Vladimir
Revisando papéis, lendo arquivos, vendo gráficos, fico tão atarefado que não percebo que o dia já acabou. Ouço Mayra bater na porta.
— Senhor, os senhores Lorenzo e Enrico solicitam uma reunião. Os deixo entrar?
— Sim — ordenei, ainda olhando os papéis.
Logo senti os dois entrarem.
— Atrapalhamos? — Lorenzo perguntou.
— Não. Sentem-se no sofá, por favor.
Fechei o computador e me juntei a eles, sentando na poltrona. Desabotoei um botão do blazer e cruzei as pernas, olhando-os atentamente.
— Sim?
— Vladimir, bom, viemos sob a ordem do rei — disse Lorenzo. — Ele se inteirou de que estamos em estada em sua casa e mandou que lhe disséssemos.
— Ele disse que lhe aguarda na reunião de sábado para resolver definitivamente sua situação. Dreux disse que cortou a ligação de soberano-servo com você. Por isso não ouve mais a convocação real através da egrégora. Você e seus pais — explicou Enrico.
Pela primeira vez comecei a rir com tamanho insulto. Isso só pode ser piada. Os dois me olham assustados. Certamente nunca me viram nesse estado.
— Perdão — me recomponho —, mas esse rei está brincando com fogo. Como ele pode simplesmente me cortar da corte e me excluir como se eu fosse um mero transformado? — agora eu estava sério e sombrio. — Dreux tem noção do que está fazendo?
— Tampouco concordamos com a atitude dele, lorde. Mas ele é o rei. Dependemos dele — diz Lorenzo.
— Porém isso acaba quando ele põe nossa integridade em risco — insinuou Enrico. — Temos o direito de eleger um novo rei, quando este não assume suas responsabilidades e coloca em risco sua raça. Vocês conhecem as regras.
— E quem vocês elegeriam?
Ambos me olham.
— Você é o mais indicado, Lorde Bathory — disse Enrico.
Se ele ao menos soubesse que o trono pertence a mim por direito, ficaria espantado. Mas não. Agora não é hora de assumir.
— Então sábado finalmente saberei o que ele quer. E se de fato está envolvido com as bruxas.
Falei certo de que o faria se arrepender.
Escutei meu celular tocar em cima da mesa. Levantei e atendi.
— Montserrat, o que houve?
— Desculpe incomodar. Está muito ocupado?
Olhei no relógio e vi que eram seis horas.
— Logo irei para casa. O que houve?
— Nada. Só uma coisa que precisa de sua avaliação. Venha logo. Estamos esperando por vocês. Sei que Lorenzo e Enrico estão aí. É bom que estejamos todos juntos.
Sentia receio em sua voz.
— Até mais.
Desliguei. Me virei para os lordes.
— Aconteceu algo. Querem que retornemos.
— Sim. Vamos — Enrico concordou.
O motorista nos deixou na mansão e pronto o dispensei. Os Barone e Castellanos estavam hospedados em minha casa depois do baile. Ficariam até o casamento que seria daqui a três meses.
Entramos e todos nos aguardavam no hall, sentados nos sofás.
— Chegamos.
— Que bom, filho — disse meu pai.
Sentei na poltrona de frente para eles. Lorenzo e Enrico sentaram-se com suas famílias, respectivamente.
— O que aconteceu? — perguntei.
Montserrat levantou e me entregou um envelope.
— Encontrei isso quando fui buscar as correspondências — falou e voltou a se sentar.
Vi o brasão marcado pelo sinete no lacre da cera vermelha e reconheci. Reisinger. Abri e li:
"Lorde Vladimir Jankovics Bathory, por meio desta carta lhe advirto que seus dias estão contados. Ao matar Laura provou que é digno da forca e que não merece o sangue puro que carrega nas veias. Sua traição foi maior que qualquer rebelião que os vampiros presenciaram. Jamais um original matou a outro por um humano. Seu pecado será pago com sua morte e daqueles que estão ao seu redor. Prepare-se, pois seus dias estão por vir. Laura será vingada.
Assinado,
Octavio Reisinger."Sem expressão alguma em meu semblante, lendo a carta impassível, estoico e inexpressivo, entendi o que aconteceu no banheiro de minha empresa. Foram eles. R de Reisinger.
— Compreensível. Eu faria o mesmo no lugar deles — falei, calmo. — Lana e Octavio Reisinger estão indignados pela morte precoce e abrupta da filha. Mas Laura teve o que mereceu e em nenhum momento me arrependo.
— Deixe-me ler, filho.
Passei a carta para meu pai. Cada um deles leram.
— Acha que os Reisinger podem estar sendo manipulados pelo rei? — indagou Melina.
— Não. Acho que não — disse Enrico com a mão no queixo. — O rei não seria tão óbvio assim.
— E se for ele, foi uma ameaça muito direta e perigosa — aleguei. — Os Reisinger estão cegos pela vingança, acredito que fizeram por conta própria, sem que Dreux saiba.
— De todo modo, devemos ficar atentos em todos os lados agora — disse meu pai. — O rei, os Reisinger, os bruxos, estão atrás de nós. Temos que estar prevenidos.
Como se não bastasse todo o resto. E são todos com propósito diferente. Certamente devo ter feito muitas maldades para ser perseguido e odiado. Mas se fiz, foi porque tive minhas razões.
— Lordes, conversemos em particular no escritório. Não vamos perturbar as damas com assuntos impertinentes — falei, levantando e caminhando.
Sentei na poltrona do escritório e eles nos sofás.
— Vladimir, independente do que aconteça sábado, saiba que os Castellanos ficarão ao seu lado. Não estou de acordo com o rei — disse Enrico.
— Conte comigo e com Melina também — ofereceu Lorenzo.
— E se — iniciou Benjamin — de fato os soberanos estejam usando os Reisinger? Como na guerra fria, a batalha do Vietnam. Eles podem estar os usando como subalternos para atacarem você indiretamente, Lorde Vladimir.
— É uma analogia discrepante, mas talvez você tenha razão — falei. — Do rei espero qualquer coisa. Deve estar usando os Reisinger, se aproveitando de sua raiva por mim. Mas se ele é sábio realmente saberá que isso não basta.
— Seu ódio por você não é de hoje, Vladimir — disse Enrico. — Ele sempre lhe vigiou com medo de suas atitudes.
— Pela sucessão ele foi o próximo a assumir da hierarquia. E se ele morrer o general, que é seu irmão, assume. Se quisermos que qualquer outro original assuma, todos devemos fazer uma rebelião — afirmou Lorenzo.
— Não nos precipitemos. Irei analisar a situação e dizer o que vai acontecer. Se ele aparentar ser inofensivo, não tem porquê tirá-lo. Caso contrário, eu mesmo o mato — eu disse, convicto.
Essas ameaças não me assustam, pelo contrário, me motiva a matar quem quer que seja. Ninguém chega na minha vida e me diz o que fazer. Se o rei, os Reisinger ou os bruxos pensam que podem me derrotar, estão muito enganados.
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Império - Trono de Sangue
Vampir"Nunca imaginei que minha vida fosse mudar tanto. Da água para o vinho. Pois, foi quando ELE apareceu... Aquele vampiro que me fez temer e pensar que eu não viveria mais. Sua aura hipnótica fazia-me vê-lo como o pior monstro. Suas ações e maldades e...