Império - Trono de Sangue

52 ▪︎ Império daquele a quem o trono pertence

Vladimir

Era a coroação. Observava-me no espelho, vestido naquele traje medieval negro, o sobretudo em detalhes dourados, a capa moldando minhas vestes. O dia chegou. Em meio a tanta turbulência eu finalmente serei o rei vampiro. Isso a custo de quê? Realmente valeu a pena? Quase perdi minha esposa grávida. Quase perdi a mim mesmo. Quase perdi meus pais. Os sacrificados foram meus queridos aliados, que em nenhum momento me abandonaram. Tive que matar o rei. Tive que mostrar meu lado sombrio para receber respeito.

— Sua cabeça não para.

Montserrat. Minha dama.

— Tenho que avaliar. Entender onde estou e como cheguei aqui.

Ela olhou meu reflexo no espelho.

— Você é tão belo. Sua aparência surreal engana até as mais experientes mulheres. Mas só aquelas que conhecem seu verdadeiro ser ficam ao seu lado. Porque elas temem quando conhecem as suas trevas.

Virei-me e observei seu rosto. Tinha um sorriso fascinante. Que me seduzia. Ela era mais fatal que eu.

— Você foi a única que conheceu minhas trevas e me aceitou. Ficou ao meu lado e me amou. Não me abandonou e provou que eu era capaz de ser alguém melhor. Eu devo tudo a você. Entende quem é mais perigoso aqui?

Ela soltou um riso contagiante.

— Dizem que uma mulher fere mais que mil homens. O que seria de vocês sem nós?

— Não seríamos nada. Mas o que seriam de vocês sem nós?

Ela riu de lado.

— Não seríamos nada.

Me puxou pelo sobretudo e me deu um beijo. Que explorou minha boca em uma fervorosa dança. Era insaciável. Mais e mais eu queria. Irresistível.

— Temos que ir. Estão aguardando no salão para a cerimônia.

Ela estava bela. Num vestido longo prateado. Seus cabelos lisos, bem alinhados. Seus rosto não tão angelical como antes, mas agora tão fatal. Aquele inocência de antes pareceu sumir. Sei que agora entende a dimensão da responsabilidade e entende o que é ser vampira. O vampirismo corrompe qualquer um.

— Não é que deixei de ser inocente, amor. Só estou mais cautelosa. Aliás, não decidi se devo ser a arquimaga. Pois estarei num patamar mais alto que Merlin e ele seria meu braço direito na Terra-Mágica. É muita responsabilidade assumir sete reinos.

Os sete reinos do Mundo Mágico. Ou Terra-Mágica, como Mordred gosta de chamar. De fato são diversas culturas e diversos seres. É uma enorme responsabilidade.

Seu pensamento vem ao meu e imediatamente a interrompo.

— Nem pense nisso. Com muito custo aceitei ser o rei vampiro. Não quero ser o rei dos sete reinos.

Comandar os sete reinos...

— Se eu aceitar, automaticamente você será o rei. Não tem para onde fugir.

Ergui uma sobrancelha, irônico.

— Então aceite mais que o título de rainha consorte. Me ajude nas decisões

Ela estava resistente em ser rainha vampira. Não queria nenhuma responsabilidade.

— Gostaria de me dedicar somente a Eveline. Sinto que assumir tudo isso vai me tirar tempo.

Aproximei e toquei seu ventre. Eu tinha uma ligação especial com a minha filha.

— Eveline sempre será nossa prioridade. Independente de tudo. Não se preocupe com nada. Se nos ajudarmos, vamos conseguir conciliar as coisas. Eu te ajudo na Terra-Mágica e você me ajuda com os vampiros.