Montserrat
Era tão solitário aqui. Alina estava no abrigo, Vladimir longe e eu sem ter o que fazer. Ainda era de tarde, então resolvi sair e dar um passeio no parque. Ando pela calçada vendo as pessoas em sua calmaria. Passeando pelas lojas e vendo os monumentos. Estava bastante frio nesta tarde. Atravessei a rua e andei pela praça.
No início imaginei que eu e Vladimir não era para ser, mas no final nos aceitamos e deu tudo certo. Confesso que temi. Mas ele tem se mostrado tão carinhoso e prestativo. Parece não fazer do feitio dele. Creio que se esforça para me agradar. Me entender. Gosto de sua atitude em sempre me querer o bem. Embora seja mau, não lhe falta a compostura para lidar com as coisas. Sempre tão sábio, rígido e rigoroso. Espero acompanhar o seu ritmo.
Paro um pouco e sento no banco. Observo ao redor, vendo as famílias interagirem. Era tão bonito. E pensar que jamais tive isso. Um pai, uma mãe ou irmãos. Madre Guadalupe foi minha protetora por muito tempo, mas aos dezoito anos tive que sair do orfanato, infelizmente. Tudo nessa vida tem um propósito. Saí de Madrid para encontrar meu destino em Bucareste. Assim como a madre disse. E hoje não sinto que me falta nada. Sinto-me... bem.
Distraída em meus pensamentos, quando foco o olhar do outro lado da praça, observo uma mulher que me chamou a atenção, ou melhor, a velha com bengala. Agora isso parece perseguição. Levantei do banco e fiquei observando. Quem de fato era aquela mulher? Sorria sádica. Ela estava me rondando, tinha algum propósito. Mas qual? Devo imediatamente informar Vladimir. Pode ser que seja do castelo de seu rei vampiro. Melhor evitar riscos.
Volto para casa, agora preocupada. Aqui eu estava segura, mas não queria ter que sair na rua como se fugisse de alguém, ou com medo. Quero viver em paz. Pego o telefone e ligo para Vladimir. Caixa postal. Tento de novo e de novo e de novo, mas não atendeu. Deve estar ocupado, de certo. Acho melhor eu ficar aqui e não sair mais, até estar completamente segura.
Vladimir
A terceira vez só essa semana. Isso já está me irritando. O que essas malditas bruxas querem?
Já é tarde da noite. Saio do estacionamento e volto para o escritório. A empresa estava vazia, estava apenas eu e o segurança. Sento-me e começo a revisar os papéis. Anotei em uma folha essas runas. Quando chegasse em casa eu pesquisaria. Embora eu sempre tenha êxito na empresa, nunca deixo trabalho pendente. E pelo visto, hoje, não irei retornar para casa.
Dou uma pausa no trabalho e pego o telefone. Vejo que há cinco chamadas de Montserrat perdidas e uma mensagem: "Vlad, me ligue. Tenho algo para te falar."
Isso me fez ficar em alerta. Retornei a ligação, mas ela não atendeu. Certamente já estava dormindo. Então deixei para ligar pela manhã. Desci para o andar da copa. Fiz um café e me servi. Um dos poucos vícios humanos que me satisfaz. Quando fui para voltar, ouvi um barulho.
— Olá? — chamei.
Vinha do banheiro. Um cheiro forte de sangue subiu. Fui conferir e me deparei com uma jovem morta. Andei até ela e constei que estava sem vida. Sem expressão ou reação em meu rosto, olhei para a parede...
— "Pagará por tudo o que fez! Ass.: R."
Não senti nenhuma energia ou presença. Quem quer que tenha feito isso, foi uma pessoa diferente. Já que a caligrafia diferia das que escreveram as runas no estacionamento. Alguém consegue sair e entrar na minha empresa sem mais nem menos. Pois isso mudará. Encostei a mão na parede e concentrei meu poder. Coloquei o mesmo escudo que há no apartamento de Montserrat. Qualquer sobrenatural que se aproximar será impedido, a não ser que eu autorize. Não quero correr o risco de me expor por causa de meus inimigos. E esse tentou fazer exatamente isso ao matar essa jovem.
Retornei para o escritório. Manipulei a mente do segurança e o fiz limpar a cena do crime. Me desfiz do corpo da jovem, tornando ele em pó. Apaguei as câmeras de segurança. Manipulei um jornal e a polícia para que justificassem essa morte. Enfim, voltei para casa. Quase amanhecia. Subi para meu quarto e tomei um banho, tentando fazer com que meu corpo relaxasse. Coloquei apenas um roupão e deitei. Peguei a caixinha de veludo da gaveta do móvel de cama e olhei o anel. Não vejo a hora de ficar ao seu lado e finalmente me livrar do feitiço de Morgana. Embora ela não queira ser vampira, ainda sim tenho esperanças de que mude de ideia.
Ouço batidas na porta e dou permissão para entrar.
— Olá, filho. Ouvi você chegar.
Meu pai entra e senta na cama.
— Desculpe se lhe despertei, pai.
— Não tem problema. Mas sinto na sua aura uma energia negativa. Filho, aconteceu mais alguma coisa?
Não sei se falaria ou ocultaria. Mas acho que não devo enchê-lo de preocupação.
— Não, nada. O de sempre. Esses bruxos ainda rondam a empresa. Coloquei um escudo e não terei mais esse problema. É bom proteger a mansão também.
— Tudo bem. Eu me encarrego disso. — Me olhou. — Então, boa noite, filho.
Olho para o anel e antes de ele sair, pergunto:
— Pai, o que sentiu quando deu este anel para mamãe? Ficou receoso? Preocupado por causa de Elizabeth?
Ele tornou a sentar.
— Quando dei este anel para sua mãe, tive a convicção de que estava fazendo o certo. De que era isso o que eu tinha que fazer. Minha obrigação. Sua mãe, desde que a conheci, foi a luz que iluminou meu caminho. Pensei que ficaria sozinho por causa do massacre da minha família, mas ela veio e me deu outra que preencheu todas as lacunas. Se ainda tem dúvidas, filho, no momento em que olhar para sua noiva e colocar esse anel em seu dedo, todas elas cessarão. Tenha certeza disso.
Olhei para ele e acenei. Se retirou e me deixou refletindo. Tenho certeza que é com Montserrat que devo ficar.
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Império - Trono de Sangue
Vampiros"Nunca imaginei que minha vida fosse mudar tanto. Da água para o vinho. Pois, foi quando ELE apareceu... Aquele vampiro que me fez temer e pensar que eu não viveria mais. Sua aura hipnótica fazia-me vê-lo como o pior monstro. Suas ações e maldades e...