Sofia narrando
Era por volta das oito e meia quando a mãe de Dove veio a buscar, não falamos sobre o beijo, nem sobre o contrato, muito menos sobre como seria tudo, mas uma coisa eu sabia, eu queria ela por perto, e aquele era o sentimento mais certo que já tive.
Olhar nos dela é como ver uma floresta em um dia de sol, o sol entrando pelas copas das árvores e iluminando tudo de uma forma delicada e profunda, profunda o bastante para atingir meu coração.
— Eu tenho que ir. — Dove me abraçou e suspirou. — Mas não quero ir.
— Então fica. — Sussurrei. — Vai logo, antes que a sua mãe me culpe. — Ri. — Até amanhã.
— Amanhã não tem gravação.
— Você vai ir na minha casa, e isso não é uma pergunta. — Beijei a bochecha dela e me afastei.
— Tchau. — Dove foi correndo para o carro da mãe e eu fui andar pelo salão.
Todos dançavam alegremente, meu último ano na escola, eu sentiria falta quando me formasse, não dos meus colegas, mas sim do lugar, é como ter o que esperar, ficamos ansiosos pelas férias e quando voltamos temos aquele frio na barriga de retorno, o doce conforto de saber que ali é onde você deveria estar. Mas e agora? Quando acabar o que vou fazer? Eu sei o que quero fazer, mas pensar que não terei mais a escola me dá medo.
É como se a vida estivesse segurando um enorme cartaz escrito "Você cresceu", sempre me perguntei se mudaria algo, o que realmente seria "crescer", mas a verdade é que não há grandes mudanças, e sim novas responsabilidades, não vou mudar minha personalidade, meu jeito, meu humor, apenas serei vista como alguém "responsável", o que é totalmente doido, porquê se tornar adulto não significa que você fará boas escolhas, que tem maturidade, por sorte meus pais sempre me ouviram, mesmo quando eu estava na fase rebelde da pré adolescência.
E por falar em responsabilidade, não acredito que tem uma cláusula descabida sobre relacionamento no contrato, eu deveria ter lido antes de assinar. Droga.
(...)Olhei as luzes do salão mais uma vez e decidi ir para casa, eu precisava pensar sobre algumas coisas, e com todo barulho que estava ali, eu não conseguiria.
— Oi filha. — A voz do meu pai me fez dar um pulo na porta. — Desculpe, não queria te assustar.
— Tudo bem pai, achei que fosse ir no cinema com a mamãe.
— Ela decidiu sair com as amigas, um dia das garotas, então fiquei aqui esperando você chegar, podemos conversar? — A expressão dele era calma, então eu não havia feito de nada de errado, eu acho.
— Claro, pode esperar eu trocar de roupa?
— Sim, vou te esperar aqui, não demore!
Fui para o quarto e tirei meu vestido, coloquei meu pijama e nem tirei a maquiagem, antes de voltar para a sala ouvi uma notificação chegar em meu celular.
"Obrigada por ter me chamado para o baile, eu amei" — Visualizei a mensagem e mandei um coração para Dove, em seguida fui para a sala onde meu pai ainda estava me esperando.
— Apareceu a margarida. — Riu e tirou os pés de cima do sofá. — Sente aqui ao lado do seu velho pai. — Gargalhou.
— Sobre o que quer conversar pai?
— Sobre você, o que anda sentindo, pensando, tudo. Eu conheço muito bem essa carinha, você está preocupada com algo.
— Eu estou pensando no contrato da emissora, já sentiu que estava com os olhos vendados e do nada a venda cai e aí o senhor se dá conta de que não sabe o que fazer? Tipo, achou que as coisas seriam mais fáceis mas não são tão fáceis assim. — Não sei se meu pai entenderia mas eu precisava desabafar.
— Isso não é sobre o programa né, acho que talvez seja sobre alguém de cabelo loiro e olhos verdes, não é? — As palavras de meu pai fizeram meus olhos arregalarem, como ele sabia? — Sua reação diz que sim hahahaha.
— N-Não, não é sobre a Dove. — Menti descaradamente.
— Sofia, não precisamos ter essa conversa se não quiser ou se não se sentir pronta, mas para mim não precisa esconder, eu conheço você.
Eu estava incrédula e confusa, não sei se tinha entendido direito, e se eu falar e for outra coisa, mas aquele dia no café da manhã ele estava diferente, e nos últimos dias estava falando sobre o amigo dele que tinha uma filha que gostava de garotas, e era óbvio que era mentira, meu pai só estava tentando saber sobre mim.
— Pai, não conta para mamãe ainda, por favor. — Foi tudo que consegui dizer antes da minha cabeça começar a doer, não havia planejado ter essa conversa com meu pai, não assim.
— Não se preocupe, não falarei, mas agora quero saber, você é BI? Porquê eu lembro que a senhorita era apaixonadinha pelo Nicholas.
— É pai. — Tive uma crise de riso e ele ficou sem entender nada. — Não pensei que fosse ser assim, achei que o senhor me faria um discurso dizendo que me ama. — Provoquei ele.
— Acho que não foi muito emocionante, mas foi sincero filha, obrigado por me contar, e você sabe que eu te amo. — Meu pai me deu um abraço forte que com certeza falou mais que mil palavras. — Mas antes de você falar que eu sou o melhor pai do mundo, quero te dizer que eu sei sobre o contrato, e garanto que sua mãe só não te avisou porquê realmente não sabia, você não precisa sair contando para todo mundo, mas acho que para ela deveria contar.
— Contarei, mas, eu tenho medo, e se ela me ver diferente? Não quero que a mamãe mude comigo. — Senti um aperto no coração, eu queria contar para minha mãe, não tinha medo dela me rejeitar ou algo assim, mas a possibilidade dela mudar comigo me doía o peito, li alguns relatos na internet de pessoas que se assumiram para os pais e que mesmo eles "aceitando", algo mudou, houve distanciamento e uma certa frieza.
— O mundo lá fora é muitas vezes maldoso, preconceituoso, eles usam de argumentos tão sem noção para poder despejar o preconceito deles filha, não é fácil, apesar de muita coisa ter mudado, ainda há muito a se fazer, então eu te garanto que aqui dentro, nada, absolutamente nada vai mudar, você é nossa filha, é uma pessoa incrível, e te amamos muito, sua mãe só vai ficar preocupada, porquê existe muita violência, intolerância, mas você não está sozinha.
Senti meus olhos ficarem marejados e um conforto no coração, meu pai está certo, eu não estou sozinha.
— Eu te amo muito pai, o senhor é o melhor pai do mundo. — O abracei.
— Eu te amo muito filha, e de fato, sou mesmo.
Ficamos ali conversando até minha mãe chegar, contei para ele sobre como a Dove já gostava de mim, e como tudo aconteceu, meu pai me ouvia atentamente com um sorriso no rosto, e com um olhar que dizia "eu sempre estarei aqui".
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Até o próximo 🦋💖🦋
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Até você voltar
Fanfiction🦋 Dizem que o amor supera tudo, e que por uma paixão se deve sim arriscar. Mas até onde uma mentira bem contada pode nos levar?🦋 • Uma Fanfic Dofia. Livro 1 da trilogia. ■Plágio é crime!!