25 ▪︎ Hostis in conspectu

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Vladimir

Tinha que manter Montserrat afastada e segura até o baile. Estou sob a mira do rei, bruxos me cercam. Pareço pisar em um fino vidro. Todos os meus passos têm que ser calculados.

Revisando papéis, lendo relatórios e analisando gráficos, não é suficiente para me entreter. Minha cabeça da voltas e voltas no assunto do rei. Penso que a qualquer hora vá surgir um ataque. E os bruxos. Não sei o que querem. Parece que estou em uma encruzilhada.

Deixo de lado um papel e levanto da cadeira. Encho um copo com uísque e vejo a vista através da janela. Céus, quanta preocupação em minha cabeça. Acho que vou enlouquecer. Ouço batidas na porta.

— Senhor Bathory, o senhor Malthus quer falar com você.

Mayra fala da porta.

— Deixe-o entrar.

Ordenei, sem dar atenção à mulher. Logo senti a presença dele.

— Aceita um copo de uísque também, Lorde Malthus?

— Sim, filho. Devemos conversar.

Fui até a garrafa e lhe servir um copo. Sentei na poltrona em frente a ele.

— Também está preocupado — afirmei. — Sei que estamos em uma situação delicada, porém resolverei isso.

— O que menos quero é colocar sua mãe ou sua noiva em risco. Não quero que elas sofram.

— E não vão. Eu garanto.

De repente, senti o ar mudar. Ficar mais pesado e com uma forte energia.

— O que é isso? — meu pai também percebeu.

Levantamos e ficamos procurando, com nossos sentidos aguçados, a origem da energia. Percebi que vinha do estacionamento. Nos direcionamos para lá. No mesmo local onde estava a pichação. A faxineira havia limpado, mas novamente estava lá.

— Isso faz pouco tempo. Vamos ver se ainda estão ao redor — disse meu pai.

Saímos da empresa e procuramos pela rua. Várias pessoas andavam pela calçada. Bruxos eram humanos também, a diferença era que fediam à magia. Procurei dentre todos aqueles humanos, observando minuciosamente. Olhei para o outro lado da rua e vi uma mulher que chamou a atenção. Me olhava diretamente nos olhos. Tinha negros cabelos lisos e longos. Olhos acinzentados, com contorno negro. Usava um vestido que lembrava antigamente. Sorriu de lado, e quando fui para atravessar a rua, sumiu dentre as pessoas que passavam, não senti mais sua presença.

— Não. Nem sinal de nenhum deles.

Meu pai chegou próximo a mim.

— Acho que encontrei uma — falei, ainda suspeitando.

— Reconheceu?

— Nunca a vi na vida. Mas certamente sabe quem sou. Já é a segunda que vejo. Vi também uma anciã.

— Filho, isso é muito estranho. — Olhou ao redor, desconfiado. — Vem. Vamos voltar para o escritório.

Subimos de volta. Tentava me manter calmo e racional.

— São inimigos completamente diferentes, tenho certeza. Então devemos lidar cautelosamente. Temos que descobrir o que querem.

Meu pai estava muito preocupado. Sem mais concentração para trabalhar, peguei minhas coisas e fui com ele para casa. Compartilharia com Lorenzo também.

Entramos no escritório da mansão para conversarmos melhor.

— A situação é preocupante. Parece uma forma de aviso. Eles sabem exatamente quem são vocês — disse Lorenzo.

— Eis o problema. Todos no mundo sobrenatural sabem quem somos. O que nos torna alvos fáceis — conversou meu pai.

— Faltam três semanas para o baile. Isso é prioridade no momento. Façamos com a máxima segurança para não recebermos um ataque e colocar em risco quem não tem nada a ver. Não estenderemos muito — falei.

— Concordo — diz meu pai.

Não vou deixar ninguém se interpor entre nós. Protegerei minha família com todas as garras.


★★★

— Olá, filho. Posso conversar com você?

Minha mãe me chama da porta da varanda. Estava lendo o jornal, tomando café.

— Sim, mãe. Aproxime-se.

Sentou-se no sofá do lado.

— Filho, estive observando e pensando, percebi que você está prestes a tomar uma importante decisão em sua vida. Sei que sofreu com Morgana, mas creio que será feliz com Montserrat.

Ela suspira e olha para o lado.

— Lembro de quando ainda era um garoto. Desde tão novo já era tão inteligente, tão forte. Nunca precisou de mim ou seu pai para se proteger. Sempre foi tão responsável e rigoroso.

— Mãe...

— Deixe-me! — ergueu a mão, me interrompendo. — Vlad, tudo o que quero para você é a felicidade. Espero que ao lado de Montserrat, que é uma jovem tão doce, você a encontre. Morgana é seu passado, querido. Espero que a supere.

Levantou e sentou na cadeira ao meu lado.

— Por que isso de repente?

— Apenas quero dizer o que sinto. — Olhou em meus olhos. — Aqui. Quero te dar isso.

Deu-me uma caixinha de veludo. A abri e vi o anel de diamante.

— É meu. Seu pai me deu quando noivamos. É único no mundo. Isso simboliza o amor de seu pai por mim. Agora quero que ele simbolize o seu amor por Montserrat. Dê a ela no dia do baile.

Envolvi ela em um abraço aconchegante.

— Eu te amo muito, meu filho. Prezo o melhor para você.

Não falei nada. Porém, refleti. Sobre o quanto meus pais me acolhiam e minha noiva também. Será que eu merecia? Mesmo eu sendo o vampiro impiedoso que sou? De todas as formas, do meu jeito, retribuo esse carinho prezando pela segurança deles.

Império - Trono de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora