O PEÃO DA FAZENDA

CAPÍTULO 24

TOMÁS

Chego em casa e acho bonitinho que Fran deixou meu prato prontinho guardado no micro ondas não estou com fome mas acabo comendo pelo gesto dela, e ela pediu pra entregarem o de Henrique também.

_ Obrigado Fran, você é uma mãezona.

_ De nada. Você e Henrique não vieram pro almoço e beijo na boca não enche barriga.

_ Francisca!

A repreendo rindo pois meu filho está comigo e ainda bem que nem prestou atenção no que ela disse pois está empolgadissimo contando sobre ter laçado um boi hoje mais cedo, era um bezerrinho mas ja o deixou bastante feliz, ficou tão feliz que nem tirou o sonhinho da tarde. Eu termino de almoçar e vou pro quarto com ele, tomo um banho e dou banho nele, colocamos uma roupa de casa mesmo e deitamos, preciso que ele durma um pouco agora senão no final da tarde ja está caindo de sono.

Durmo com ele que nem percebo, acordo ouvindo uma voz alterada, abro os olhos e presto atenção quando percebo que é o meu pai que discute provavelmente com minha mãe ao telefone, olho as horas e vejo que se passou somente meia hora desde que me deitei com Benicio. Me levanto e saio do quarto deixando Benicio ainda dormindo. Do corredor do escritório consigo entender o que meu pai fala.

_... você não vai me coagir como fez a anos atrás Lara.... não, não.... ele ficará aqui até quando quiser e nem pense em aparecer aqui, nem você e nem aquele pateta do seu marido não são bem vindos aqui.

Ele desliga o telefone fixo num baque e não sei como ele não espatifa.

_ Pai?

O chamo pra chamar sua atenção. Ele me olha e passa as mãos nos cabelos procurando se acalmar.

_ Desde quando está aí?

_ Desde agora. Porque você e minha mãe estavam discutindo?

_ Não era nada..

_ Era sim e você vai me contar sobre o que discutiam.

Entro no escritório escosto a porta e me sento.

_ Mais cedo ela falou algo sobre uma ameaça que fez te fez a anos atrás e agora ouvi algo sobre coação e pelo visto estou envolvido nisso portanto quero saber do que se trata.

Ele engole em seco e se senta ao meu lado.

_ Me recuso a falar sobre isso filho, não quero te botar contra sua mãe.

Suspiro cansado e me levanto.

_ Então só me resta te agradecer pela hospitalidade e me retirar.

Ele se levanta de olhos arregalados.

_ Se retirar pra onde?

_ Pra São Paulo, pra minha casa..

_ Meu Deus Tomás, só porque não quero te envolver nisso?

_ Eu ja estou envolvido não estou? Então me conta o que eu não sei. Que ameaça ela te fez que pode cumprir agora pai? Me conta.

Ele pega em meu braço e se senta junto comigo.

_ Eu vou te contar mas quero que saiba que o maior culpado continua sendo eu, não a culpe pois foi por causa da minha ingenuidade e ignorância que fiz aquela coisa terrível com você.

Eu não falo nada e ele abaixa a cabeça e começa a contar.

_ Quando sua mãe foi embora daqui te levando com ela ainda criança foi a pior dor que eu ja senti na vida até aquele momento, eu não a amava mais não é isso, mas eu sentia muito a sua falta e também Henrique. Desde pequenos vocês eram apegados... aí ela deixava que eu fosse te buscar em férias e feriados prolongados e isso amenizava um pouco a minha saudade mas ai eu fui reparando que você e Henrique a cada ano que passava estavam mais apegados... eram amigos e não sei o que desencadeou outra coisa, eu me assustei...

Eu o interrompo pra contar em que momento eu e Henrique começamos a nos relacionar.

_ Aos treze anos eu dei meu primeiro beijo e foi com ele pai.. era horrível ir embora e só voltar nas férias pra ficar com ele.

