5 ▪︎ Dois lados

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Uma semana depois...

Montserrat

    Já estava bem familiarizada com o meu trabalho. Fazia uma semana que comecei e tenho me sentido tão bem. Alina me ajudou muito em me dar apoio e conselhos. Também me ajudou em questões de roupas. Ela foi no shopping comigo e me comprou vestimentas mais adequadas. Isso foi um empréstimo. Quando eu recebesse, devolveria para ela. Ainda continuo no abrigo. Como não tenho dinheiro, não tenho como alugar um apartamento. Mas Alina me mostrou alguns que são bem aconchegantes e baratos, aqui mesmo no centro. Não eram luxuosos, grandes ou caríssimos. Achei um que me encantou à primeira vista. Ele tinha o modelo das arquiteturas medievais da região, aconchegante e já mobiliado. Era tão simples, mas tão elegante. Tinha tudo o que eu quis. Um lugar bom para morar. Nunca me imaginei estando em um desses e se eu ficasse com ele, me sentiria muito realizada. Pena que eu ainda não poderia alugar. O apartamento estava vazio e venho rezando para Deus para que ele possa me deixar ficar lá.

     Eu estava no andar debaixo, na ala de designe gráfico, imprimindo uns documentos para Vladimir. Esse homem é tão intenso e sério que já até o apelidei: Doutor Pedra. Isso casa certinho. Ele não mede as palavras, é sempre tão seguro de si. Severo e exigente. Em uma mínima falha que ele vê, é um grande motivo para dar sermões. Ainda bem que só o desagradei duas vezes. Percebi que se eu continuasse assim, ele me despediria. Então tratei de seguir rigorosamente suas regras. Sempre tenho que estar a sua disposição. Já fiz duas horas extras, ficando quase a madrugada toda acordada e ainda dormindo na empresa. Mas a comissão que eu irei receber por isso será muito bem-vinda. Seria uma renda extra que daria para comprar mais coisas que eu precisasse.

     O senhor Bathory não é muito aberto a conversas. Não sei nada sobre sua vida pessoal e quando fui pesquisar na Internet, não havia nada. Apenas sobre a empresa, mas nada sobre o dono. Isso me deixou mais curiosa. Ele era tão misterioso que conseguia até se esconder dos holofotes, já que ele era um grande empresário da Romênia. Suas ações, falas, jeito de olhar, expressões, são tão enigmáticos que parece que estou falando com um ser de outro mundo. Ele era muito bom em nos deixar imersos nas suas palavras, e sua voz grave e rouca, era tão suave e persuasiva. Às vezes sentia como se ele me hipnotizasse e me deixasse fora de mim. Me via perdida nos seus olhos de cada cor e me preguntava: "O que está havendo?" Mas isso não passa de coisa da minha cabeça, tenho certeza. Acho que me fascinei demais pela sua beleza rara e só me pego o admirando. Isso é algo que eu não posso negar. Apenas admiração sinto por ele. E seu jeito de se portar me deixa encantada. Ele era tão elegante, sutil, harmonioso. Nunca vira alguém de tamanha compostura.

     Pego os papeis já impressos, a xícara de café e subo para a presidência. Estávamos terminando de ver alguns conceitos de arquitetura sobre o novo hotel em Dubai. Já estávamos acabando e confesso que gostei muito de trabalhar como se eu fosse uma arquiteta. Estudar como as culturas dos países se misturariam, também me encheu de emoção.

     Abri a porta e adentrei, me sentando no sofá e lhe entregando os papéis.

     — Os relatórios que o senhor pediu.

     — Obrigado.

     Peguei meu tablet e comecei a revisar a sua agenda para amanhã.

      — Senhor — chamei-lhe atenção —, amanhã, sábado, terá de ir a um evento de um dos seus sócios daqui de Bucareste. Será um baile de comemoração do novo shopping que eles inauguraram. O senhor comparecerá?

     — Sim, eu investi nesse projeto e também estou incluso. Você virá comigo, como minha acompanhante.

     Fiquei estática ao ouvir isso. Lhe olhei de cenho levemente franzido, absorvendo sua fala. Seu semblante estoico ao mexer no tablet, mostrava que estava certo disso.

Império - Trono de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora