesses pensamentos, o som do choro de um bebê me trouxe de volta à realidade. Olhei novamente para May, agora sorrindo, segurando sua filha recém-nascida nos braços.

Cassie...

- Oi, meu amor... - ela riu, incrédula ao encarar o pequeno ser em seus braços. - Você é tão linda!

Ergui a sobrancelha, aproximando-me da bebê, cujo rostinho inchado e avermelhado ainda estava marcado pela luta de nascer. Ela chorava sem parar, e May tentava cantar uma canção de ninar, mas sem muito sucesso.

Os médicos me lançaram olhares confusos quando enfiei o rosto entre May e a criança, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

May, é claro, me repreendeu com o seu olhar. Porém, dei de ombros e não me importei.

- Parece um joelho com um rosto - murmurei.

Alguma coisa naquela cena me incomodava profundamente. Ver May segurando aquele bebê loiro despertou uma lembrança vaga, algo que estava lá, mas não se deixava alcançar.

- O senhor é o marido dela? - perguntou a mesma médica, desconfiada.

Respirei fundo, sabendo que a mentira que eu estava prestes a contar seria talvez a maior da minha vida.

- Sim.

Confesso que foi preciso uma força sobre-humana para não vomitar ali mesmo.

Eu odiava a May.

A pequena Cassie tentou abrir os olhos, lutando contra a luz branca da sala. Dei uma risadinha ao observar o esforço adorável. Estendi meu dedo indicador até sua mão, e ela o agarrou com seus minúsculos dedos.

No instante em que senti seu toque, algo aconteceu. Uma conexão. As batidas do meu coração saíram de ritmo por um momento.

Ou, talvez, fosse mais do que isso. Algo foi restabelecido.

Cassie me parecia familiar de uma forma inexplicável. E eu me odiava por não conseguir me lembrar de nada.

Sofria com isso diariamente, mas, no fim, o que importava mesmo era minha missão.

- Bem-vinda ao inferno, coelhinha.

Alguns anos depois

Eu cuidei de Cassie do meu jeito. Com o tempo, May começou a perder o interesse em ser mãe, empurrando tudo para mim.

Claro, eu impus meus limites e desapareci por alguns anos.

Eu tinha coisas mais importantes para fazer do que cuidar de uma adulta.

A Maldição De WesterfairOnde histórias criam vida. Descubra agora