_ É.. eu ia te buscar e você mal parava dentro de casa, ia te procurar e você estava com ele, foi ai que conversei com João e ele me disse que ja tinha percebido e te perguntou, você confirmou a ele que estava namorando com Henrique e que estavam apaixonados. Ele não me contou na maldade, ele contou porque ele sabia que eu tinha que estar preparado antes de conversar com você... eu todo machão com um filho gay aquilo me deixou muito assustado e sem saber o que fazer, foi ai que liguei pra sua mãe pra juntos conversarmos e depois conversar com você pois você estava namorando e de um jeito ou de outro a gente tinha que os abençoar, dar conselhos, orientar... essas coisas que pais devem fazer quando filhos começam a se relacionar sabe? Mesmo você estando se relacionando com um homem e eu não gostando nada disso você ainda era o meu bebê e o amor que sinto por você é maior do que a relevância de quem você leva pra cama...

Eu fico tão tocado que sorrio mesmo com vontade de chorar.

_ .... eu só não esperava a reação de sua mãe pois ela ficou louca. Disse que ja sabia que você era gay e que você disse que iria apresentar o namorado pra ela, o que ela não imaginava é que era um merda de peão da Fazenda fedido de bosta de vaca, palavras dela. Ela me disse que se eu não acabasse com aquilo o mais rápido possível eu nunca mais iria te ver pois iria preso.

_ Preso? Porque?

_ Porque segundo ela eu estava sendo conivente com um caso de pedofilia contra meu próprio filho, você tinha quinze anos e Henrique dezenove. Aquela maluca me convenceu que isso era pedofilia e era caso de cadeia, se eu não tomasse uma atitude eu iria preso perderia tudo que eu tinha e nunca mais iria te ver, foi ai que enlouqueci, fui atrás de você e os encontrei no celeiro... transando... eu perdi a cabeça filho, as palavras de sua mãe me chamando de criminoso falando que eu estava te entregando a um homem mais velho gritavam em minha cabeça... minha intenção era bater só em Henrique mas você me segurava e gritava se jogando na frente dele pra o defender.. fiquei fora de mim e quando dei por mim a merda toda ja tinha acontecido, voltei a mim com as pessoas me olhando assustadas e você, Henrique, João e Fran aos prantos... você e Henrique machucados...

Meu pai chora copiosamente e eu também.

_ ... eu não podia, eu não aguentei te ver machucado daquele jeito e só pedi pro motorista te levar embora daqui...me desculpa mais uma vez meu filho... eu me arrependo tanto por tudo isso e o pior é que na mesma noite eu chamei meu advogado e contei da ameaça... e ele me explicou direitinho, você ja tinha quinze anos e o ato entre vocês era consensual, e também quando começaram a se relacionar ele era de menor também... a Lara sabendo que sou ignorante e não entendo nada de leis me enganou direitinho, mas a culpa da surra que dei em vocês é inteiramente minha, essa culpa é eu a carrego..

_ Eu te perdoei a muito tempo pai.. e não irei culpar minha mãe também pois não quero arrastar essa história que me machuca tanto, mas se ela fizer alguma coisa pra prejudicar eu e Henrique daqui pra frente a coisa vai ficar feia.

_ Ela o fará, pode ter certeza.. disse que o tal crime de pedofilia não prescreveu ainda e mais um monte de nojeira que eu não sei como ela consegue falar sem vomitar. Mas você e Henrique estão conversando? Porque você disse que se sua mãe fizer alguma coisa..

_ Eu sei o que eu disse pai, e eu e Henrique estamos nos dando bem sim... eu quero tentar pai.. eu sei que é cedo que eu acabei de sair de um relacionamento..

_ Relacionamento esse que sua mãe quer o convencer de voltar. Que loucura!

_ Não volto. Sou maior de idade, dono do meu nariz e nesse momento eu escolho o Henrique.

Pensei que meu pai iria argumentar mas ele me abraça e beija o topo de minha cabeça.

_ Vocês tem o meu apoio meu filho. Eu abençoo o amor de vocês!

_ Não sabe como ouvir isso é importante pra mim pai.

_ Você seu irmão e meu neto são tudo que eu tenho de mais importante e desde que suas escolhas não interfiram no caráter, eu jamais irei interferir.

Sorrio e abraço forte o meu pai, estou leve em ouvir a verdadeira versão da história, apesar de ja ter perdoado meu pai a tempos isso ainda me machucava.