CAPÍTULO 11

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TOMÁS

Eu e Danilo vamos a cozinha e Francisca faz a gentileza de nos preparar ovos mexidos e café, pois ela ja estava preparando o almoço.

_ Desculpa Fran, eu pretendia acordar mais cedo mas realmente apaguei, se o João não me chamasse estaria dormindo ainda.

_ Imagina Tom, eu não me importo pois gosto de cuidar de você, pretendo te fazer engordar uns kilinhos enquanto estiver aqui pois você está muito magrinho, eu diria que até abatido.

_ Ele não tem comido absolutamente nada desde que terminou com aquela desgraça dona Fran.

_ Não precisa desse dona querido, aqui não temos formalidades.

_ Aqui vocês não tem sono. Cade o cabeludo que teve a audácia de ir me acordar antes das dez da manhã? Onde ja se viu.

Fran da uma gargalhada.

_ Está falando do João? Ele estava ansioso pra ver vocês, no café da manhã das cinco ficou de olho cumprido la pro corredor dos quartos achando que o Tom iria se levantar.

_ Ce ta falando sério? Quem acorda as cinco da manhã?

Fran ri mas eu respondo.

_ Todos aqui Dã, e amanhã pretendo fazer o mesmo, saudade de amanhecer o dia na lida. E você Dã, deveria....

_ Nem termine essa frase, ouse me acordar e eu terei que achar um lugar pra esconder seu corpo magricelo.

Pego meu prato e levo a pia jogando o que restou no lixo e o lavando.

_ Termina logo ae, vou atrás do meu pai e Benício.

_ Nem comeu Tom.

_Estou satisfeito Fran obrigado.

Dou um beijo nela e pego o prato e a xícara de Danilo que reclama.

_ Porra você não come e eu não posso comer também? Mal educado.

_ Daqui a pouco o almoço está pronto querido, vá com o Tom conhecer a fazenda.

Lavo o prato e a xícara de Danilo rapidamente e saio da cozinha o levando comigo.

_ Não quero ver comida tão cedo Fran, não me espere pro almoço.

_ Ouse não estar aqui e eu irei te buscar de chinelo na mão.

Ouço ela gritar da cozinha e Danilo ri.

_ Ela jura que eu ainda tenho quinze anos de idade.

_ Seria engraçado você levar umas chineladas.

Desço as escadas do casarão ja correndo com Danilo atrás de mim tentando me alcançar.

_ Me espera Tommy. Eu te odeio por me fazer correr e suar sua praga.

Eu sigo rindo correndo na frente dele.

HENRIQUE

Eu, João e uns peões decidimos sair um pouco hoje apesar de termos que levantar cedo amanhã, eu e filho do patrão não bebemos mas teve uns que beberam como se não houvesse amanhã, geralmente eu venho pra essas festas e acabo ficando com alguém, não faço distinção de homem ou mulher, mas de uns tempos pra cá não sei o que está me dando, está difícil eu levar alguém pra cama, pra minha casinha não levo mesmo mas confesso que sou frequentador assíduo da pensão da dona Rita, agora não tão assíduo assim.

Viemos embora quase uma da manhã, vou pra minha casa que o meu patrão Miguel me deu, segundo ele é minha e ninguém tira. Aceitei pois vi que ele estava dando de bom coração e eu faço por merecer também, meu serviço é de qualidade e ele não tem do que reclamar. Mas acho que essa casa é um pedido de desculpas pelo que ele fez comigo e com o Tom. Ele nos pegou transando no celeiro e aquele foi o pior dia da minha vida, quase morri de vergonha pois com o escândalo que ele fez acabou chamando a atenção de todos, apanhamos como dois animais, se não fosse João acho que ele teria nos matado, fiquei um bom tempo sem retornar a fazenda só retornei porque ele foi atrás de mim e implorou pelo meu perdão. Eu ainda fiquei e as vezes fico um pouco ressentido com o que ele fez conosco, mais pelo Tom do que por mim pois ele escuraçou o filho da Fazenda e aquilo me doeu mais do que a surra, eu amava o Tom.

As únicas noticias que tenho dele são através de João, soube hoje que ele terminou com o namorado após o miserável o traiu. Ele é um menino tão bom tão especial, foi o meu primeiro amor, não digo que perdi minha virgindade com ele mas ele foi meu primeiro amor.

Tomo um banho e como uma marmita de comida que peguei mais cedo com a Fran, quando me recuso a comer no casarão ela logo faz uma marmita pra mim. Escovo os dentes e me deito, hoje sonho com aqueles olhos verdes que por todos esses anos não saíram da minha cabeça, pena que a última vez que os vi eles estavam opacos e assustados.

O dia amanhece e eu saio de casa depois das quatro da manhã montado na preta, minha mangalarga. Saímos de casa e vejo que ja tem uns peões indo pro pasto pra plantação, Fran ja está pegando ovos e o tunél de leite ja está cheio, eu amo essa fazenda, acho que perdoei seu Miguel pra nunca ter que sair daqui.

Chego a entrada da casa e percebo um carro diferente na entrada, não sou conhecedor de carros mas sei quando um carro é caro, quem será a visita do seu Miguel? Desço da minha égua e a deixo como sempre pastando ali na frente. Entro pelos fundos e vejo a Fran terminando de colocar a mesa de café.

_ Bom dia Fran.

_ Bom dia Henrique. Tudo bem?

_ Tudo. Seu Miguel está de visita?

Ela para tudo que está fazendo e olha pra mim.

_ É o Tom. Ele chegou ontem de noite com o filho e um amigo.

Meu coração inesperadamente acelera. Depois de tanto tempo acho que é normal eu ter essa reação né? Afinal nós nunca mais nos falamos depois daquele dia.


O PEÃO DA FAZENDAOnde histórias criam vida. Descubra agora