47 ▪︎ Lua vermelha

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Vladimir

Ofegante, olhei Morgana.

— Você é desprezível. Maldito seja o dia em que te conheci. Vou te exterminar, Morgana. Você não vai prosperar.

— Se eu fosse você eu não teria tanta certeza. Me diga como fará? Sei que é inteligente, mas não ao ponto de descobrir como salvá-la — me olhou obscura — a tempo.

— O que quer dizer?

— Ora — olhou para as unhas —, enquanto possuo o corpo de Montserrat, consumo sua vitalidade também. Aos poucos, bem lentamente, sinto ela morrer. Sua voz, hum — fez cara de satisfação —, tão desesperada, gritando, me implorando para sair. Sua força sendo passada para mim. Sua vida sendo minha!

— Maldita usurpadora!

Avancei nela, dessa vez cego. A angústia me consumia. E o fato da nossa ligação está cortada me deixava desesperado. Eu não sentia Montserrat, não me comunicava com ela. Era como... Era como se estivesse morta.

Dei um soco contido em seu abdômen, ainda estava lúcido para não machucar Montserrat. Peguei-a por trás e a imobilizei. Morgana movimentou uma espada e a fez fincar no meu abdômen. Empurrei seu corpo evitando que pegasse nela.

— Vê? Não consegue ao menos lutar sem se importar com ela. — Retirei a espada. — O que houve, Vladimir? Cadê a sua crueldade? Cadê aquele homem que destruiu reinos e reis?

— Ele morreu assim que sua maldição foi quebrada de mim. Montserrat o matou e me libertou daquela tirania. Seus planos nunca deram certo e nunca darão.

Ela fez uma corrente vir até mim e me prender. Fiquei com os braços colados ao corpo. Morgana se aproximou.

— Não vou conseguir fazer nada sem o cajado de Merlin. Preciso dele para tirar o seu poder. Aaah, finalmente vou poder reinar sobre as raças e o Mundo Mágico sem que ninguém se oponha. Quando eu retirar o seu poder e me apossar dos poderes de Montserrat, vou conseguir dominar TUDO. HAHAHA!

Olhei de olhos estreitados. Então era esse seu plano. Uma idealização de alguém sem escrúpulos e inalcançável ambição.

Com minha força arrebentei as correntes e rápido rodeei minha mão em seu pescoço. Apertei para que não saísse. Ergui ela do chão, que ficou sem fôlego e se esperneando. Minha força era superior, mas ela ganhava na magia. Estava sufocando. Seus olhos com sangue negro estavam revirando. Foi quando vi ficarem castanhos novamente e sua voz suavemente falar...

— Vlad... Vlad...

Era Montserrat. A soltei imediatamente e a segurei em meus braços. Ela tossiu agoniada. Me olhou com os olhos marejados.

— Me ajude. Me ajude, Vlad. Ela está me... matando... — falou chorando.

Abracei seu corpo quente.

— Eu sei, meu amor. Eu vou te salvar.

Ela me olhou e me beijou.

— Eu amo você. — Seus olhos transmitiam dor, que eu também sentia. — Nunca se esqueça disso.

Me envolveu novamente. Era tão bom senti-la, abraçá-la, beijá-la. Era minha. Eu tinha que resgatá-la. Tinha que dar um jeito...

Repentinamente, senti uma adaga perfurar meu coração. E uma gargalhada no meu ouvido.

Agora, Morgana em posse de Montserrat, me olhava com seus olhos negros novamente.

— Oh, o poder do amor. Como me foi útil. HAHAHA! Tolo! Como você é tolo, Vladimir. — Fincou mais a adaga. — Esse é o seu momento de dizer adeus. Não importa como, mas vou tirar seu poder do seu cadáver. — Fincou mais. Eu segurava seu pulso. Sentia meu corpo mais pesado, eu estava de joelhos. — Últimas palavras?

Ela levantou e ficou perante mim. Tentei retirar a adaga, mas ela não se movia. Estranho.

