9 ▪︎ Retaliação

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Montserrat

      Seria de duas a três horas de viagem. Ainda sentia a adrenalina nas veias. Agora eu tinha outro problema: dinheiro. Nem cheguei a receber e eu só tinha o dinheiro que Vladimir me deu. Mas eu daria um jeito. Já aliviada por estar nos trilhos, deixei minha mala no bagageiro, peguei o tablet, fui ao banheiro para fazer xixi e ver os lugares de Targoviste. Passei dentre as poltronas e de soslaio, vi algumas pessoas me olhando. Três homens. Todos vestidos de preto e muitos suspeitos. Apenas passei rápido e me tranquei no banheiro, suspirando fundo. Abaixei a calça e fiz xixi. E só aí percebi o quanto ainda estava tensa. Isso deu uma aliviada. Dei descarga e fechei a tampa do vaso, me sentando em cima. Liguei o tablet, vendo os lugares mais acessíveis de Targoviste. Era uma cidade tranquila e pouco povoada. Como um interior.

      Já sabendo para onde eu iria, saí do banheiro aliviada e mais leve. Quando abri a porta do meu vagão, os três homens que vi, não estavam mais lá. Aproximei de minha poltrona e levei um susto ao ver minha mala aberta e minhas roupas rasgadas sobre ela. Um papel tinha. Com as mãos trêmulas, peguei e li:

      — "Não tem para onde fugir! Eu vou te encontrar onde quer que vá. Cavou sua cova ao burlar de mim, e seu noivo não está aqui para te proteger. Diga adeus a sua miserável vida, humanazinha."

       Derramei as lágrimas e o nervosismo se apossou de mim novamente. Olhei desesperada para os lados. Ninguém estava ali. Rápido, juntei minhas coisas e coloquei dentro da mala.

      "Me avise se ver algo de anormal."

      A voz de Vladimir ecoou na minha cabeça, mas não dei ouvidos. Resolveria isso sozinha.

      Deixei minha mala no canto. Saí do vagão em que estava, indo para o próximo. As pessoas estavam dormindo. Andei em silêncio. Com certeza tinha algum guarda por aqui, então entregaria o bilhete para ele. Passei mais um vagão, que certamente era a primeira classe, com cabines privativas. Passei onde parecia ser o vagão de alimentação. Mais a frente seria o último, teria que ter alguém. Porém, quando fui abrir a porta, estava trancada. Ótimo. O que eu faria agora?

       Caminhei de voltar para minha poltrona. Quando abro a porta, surpreendo-me vendo os três homens e Laura no meio deles olhando-me com seus olhos vermelhos e suas presas brilhantes.

       Fiquei ofegante e a adrenalina se despertou em mim. Como um alerta, deslizei a porta, fechando-a com tudo e correndo. Apenas corri e não atrevi a olhar para trás. Quando cheguei para tentar abrir a porta do vagão com as cabines, senti uma mão puxar o meu cabelo e me empurrar para trás com tudo. Bati minha cabeça. Um dos homens estava na minha frente, olhando-me como se fosse me devorar. Arrastei-me, na tentativa de fugir dele. Senti uma mão no meu pescoço e o outro homem me ergueu do chão, me jogando contra a porta do vagão com cabines e logo em seguida, vindo numa supervelocidade para cima de mim e me chutando na barriga. Cuspi e vi que era sangue. Chorei de medo e pela dor que eu sentia, acho que tinha algumas costelas quebradas. O homem saí da minha frente e Laura apareceu sorrindo sádica. Eu não podia gritar por ajuda, pois os passageiros estavam desacordados. Alguma coisa ela fez.

      — Ora, ora. Uma pobre e miserável humana tentando fugir. Que trágico.

      Ela olhou para o homem ao seu lado e ele entregou alguma coisa. Nesse momento breve de distração, reuni forças e levantei, indo rápido para cabine em minha frente e fechando a porta. Ouvi a risada medonha de Laura. Arrastei o frigobar, a mesa e uma poltrona na porta para bloquear a passagem. Ouvi os chutes deles tentando passar. Eu estava encurralada. Olhei ao redor. Pela janela sem chances de eu pular. Não tinha onde se esconder, nem como. Olhei para o teto e vi um duto de ar. Essa seria uma alternativa. Peguei um banquinho e subi tentando alcançar. Estava parafusado. Com o pouco de força que me restava, forcei a grade até se quebrar. A dor nas costelas não perdoava, mas eu tinha que sair daqui. Consegui arrebentar a grade, mas o seu ferro rompido me fez um corte na mão. Sangrava muito e me veio uma dor dilacerante.

Império - Trono de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora