🦋Capítulo 50🦋

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Dove narrando

Sempre evitei pensar na morte, mas há certos momentos da vida em que ficamos diante dela, não precisa ser necessariamente com nós mesmos, e são nesses instantes, nessas ocasiões banhadas de medo que percebemos o quão frágil a vida é.

O quão lento podem se tornar os segundos? Em fração de segundos visitei meu passado com certa violência, como se as lembranças pudessem me atingir como socos.

Por um instante lembrei do dia da morte do meu pai, e o quão doloroso foi saber que ele havia partido, principalmente sem ter conseguido se aceitar, ser ele mesmo.

E então bum, de repente estou ali, vendo Sofia chamar meu nome e por quase a fração de um segundo eu sinto raiva dela, do que ela fez, da mentira, mas então o destino brinca e sangue é derramado, a voz do Nicholas ecoa em meus ouvidos, um tom horrorizado.

O barulho de algo sendo arremessado faz meu coração doer, não era algo, era ela, Sofia, caída no chão, inconsciente.

Os carros parando, pessoas correndo, meu estômago embrulhando ao ver o sangue no chão, tudo passando diante dos meus olhos e eu simplesmente parada sem conseguir mover nenhum músculo.

Senti alguém puxar meu braço e finalmente lágrimas brotaram em meus olhos, como um choque de realidade.

— O que eu fiz? — Quase em um sussurro falei, minhas pernas cederam, por sorte havia uma cadeira por perto, sirenes de ambulância pareciam fazer meus ouvidos sangrarem, ergui meu rosto para ver quem estava ali comigo. — Mãe?

Minha mãe apenas me abraçou e me deixou chorar, eu não sei em qual momento ela chegou, o que viu, mas não importava, naquele momento ela era minha heroína, minha proteção.

Eu não tinha coragem de olhar para fora, então fixei meus olhos nas paredes da lanchonete, Sofia foi atropelada tentando falar comigo, se eu não fosse tão impulsiva...

Sofia não me abandone, eu te amo, Sofia me perdoe... Sofia, Sofia, Sofia, Sofia... preciso de você.

Meus pensamentos me torturavam enquanto minha covardia me impedia de agir.

— Já levaram ela, Nick foi junto. — A voz da Anne estava trêmula, não consegui responder, apenas levantei saindo sem rumo até porta.

Esteja bem Sofia, por favor...

— Filha, vamos pra casa, você precisa se acalmar, ela vai ficar bem. — Minha heroína então volta a se tornar a fria Bonnie, a prática, a que é objetiva, a que Miguel tornou assim e eu demorei tanto tempo para perceber.

— Eu quero ir ver ela, vamos para o hospital mãe! — Falei quase em tom de desespero. — Por favor!

— Dove... não vão deixar você ver ela agora, não adianta ir, mais tarde depois das gravações eu te levo.

Claro, as gravações, o dinheiro, é tudo sobre isso, no fim isso que importa.

Não, não é sobre isso, é sobre a Sofia, esteja bem, por favor...

— Mas mãe eu quero estar lá, por favor! — Tentei a convencer mesmo sabendo que no fundo seria em vão, afinal as obrigações devem vir em primeiro lugar segundo ela.

— Vamos para casa, Dove! — Seu tom sério queria basicamente dizer "não adianta insistir".

As pessoas ainda estavam na rua, comentando, alguns contavam sua perspectiva do acidente como se fosse algo hilário, um monte de corvos apreciando uma tragédia.

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