48 ▪︎ O vampiro que não sabia amar

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Vladimir

Eu estava ensandecido, cego. Com uma dor insuportável no peito. Não acredito! Não acredito que ela me deixou. Fúria, amargura, ódio. Não fui capaz de protegê-la, não fui capaz de evitar sua morte.

Eu não via nada, apenas matava sem me importar, sem misericórdia ou pena. Esse mundo vai saber quem eu sou. Vai conhecer a minha fúria. Irei descontar em todos. Usava meu poder de forma desordenada, o lançando para todos os cantos. Incendiava casas, pessoas. E depois as empalava para que agonizassem.

Meus olhos vermelhos, minhas presas perfurando os pescoços, minhas garras estripando os corpos. A lua vermelha e a chuva de sangue. Era o ambiente perfeito para extravasar a minha dor. Era dilacerante, insuportável, inquietante. Eu não suportava. Eu não me controlava. Morte, morte e mais morte. A minha amada está nos braços dela e todos logo também estarão.

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Na cidade de Valáquia onde ficava o maior vilarejo daquela antiga Romênia, o vampiro louco, genocida, amargurado e furioso fazia um estrago. Não poupando crianças, idosos, homens ou mulheres. Destruindo as casas, incendiando as ruas, empalando as pessoas e as deixando agonizar. Vladimir Bathory sofria pela perda daquela mulher que lhe jurou amar e que sempre ficou ao seu lado. Mas se reprimia e se culpava por não poder protegê-la. Ele queria morrer com ela. As palavras de Morgana veio à tona: "Você não soube me amar". Dessa vez, imaginava Montserrat lhe recitando.

"Eu não soube te amar", repetiu a si.

Sem pena ou misericórdia assassinava o povo. Lágrimas de sangue escorria por seu rosto. Deu um longo salto e foi para o alto de um castelo. Sua feição estava irreconhecível. Ele parecia um monstro. Aquele grito grave que saiu do fundo de seu ser fez aquela aldeia estremecer, apavorando ainda mais os vivos. Aquele vampiro, que agora buscava por morte, pulou e retomou sua matança. Ninguém escaparia de suas garras.

Nas Fossas Malignas, no vale, onde estava pousado o corpo de Montserrat sobre a poça de sangue, algo inimaginável acontecia. Estava relacionado ao sobrenatural, ao vampirismo. Ninguém nunca imaginara, nem mesmo Lorde Vladimir, que algo assim pudesse acontecer.

Iam se aproximando Merlin e Adaara. O mago chegou perto do corpo da rainha e com pesar falou:

— Estamos perdidos. O rei está cego pela perda. Não há nada que possamos fazer.

— Está enganado, mago.

Merlin e Adaara viraram-se para a voz feminina. Aquele espírito que possuiu o corpo de uma mulher que tinha por volta dos cinquenta anos, que morreu na gripe espanhola, há séculos atrás. Seu nome era Alina. A Mãe Natureza reanimou o corpo e o usou. Ela sempre soube de Montserrat, de sua chegada da Espanha até Romênia. Desde seu nascimento, quando a escolheu como rainha, deixou que Montserrat seguisse seu destino, sem muita intervenção. A Mãe Natureza tinha que ficar ao seu lado para observar de perto o curso que ela levaria. E de praxe observava Lorde Vladimir, através do corpo de sua secretária. Mayra. Apenas para saber quem eram seus escolhidos. Ninguém fugia dos olhos atentos do espírito. Agora que tudo já se encaixou, ela deve agir.

— Mãe Natureza, qual foi o erro? Isso devia acontecer? — perguntou Merlin.

— A natureza nunca erra, Merlin. Tudo foi como devia ser. Sempre soube que Morgana voltaria. Ela era ambiciosa demais para ter desistido tão fácil, eu admiro a coragem da feiticeira, mas o que lhe restou no final?

O corpo de Alina foi tomando um brilho branco reluzente até fazer um clarão, revelando a verdadeira face da Mãe Natureza. Um belo espírito com aparência de mulher. Asas de fada; um vestido branco longo e brilhoso; cabelos brancos presos e sutileza em cada gesto. Borboletas enfeitavam o enorme manto. Várias fadinhas estavam ao seu redor.

Império - Trono de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora