CAPÍTULO 4

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TOMÁS

Na sexta-feira acordo mais cedo e me visto de acordo com meu humor. Calça alfaiataria preta, camisa social preta, blazer preto mas nos pés um tênis branco. Hoje não tenho reunião em minha empresa só umas fotos da nova campanha que preciso aprovar, mas isso posso fazer de casa. Quero ao menos tomar o café da manhã com Eduardo.

Acordo Beni dou banho nele sob seus protestos, visto seu uniforme pego nossas coisas e saímos de casa. Chego no prédio onde Eduardo mora e cumprimento o porteiro.

_ Bom dia Homero. Tudo bem?

_ Bom dia Tomás, bom dia carinha. Tudo bem sim, vieram ver o seu Eduardo?

_ Sim. Ele ja saiu?

_ Na verdade ele saiu ontem de manhã e não retornou ainda.

Eu me espanto com o que ele diz.

_ Não voltou desde ontem de manhã? Tem certeza?

_ Sim. Eu sei porque ontem a tarde chegou uma encomenda pra ele e até agora ele não a retirou. Ele deve estar de plantão no hospital.

Eu tento disfarçar minha incredulidade e preocupação mas acho que não consigo.

_ É deve estar. Obrigado Homero, eu vou subir assim mesmo pro apartamento dele, preciso alimentar esse carinha antes de deixa lo na creche. Não é meu amor?

_ É papai.

_ Fiquem a vontade.

Pego o elevador e subo ao apartamento do Eduardo, entro nele angustiado pensando no que o porteiro disse. No hospital sei que Edu não está pois ontem ele trabalhou na clinica e a noite foi pro futebol. Mas minha pergunta é aonde ele dormiu?

Coloco Benicio numa cadeira na cozinha e abro a geladeira, pego o iorgute e uns morangos pra cortar pra ele comer, deixo essas coisas pro Beni aqui na casa do Edu pra facilitar. Dou o café da manhã pra ele e ligo pra Edu mas só cai na caixa postal. Ja preocupado resolvo ligar pro hospital onde ele trabalha.

_ Hospital Santa Clara. Bom dia.

_ Bom dia. Você pode me informar se o doutor Eduardo Coimbra está em atendimento hoje?

_ Doutor Eduardo Coimbra ou doutor Eduardo Santorini?

_ Coimbra senhora.

_ O senhor deve estar enganado. O doutor Eduardo Coimbra ja não trabalha conosco a uns meses.

Fico perplexo, sem fala. Como assim não trabalha no hospital a meses?

_ Senhor? Ainda está na linha?

_ Sim sim, me desculpa. A senhora pode me informar quando ele deixou o hospital?

_ O senhor é paciente dele?

Fiquei com muita vergonha de dizer que sou namorado. Tecnicamente como namorado eu deveria saber que ele deixou o emprego.

_ Sim.

_ Espere um instante por favor.

Ouço ela digitar alguma coisa.

_ Ele pediu demissão dia 15/12 senhor. Mais alguma coisa?

_ Não obrigado.

Desligo e fico estático no sofá. Que merda é essa? Estamos no dia três de março, passou quase três malditos meses desde que Edu pediu demissão do hospital, e porque ele não me falou nada? Aliás, depois da data de sua demissão ele passou vários finais de semana supostamente de plantão no hospital, passou a porra do feriado de final de ano e carnaval no hospital. Onde esse filho da puta estava? Onde ele está agora?

Não sei como cheguei a casa do meu amigo Danilo, só me lembro de ter deixado Benicio na creche depois foi tudo um borrão, só sei que estou aqui agora com o dedo na campainha da casa do meu amigo que deve estar dormindo, pois é dono de um bar e trabalha a noite, foi assim que eu o conheci a oito anos atrás. Tomei um porre no bar dele, meus amigos ja haviam ido embora pois eu estava ficando com um carinha e eles acharam que eu iria embora com ele, o carinha não faço idéia de que fim levou, Danilo na hora de fechar o bar ficou com dó de mim e me trouxe pra sua casa em segurança e desse dia em diante ficamos amigos inseparáveis. Ouço ele gritar irritado de dentro de casa e paro de tocar a campainha.

_ Ja vai porra, enfia esse dedo no cú.

Meu amigo odeia que acordem ele mas ja me acostumei com seu mal humor matinal. Ele escancara a porta e me olha bravo.

_ Ta de zueira né? Espero que tenha uma boa explicação pra me acordar a essa hora senão vou te matar.

Eu só precisava ver meu amigo pra desabar e chorar, ele me puxa pra dentro rapidamente me olhando todo dos pés a cabeça.

_ Caralho o que aconteceu Tommy? Cade o Benicio?

_ Ele... ele está na creche...

_ E o que aconteceu pra você estar chorando assim? Fala Tommy eu estou assustado.

Ele me abraça tentando me acalmar.

_ Me conta o que aconteceu Tommy por favor.  

Eu deito a cabeça no ombro dele e ficamos assim por uns minutos com ele passando a mão em minhas costas até eu me acalmar um pouco. Quando meu choro diminui ele me pega pela mão e me leva até a cozinha me senta numa cadeira como uma criança e me da um copo com água.

_ Agora me conta o que aconteceu. Quem te deixou assim?

Eu bebo a água em silêncio e ele fica me olhando como se eu fosse uma espécie rara.

_ Não sei por onde começar Dan... eu estou destruído.

Ele se senta na minha frente e pega em minhas mãos.

_ Me fala com calma. Só posso te ajudar se souber o que está acontecendo.

_ Eu acho... eu acho que o Edu está me traindo.

O PEÃO DA FAZENDAOnde histórias criam vida. Descubra agora