30 ▪︎ Discussão

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Montserrat

Saí do banheiro ainda chateada. Coloquei um roupão e fui dobrar algumas roupas de cima da cama. Escutei a porta se abrir e fechar.

— Montserrat...

— Vladimir, agora não.

— Precisamos conversar.

Me virei.

— Para quê? Você me insultar? Eu não preciso disso, Vlad.

— Eu não queria ser rude com você. É que...

— Chega!

Falei de cabeça baixa. Já não aguentava mais e deixei as lágrimas rolarem.

— Eu sei que não pareço ser boa o suficiente para estar ao seu lado, ser forte igual a você ou como Morgana foi, mas saiba que estou me esforçando. Eu quero, Vladimir, o seu bem. Quero que esteja bem. — Funguei. — Você acha que é invencível, mas basta chegar alguém com uma estaca e fogo que você vira pó em minutos. E quem vai ficar sofrendo aqui por você será nós. Deixa de ser egoísta, deixa de pensar que você pode resolver tudo, você não é Deus, Vladimir, é só um homem! — Meu choro era alto. Ele só me observava, com uma expressão neutra. — Pense nos que te amam. Não cometa imprudências, não aja sozinho, pois você não está!

Me sentei na cama de cabeça baixa e chorando muito. Minhas emoções estavam afloradas. Talvez por causa da ligação.

— Eu amo você, droga! — Ele se agachou perante mim e se apoiou em meus joelhos. — Tudo o que quero — insinuei tocar em seu rosto, mas não fiz — é ver... você bem. Eu não suportaria — olhei suas íris preta e azul e tive certeza de que o queria com toda a minha alma — ...te perder...

Chorei mais. Nada ele disse. Apenas passou a mão em minha perna.

— Você está livre agora, Vlad. Não tem mais magia de Morgana te prendendo. Permita-se sentir emoções. Permita-se... amar. — Levantei. — Desculpe, mas quero ficar sozinha.

Saí do quarto e fui para a varanda. Sentei na rede armada, vendo o céu estrelado, chorei mais por toda essa situação que parece não ter fim. Eu só quero viver em paz.

Vladimir

Estava sentado na cama, refletindo sobre essa discussão. Acabamos de ficar noivos e o que fazemos? Brigamos. Não suportei vê-la assim. Ainda mais por minha culpa. Sou tolo? Não medi as palavras e saí mais grosseiro do que gostaria. De fato a magia de Morgana se foi. Estou livre. Isso colaborou para elevar meus sentimentos. Sentimentos que jamais senti. O que é isso que sinto agora? Seria arrependimento?

— Filho?

Meu pai me chama da soleira da porta.

— Entre.

Estava de cabeça baixa, apoiando os antebraços nos joelhos, olhando uma blusa de Montserrat. Deixando seu aroma entrar em minhas narinas. Meu pai sentou-se na poltrona da frente.

— Não devo me meter na discussão de vocês, mas digo que deve recapacitar, filho. É tão inteligente, sábio, por que age como se não soubesse de nada?

Suspiro fundo.

— Ela... me confunde? Montserrat me faz questionar tudo e todos. — Finalmente o observo. — Desde quando chegou na minha vida tem sido um caos, pai. Enlouqueço pensando que algo possa lhe acontecer. Que ela possa se machucar. Não suporto saber que existem pessoas querendo nosso mal e que ela será a mais afetada por ser mais fraca. Quero vê-la bem. Apenas isso.

— Eu sei, filho. É uma grande responsabilidade. Mas tem que saber lidar com ela. Se você é rude, entenda que ela é tão delicada quanto uma flor. Se a pegar bruscamente, vai machucar suas pétalas. Sua ligação está completa. Agora seus sentimentos estão interligados de forma intensa aos dela. Tem que saber controlar isso. Tem que saber frear suas emoções. Senão vão acabar se machucando. — Ele suspirou. — Vá vê-la. Converse com ela, peça perdão. Você errou. Está chorando na varanda. — Levantou. — Eu conheço o filho que tenho. Você é um cavalheiro, sabe muito bem tratar uma dama.

Deu um sorriso compreensível e saiu. Meu pai poderia ser até mais sábio do que eu às vezes. Sempre tão paciente, calmo, leve. Nada o abalava ou o deixava instável. Era sempre tão otimista e carinhoso. O total oposto de mim. Creio que eu tenha herdado o gênio ruim de minha tia. Elizabeth provou que estaria entre nós nas gerações depois de sua morte.

Ele tem razão. Devo pedir perdão. Por mais que não seja do meu feitio fazer tal ato, contudo, se trata da minha dama de ouro. Vou até a varanda. Da soleira da porta, a vejo sentada na rede olhando para o céu que estava bastante estrelado. Sento ao seu lado. Empurro a rede de leve.

— Hoje foi uma noite de muitas emoções — disse. Seu rosto estava vermelho. Suas lágrimas secas. — Isso é consequência?

— Foi erro meu. Eu admito. Me perdoe, Montserrat. Eu — não sabia ao certo se meus sentimentos estavam corretos para dizer "eu te amo" — ...vou tentar te entender. Sei que fui grosseiro. Que te magoei. Jamais me ouvirá falar assim outra vez.

Ela pegou minha mão, ainda olhando para o céu.

— Ah, Vlad. Às vezes temos que nos pôr no lugar do outro para entender. Também errei. Por segundos senti sua angústia e entendi seu ponto de vista. De um jeito bruto você quer me proteger. Mesmo assassinando e estripando quem quer que me machuque. Aliás, já até o fez. Mas digo que há formas de resolver um problema de forma mais pacífica e delicada. Nem sempre precisamos de brutalidade. Converse comigo, desabafe, me conte o que sente. Não sou sua psicóloga, sou sua companheira, sinto o que você sente. E ninguém melhor do que eu para te entender. — Olhou em meus olhos. — Se acha que sou incapaz de me envolver por ser humana, desabafe comigo e me deixe que te ajude pelo menos moralmente. Não me deixe de lado, Vlad, eu te peço!

Seu jeito delicado é o que me faz parar e pensar de que devo reavaliar meus conceitos de resolver os problemas. Minha vida não é a de antes e eu preciso entender isso. Ela está aqui agora.

— Eu prometo a você que não ocultarei nada. — Beijei sua mão. — Você chegou para ficar e não vai até que a morte nos separe.

Ela segurou meu rosto e acariciou.

— Você é tão lindo. Meu belo e lindo rei. Eu amo você.

Com necessidade insaciável, beijei seus lábios ferozmente, sentindo seu gosto. Abracei sua cintura a trazendo mais para mim. Explorava sua boca com todo ardor e urgência. Mordisquei seu lábio, finalizando.

— Eh, isso sela nossas desculpas.

Falou com sua testa colada na minha.

— Sim.

— Vamos deitar? Estou exausta.

— Claro.

Nos ajeitamos na rede. Ela se aninhou em meus braços. Quase não cabia aqui, mas dei um jeito. Ela dormiu em meu peito e eu fiquei contemplando o céu estrelado.











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