— Apenas eu posso retirá-la. Ela reconhece só a mim, por conta da minha magia. Agora — do seu dedo, uma chama negra ascendeu —, algo a dizer antes da sua derrota?

Não! Eu não podia definhar. Eu não podia morrer. Se eu morresse, ela venceria, Montserrat morreria, meus pais também e o Mundo Mágico estaria perdido. Merlin não lutaria contra ela, a Mãe Natureza seria destruída. O que faço? O que devo fazer?

Eu estava desnorteado. Olhando-a com expressão incrédula. E olhos... marejados...

Não me obrigue a fazer isso! Não me obrigue a fazer isso!

    Não...

        Não...

— NÃAAO!

Gritei quando ela avançou. Fiquei inerte. Com pavor transmitido pelos meus olhos. Com a adaga perfurando cada vez mais, se assomando ao aperto que eminentemente foi imediato. Eu senti. Senti aquela dor. Aquela terrível dor. Senti quando tive que atravessar minha mão em seu peito e arrancar seu coração.

— Vladimir, você... foi... capaz...? — Morgana disse cuspindo sangue.

Olhei em seus olhos com dor nos meus. Devagar pousei seu corpo no solo. Com o coração de Montserrat nas minhas mãos. Pela magia, Morgana ainda resistia e sentia aos poucos Montserrat morrer.

— Você... Que estupidez... — ela me olhava com pavor. — Ela... Ela... — cuspiu mais sangue. — Ela... está... grávida.

Eco! Foi o que ouvi.

— O... O quê?!... Morgana!... — minha voz era embargada.

Seus olhos negros deram lugar aos castanhos e sua alma saiu gritando e se dissipando. Sinal de que definitivamente se foi. Agora eu via Montserrat. Sua expressão de dor. Sua respiração acelerada. Sua vida se esvaindo.

— Vlad, o que... o que aconteceu? Eu não enxergo nada. Vlad!...

— Montserrat... — minha voz saiu num sussurro.

Não. Não vou deixar. Rápido, dei meu sangue a ela e bebi do seu.

Espero que dê certo.

Espero que ela...

— Montserrat? — sacudi seu corpo ao ver seus olhos vidrados. — Montserrat? — ela não me respondia. — Montserrat, me responda!

Retirei a adaga do meu peito. A peguei e aproximei seu corpo ao meu. Olhei seus olhos... sem vida... Não. Não. Não. NÃO!

Lágrimas rolavam involuntariamente. Eu balançava seu corpo ao meu em uma forma de acalentá-la. Uma dor em meu peito, um gosto amargo na boca, meus pensamentos confusos. Fúria, angústia, tristeza, mágoa, amargura. Dor. Muita dor. Tremor pelo corpo, visão vermelha. Presas saindo. Minha aura se expandindo. Meu poder se revelando.

— NÃAAAAAAAAAO!

O grito doído saído do fundo da minha alma, junto do meu poder do Caos saindo das minhas veias e afetando toda a área ao meu redor. Deixando tudo destruído e o céu em completa escuridão.

— VÃO PAGAR! TODOS VÃO PAGAR PELA MORTE DE MINHA AMADA. NINGUÉM SAIRÁ VIVO. TODOS VIVERÃO O LUTO COMIGO!

Minha voz, junto com a voz monstruosa, saía de minhas cordas vocais. Minha mente vazia. Escuridão. Era assim que eu enxergava.

Olhando para frente, balanço o cadáver de minha amada em meu colo. Uma chuva cai. Não de água, mas sim de sangue. Olho para o céu, a lua vermelha. Meu poder afetou a natureza desse lugar. Olho ao redor, estou em uma piscina de sangue. Montserrat banhada por ele. E eu também.

Todos irão morrer! Ninguém sairá vivo! Todos morrerão junto de Montserrat e de meu filho que estava em seu ventre.

Levanto e vejo os muitos vilarejo que o Mundo Mágico tem. Sem nenhum pouco de consciência, completamente ensandecido, deixo o corpo de minha amada e com toda a fúria avanço neles.




Império - Trono de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora