31 ▪︎ Ameaça por correspondência

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Vladimir

Revisando papéis, lendo arquivos, vendo gráficos, fico tão atarefado que não percebo que o dia já acabou. Ouço Mayra bater na porta.

— Senhor, os senhores Lorenzo e Enrico solicitam uma reunião. Os deixo entrar?

— Sim — ordenei, ainda olhando os papéis.

Logo senti os dois entrarem.

— Atrapalhamos? — Lorenzo perguntou.

— Não. Sentem-se no sofá, por favor.

Fechei o computador e me juntei a eles, sentando na poltrona. Desabotoei um botão do blazer e cruzei as pernas, olhando-os atentamente.

— Sim?

— Vladimir, bom, viemos sob a ordem do rei — disse Lorenzo. — Ele se inteirou de que estamos em estada em sua casa e mandou que lhe disséssemos.

— Ele disse que lhe aguarda na reunião de sábado para resolver definitivamente sua situação. Dreux disse que cortou a ligação de soberano-servo com você. Por isso não ouve mais a convocação real através da egrégora. Você e seus pais — explicou Enrico.

Pela primeira vez comecei a rir com tamanho insulto. Isso só pode ser piada. Os dois me olham assustados. Certamente nunca me viram nesse estado.

— Perdão — me recomponho —, mas esse rei está brincando com fogo. Como ele pode simplesmente me cortar da corte e me excluir como se eu fosse um mero transformado? — agora eu estava sério e sombrio. — Dreux tem noção do que está fazendo?

— Tampouco concordamos com a atitude dele, lorde. Mas ele é o rei. Dependemos dele — diz Lorenzo.

— Porém isso acaba quando ele põe nossa integridade em risco — insinuou Enrico. — Temos o direito de eleger um novo rei, quando este não assume suas responsabilidades e coloca em risco sua raça. Vocês conhecem as regras.

— E quem vocês elegeriam?

Ambos me olham.

— Você é o mais indicado, Lorde Bathory — disse Enrico.

Se ele ao menos soubesse que o trono pertence a mim por direito, ficaria espantado. Mas não. Agora não é hora de assumir.

— Então sábado finalmente saberei o que ele quer. E se de fato está envolvido com as bruxas.

Falei certo de que o faria se arrepender.

Escutei meu celular tocar em cima da mesa. Levantei e atendi.

— Montserrat, o que houve?

Desculpe incomodar. Está muito ocupado?

Olhei no relógio e vi que eram seis horas.

— Logo irei para casa. O que houve?

Nada. Só uma coisa que precisa de sua avaliação. Venha logo. Estamos esperando por vocês. Sei que Lorenzo e Enrico estão aí. É bom que estejamos todos juntos.

Sentia receio em sua voz.

— Até mais.

Desliguei. Me virei para os lordes.

— Aconteceu algo. Querem que retornemos.

— Sim. Vamos — Enrico concordou.

O motorista nos deixou na mansão e pronto o dispensei. Os Barone e Castellanos estavam hospedados em minha casa depois do baile. Ficariam até o casamento que seria daqui a três meses.

Entramos e todos nos aguardavam no hall, sentados nos sofás.

— Chegamos.

— Que bom, filho — disse meu pai.

Sentei na poltrona de frente para eles. Lorenzo e Enrico sentaram-se com suas famílias, respectivamente.

— O que aconteceu? — perguntei.

Montserrat levantou e me entregou um envelope.

— Encontrei isso quando fui buscar as correspondências — falou e voltou a se sentar.

Vi o brasão marcado pelo sinete no lacre da cera vermelha e reconheci. Reisinger. Abri e li:

               "Lorde Vladimir Jankovics Bathory, por meio desta carta lhe advirto que seus dias estão contados. Ao matar Laura provou que é digno da forca e que não merece o sangue puro que carrega nas veias. Sua traição foi maior que qualquer rebelião que os vampiros presenciaram. Jamais um original matou a outro por um humano. Seu pecado será pago com sua morte e daqueles que estão ao seu redor. Prepare-se, pois seus dias estão por vir. Laura será vingada.

Assinado,
Octavio Reisinger."

Sem expressão alguma em meu semblante, lendo a carta impassível, estoico e inexpressivo, entendi o que aconteceu no banheiro de minha empresa. Foram eles. R de Reisinger.

— Compreensível. Eu faria o mesmo no lugar deles — falei, calmo. — Lana e Octavio Reisinger estão indignados pela morte precoce e abrupta da filha. Mas Laura teve o que mereceu e em nenhum momento me arrependo.

— Deixe-me ler, filho.

Passei a carta para meu pai. Cada um deles leram.

— Acha que os Reisinger podem estar sendo manipulados pelo rei? — indagou Melina.

— Não. Acho que não — disse Enrico com a mão no queixo. — O rei não seria tão óbvio assim.

— E se for ele, foi uma ameaça muito direta e perigosa — aleguei. — Os Reisinger estão cegos pela vingança, acredito que fizeram por conta própria, sem que Dreux saiba.

— De todo modo, devemos ficar atentos em todos os lados agora — disse meu pai. — O rei, os Reisinger, os bruxos, estão atrás de nós. Temos que estar prevenidos.

Como se não bastasse todo o resto. E são todos com propósito diferente. Certamente devo ter feito muitas maldades para ser perseguido e odiado. Mas se fiz, foi porque tive minhas razões.

— Lordes, conversemos em particular no escritório. Não vamos perturbar as damas com assuntos impertinentes — falei, levantando e caminhando.

Sentei na poltrona do escritório e eles nos sofás.

— Vladimir, independente do que aconteça sábado, saiba que os Castellanos ficarão ao seu lado. Não estou de acordo com o rei — disse Enrico.

— Conte comigo e com Melina também — ofereceu Lorenzo.

— E se — iniciou Benjamin — de fato os soberanos estejam usando os Reisinger? Como na guerra fria, a batalha do Vietnam. Eles podem estar os usando como subalternos para atacarem você indiretamente, Lorde Vladimir.

— É uma analogia discrepante, mas talvez você tenha razão — falei. — Do rei espero qualquer coisa. Deve estar usando os Reisinger, se aproveitando de sua raiva por mim. Mas se ele é sábio realmente saberá que isso não basta.

— Seu ódio por você não é de hoje, Vladimir — disse Enrico. — Ele sempre lhe vigiou com medo de suas atitudes.

— Pela sucessão ele foi o próximo a assumir da hierarquia. E se ele morrer o general, que é seu irmão, assume. Se quisermos que qualquer outro original assuma, todos devemos fazer uma rebelião — afirmou Lorenzo.

— Não nos precipitemos. Irei analisar a situação e dizer o que vai acontecer. Se ele aparentar ser inofensivo, não tem porquê tirá-lo. Caso contrário, eu mesmo o mato — eu disse, convicto.

Essas ameaças não me assustam, pelo contrário, me motiva a matar quem quer que seja. Ninguém chega na minha vida e me diz o que fazer. Se o rei, os Reisinger ou os bruxos pensam que podem me derrotar, estão muito enganados.











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