39 ▪︎ Desentendimento

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Montserrat

Olhei ao redor, Vladimir não estava. Os raios de sol entravam e indicavam o início do dia. Desnuda, desço da cama e vou ao banheiro. Não tem uma noite que não seja perfeita. Amo estar ao lado dele. De senti-lo. E é bom saber que é recíproco.

Tomo meu banho e ponho o vestido.

— Trouxe para você.

Levei um susto ao ouvir sua voz atrás de mim. Me viro com a mão no peito.

— Ai, que susto me deu!

Ele estava com uma bandeja nas mãos, a pousou em cima da cama. Fui até ele.

— Fecha aqui — me virei de costas para ele fechar o zíper.

Sentei na cama e ele também. Tomei um pouco do café e comi o pão.

— Quando for vampira não precisará mais tomar isso.

Parei o caminho da xícara até minha boca. O olhei compreensiva.

— Vlad, já falamos sobre isso. Eu disse que não desejo. Sei que parece egoísmo da minha parte — olhei em seus olhos — e eu odiaria te deixar, mas eu... não conseguiria.

Ele suspirou e olhou para frente. Parecia... chateado.

— Sim. Você morreria, eu ficaria sozinho e sofrendo.

— Olhe por outro ângulo. Se eu me for, poderá encontrar alguém e...

Parei de falar quando me encarou com aqueles olhos. Aqueles olhos que somente mostrava quando estava com raiva. Era da cor do sangue. Eram obscuros. Me afastei mais pela influência que seu poder também causava. Uma névoa negra se espalhou pelo quarto. Sentia sua aura tensa como nunca.

— Como ousa falar isso para mim? — sua voz era sombria e acuadora. — Vejo que é mais estúpida do que aparenta!

Suas palavras eram duras. Ele me causava medo.

— Vlad, o que...?! Você está me assustando.

Pareceu a primeira vez quando o vi dessa forma. Pavor. Ele me transmitia pavor.

Rápido, fechou os olhos e tudo recuou. Sua aura, seu poder, a névoa. Pressionou os dedos nos olhos. Parecia se controlar.

— Desculpe, é que... esse assunto me estressa.

— Então por que toca nele? — dessa vez era eu quem estava com raiva.

— Temos que falar disso, Montserrat.

— Não, não temos. — Levantei, exaltada. — Eu já falei minha decisão e você ainda insiste em me persuadir. Por que não me entende?

— Você não entende. Nunca entenderá. Por que quem morrerá será você. É fácil, não é? Quando não se arca com o peso da dor.

— Vlad, você é assim. Quer sempre controlar tudo e todos ao seu redor, como se os outros não tivessem livre arbítrio. Não somos suas máquinas, Vlad. Temos direito de escolher. Eu tenho.

— Não se trata disso — ele parecia amargurado. — É além disso, é além do meu egoísmo, é muito mais que um capricho meu, é... — parou e olhou para o chão, com o olhar perdido — o meu sentimento.

Cruzei os braços. Seus sentimentos? Não pude acreditar.

— Acha que pode usar isso para me convencer? Seus sentimentos? Fala sério, Vladimir! Não sei se notou, mas você é o homem mais insensível que conheço, não venha me falar de sentimentos!

Ele levantou. Bastante sério. Ficou perante mim.

— Você é tão tola, tão ingênua, que não sabe do que realmente estou falando. Não sabe nada sobre meu mundo, não sabe nada sobre a nossa ligação. Só pensa que pode viver seus sessenta anos ao meu lado e achar que tudo ficará bem depois disso, mas digo, não ficará. Você não faz ideia, Montserrat, do que sua morte causará. Não faz.

Império - Trono de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora