Meu dia hoje se resumiu em dormir, vomitar, comer, dormir e vomitar.
Até que ele resolveu me dar uma trégua, conseguir tomar um banho, e quando digo banho é lavar os cabelos que pareciam um ninho de passarinho e fazer uma hidratação.
Visto uma calça jeans com uma baby look preta, faço uma trança no cabelo e logo depois um coque, ponho o celular no bolso e desço para trabalhar.
Jorge vai saindo de trás do balcão e tia Luce também.
- Vou levar mamãe e descansar um pouco, amanhã tem feira.
Avisa, compramos produtos fresquinhos principalmente frutas, então ele toda terça, quinta e sábado vai a feira.
- Você me parece bem melhor hoje, está mais corada.
Toco as bochechas e faço uma careta quando ele rir.
- Ontem parecia pálida, cabeção, hoje vejo uma cor nesse rosto de alma penada.
- Vai se foder. Ele rir.
- Olha a boca mocinha. Titia repreende e faço cara de ofendida.
- Mas isso é música para seus ouvidos, quando se tem dois brutamontes dentro de casa, que só coçam o saco e falam besteira. Agora é ela quem rir e Jorge me dar um tapa na testa.
- Te orienta imunda que eu não vivo coçando o saco. Faço uma cara de Jura.
- Não o tempo todo.
- Ainda bem, o que seria dos nossos doces não é mesmo.
- Ridícula.
- Você me ama desse jeito. Ele beija minha testa e titia também.
- Fica bem Kaká. Ela fala e acaricia meu rosto.
E o movimento está a todo vapor, com as novas promoções e kits, estamos trabalhando o dobro.Felipe coloca uma bandeja com novos doces para colocar na vitrine.
- Kaká é a última. Avisa.
- Posso ouvir um amém. Ele rir.
- As três peças já estão prontas, com recheio.
- Pode deixar, já peguei o modelo, vou comprar o que falta amanhã e coloco minhas mãos nele.
- Isso aí chefinha. Faço uma careta e levo a bandeja.
Me inclino para arrumar os doces mas escuto quando abrem a porta.
E aviso que estou terminando e já vou atender.
Mas ninguém responde, será que foi coisa da minha cabeça, então levanto ela só para ter certeza que tem alguém mesmo ali.
A criatura do outro lado parece a visão do paraíso cheio de pecado.
Não vem com essa, de visão do paraíso se está pensando em devorar o que está vendo.
Ele me encara, com seus olhos castanhos, um brilho intenso, o cara é uma miragem.
Os cabelos meio bagunçados em cachos, o rosto delineado por uma barba, um porte elegante, vestido com um terno que deve custar o meu rim.
Ele se atrapalha um pouco ao responder, e quando pergunto, posso ver a confusão em seu olhar, sei bem quando passamos um dia difícil que até para falar nos custa.
Então coloco dois brigadeiros para ele, mas a curiosidade parece um pinscher, você diz volte ele continua querendo ir, manda calar a boca e ele continua latir.
Quem é esse cara?
Confirmo a teoria do dia difícil quando ele me pede whisky.
Como não temos bebida alcoólica aqui, despejo uma Coca-Cola em um copo para ele.
- Nossaaa... Já estava colocando a bandeja na janelinha de passagem da cozinha e me viro para ele.
- Tem algo errado?
- Tem... Sei que meus olhos dobraram de tamanho, será que o doce estragou?
Mas foram feitos hoje.
- Isso aqui é maravilhoso. Um sorriso se forma em meus labios.
- Tem gosto de infância.
- Tenho a mesma opinião, fico feliz que gostou. E fico mesmo, brigadeiro são os meus preferidos para qualquer situação. Mas então a curiosidade ganha e pergunto.
- Você é novo por aqui, nunca te vi antes.
- É, acabei de me transferir para essa cidade, minha avó é daqui.
Eu vim de Londres.
- E caiu justamente aqui, no Mundo dos Sonhos? Pergunto porque alguém como ele, não é de passear por esses lados.
- A faixada chama atenção. Levanto a sobrancelha desconfiada, ele limpa as mãos no guardanapo e estende para mim.
- Ruggero. Ele está se apresentando, olhando para sua mão e depois para ele.
- Karol. Quando penso em acrescentar mais alguma coisa, o telefone começa a tocar e retiro minha mão da dele.
- Fique à vontade Ruggero. Aponto para o telefone.
- Claro, e obrigado. Assinto e atendo, é Gaston que está no supermercado.
Mais faltam itens em sua lista e ele pede para que eu faça um check list rápido.
Quando termino, ele desliga e Felipe mais as duas garotas já limparam a cozinha.
- Kaká precisa de ajuda para fechar?
- Não, Gaston está chegando com as compras.
- Então vou esperar por ele para ajudar.
- Não precisa Lipe, pode ir, ele comprou pouca coisa, eu ajudo.
- Tem certeza?
- Sim, me fez andar de um lado para o outro porque achou a lista pequena.
Felipe rir.
- Tinha que ser o Gaston.
- Não é, todo lesado. Ele rir e me deseja boa noite.
Termino de guardar tudo e pego o limpa vidro para passar na vitrine então percebo o copo e prato em cima.
Me aproximo. E tem uma nota de cem euros no balcão.
- Quem paga cem euros em dois brigadeiros? Retiro as coisas e levo para cozinha depositando na lava louça, e volto para limpar a vitrine pego a caneta que ficou fora do lugar e o guardanapo, já estava para jogar fora, quando vejo algo escrito.
- Karol, obrigado por trazer de volta minha infância. Ruggero.
De nada Ruggero. Sorrio, dobro o guardanapo e coloco no bolso.
Gaston chega com as compras e fechamos.
- Tô morto Kaká. Abraço meu primo.
- E fedendo também. Completo e ele me empurra de leve.
- Dormi aqui hoje vai. Peço.
- Tá carente é?
- Tô, preciso de almofada e Jorge já me trocou pela magrela da Chiara, e Valentina não sei onde está esfregando aquela... Ele me interrompe.
- O que? Quem é? Já pega o telefone.
- Ei garoto se acalma aí, estava brincando, credo que ciúmes. Ele passa na minha frente para subir as escadas.
- Se eu não proteger vocês, quem vai? Esses Zé ruelas que só querem se aproveitar, e nem diga o contrário, Jorge não me deixou afundar o outro olho daquele imbecil que você chamava de noivo.
- Meu herói. Brinco e pulo nas suas costas.
- Cachorra, eu digo que tô morto e você me faz carregar uma baleia.
- Vou arrancar suas preciosidades Gaston, a língua e o pau, para você aprender a não me chamar de baleia.
Vamos cavalinho. Bato em sua bunda e ele rir subindo as escadas comigo.Depois do banho mando uma mensagem pra Valentina, a safada não falou comigo o dia todo, procuro Gaston ao sair do banheiro e o cachorro morreu na minha cama, tá apagado, tiro uma foto dele, desenho um chifre e mando no grupo da família, o que gera altas risadas e zoação.
Desligo o telefone e me aconchego, fazendo meu primo de travesseiro.
Isso é muito rotineiro, Jorge e Gaston sempre foram para mim a segurança que eu não tive ao perder meu pai, e crescemos assim, perdi a conta das vezes que dormiram comigo, segurando meu corpo enquanto eu tremia chorando até dormir, e sei que apesar de estar cansado, dormir aqui é uma maneira de saber se estou bem.

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Você Chegou
FanfictionMinha vida está melhor que novela mexicana, então se gosta de rir da vida alheia, pega pipoca, dá o play e vem rir da minha suas escomungadas.