Dove narrando
Cheguei cedo na emissora, nem o nosso diretor estava lá, depois de uma longa manhã cheia de provas e de intensas reclamações da Anne, eu teria ainda que convencer Sofia a fazer algo que provavelmente não quer.
Mesmo me convencendo de que será bom para ela também, ainda me sinto meio mal, como se eu estivesse querendo usar ela, talvez fosse melhor ser sincera e falar da situação da minha família de uma vez.
Sem tempo para pensar mais, senti duas mãos cobrirem meus olhos.
— Advinha quem é! — Não era algo difícil, o perfume anunciava que era ela, antes mesmo de ouvir sua voz.
— Uma tal de Sofia Carson, talvez? — Me virei em sua direção e recebi um beijo inesperado, sem saber como reagir me afastei rapidamente. — Aqui não dá, Sofia. — Forcei um sorriso lembrando da minha conversa com Miguel.
— Desculpa, é que só tinha você aqui. — Ela ajeitou o cabelo e sentou em uma poltrona. — Tá tudo bem? Parece nervosa, foi pelo beijo? Eu não faço mais.
— Não, é por outra coisa... você soube da proposta de termos um patrocinador? — Mordi o lábio em sinal de nervosismo.
— Sim, Rose Style, né? — Começou a brincar com a pulseira que usava, que combinava perfeitamente com a jardineira azul que vestia. — Eles estão nessa agora, de achar novos "talentos" moldar e expandir a marca deles.
— E o que acha disso?
— O contrato deles afeta diretamente até a obra dos artistas, tipo, só usar as roupas deles, ser a personalidade que eles criarem, as músicas no estilo que combine, claro que é tudo pensado para lucrar, mas eu não penso só nisso. — Sofia levantou e foi até um canto da sala onde ficavam nossas roupas de gravação. — O contrato com a Kids já é bem privativo, se a gente ir com a Rose também vai ser ainda mais rígido, eu li as cláusulas. — Enquanto pegava um vestido qualquer sua expressão se suavizava. — Eu não sei nem se vou renovar com o programa, imagina ser patrocinada por uma marca que segue os mesmos padrões deles.
Ouvindo as palavras me senti obrigada a pedir, eu sabia que ela não iria gostar, mas é a minha família que está em jogo, eu preciso ajudar, pelo menos tentar.
— Então não aceitaria? Nem se fosse para me ajudar? — Eu tinha certeza que iria me arrepender disso, da mesma forma que iria me arrepender se não pedisse.
— Te ajudar?
Expliquei toda a situação para ela, enquanto me ouvia seus olhos eram um misto de compreensão e incerteza.
Logo todo mundo chegou e fomos gravar, errei algumas tomadas mais do que o normal, não saber a resposta dela estava me agoniando.
Horas de gravações intensas, algumas pessoas que se inscreveram para participar. Meu coração acelerava enquanto meu sorriso tentava ser o mais convincente possível.
Nas pausas Sofia não falou nada, será que ficou ofendida com o pedido? Será que pareci egoísta?
(...)
Após algumas fotos finalmente fomos liberadas, soltei um suspiro de alívio que até o diretor notou.
— Tudo bem, Dove?
— Sim, são só as provas mesmo. — Menti.
— Se precisar de ajuda, pode falar conosco!
— Obrigada. — Apesar de saber que ele se importa apenas com o dinheiro, dessa vez pareceu realmente se importar.
— Eu estou muito feliz que você e a Sofia estão indo bem, o programa está salvando o emprego de muita gente aqui.
O diretor se afastou e na minha cabeça só ecoava "Mas que caralho", melhor eu nem falar isso para a Sofia, já basta ter despejado meus problemas nela a procura da solução.
(...)
— Cê pensou no que eu disse?
— Dove, eu não queria me prender em mais contratos, mas se for pra te ajudar, conta comigo. — Ela sorriu com um certo desânimo e eu senti meu peito apertar. — E bom, com a grana vou investir em um clipe, vai ser bom. — Segurou minha mão e tentou me animar, acho que era bem evidente minha expressão desanimada e culpada.
— Obrigada e me desculpa. — A abracei. — Faremos um contrato curto e logo tudo se resolve.
— Isso, então coloque um sorriso no seu rosto, as coisas vão se ajeitar na sua casa. — Sofia me encarou com ternura, seus olhos pareciam querer dizer tantas coisas, mas acho que uma delas é que realmente gosta de mim, eu sei que ser uma cantora famosa e lotar estádios é o grande sonho dela, mas ela estava arriscando por mim. Afinal, um mal direcionamento da marca poderia manchar muito a reputação dela. — Eu tenho que ir agora, eu combinei de sair com a Paulina, tchau. — Seu rosto se aproximou do meu mas logo se afastou, ela balançou a cabeça e saiu.
(...)
Enquanto esperava Miguel, comecei a cantarolar a música "Sofia" da Clairo, e a parte "Sofia você sabe que eu e você não deveríamos nos sentir como um crime" me fez pensar em tantas coisas.
Sempre achei que seria mais fácil, mas a verdade é que eu me aceitar e me entender não era o problema, em casa talvez não fosse também, mas pensar no fora, em como as pessoas iriam reagir me assustava.
Tantos casos de pessoas agredidas, outras querendo que o casamento homoafetivo fosse proibido, as questões religiosas, o preconceito no geral. Eu não tinha parado para pensar, mas me assusta não saber o que esperar, ou melhor, o que me assusta é já ter uma noção do que irei encontrar.
— Em que planeta está? — A voz de Miguel me faz dar um pulo.
— Você me assustou.
— Eu percebi, mas no que pensava? Só faltava sair fumaça da cabeça. — Riu indo rumo a porta. — Vamos?
— Na Sofia, ela topou.
— Isso é ótimo, então temos que comemorar!
— Não, não sei se é para tanto, não gostei de ter influenciado ela a fazer isso.
— Dove, pensa, você pode ser dar muito bem, já percebi que a Carson te olha de uma forma diferente, podemos usar isso a nosso favor.
As palavras dele me atingiram como um soco, eu fiquei sem reação, apenas me encolhi no banco do carro e fiquei em silêncio, não era possível que ele, não, agora entendo a Claire achar ele um babaca.
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Até o próximo 🦋 🦋 🦋
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Até você voltar
Fanfiction🦋 Dizem que o amor supera tudo, e que por uma paixão se deve sim arriscar. Mas até onde uma mentira bem contada pode nos levar?🦋 • Uma Fanfic Dofia. Livro 1 da trilogia. ■Plágio é crime!!