Capítulo 44

327 43 14
                                    

"Por que no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia. — Caio Fernando de Abreu."

O tempo gélido não parecia ser o desconforto para o corpo alvo deitado sobre o gramado do Parque Stanley que desfrutava da maravilhosa sensação que as gotas de orvalho que caíam causavam em seu corpo, leves arrepios eram provocados, um suspiro sôfrego e o pensamento não tão longe dali. 

Marília estava livre das aulas naquela manhã de quarta feira devido a reunião da reitoria, decidiu-se por aproveitar um belo passeio para espairecer e livrar-se de todas as frustrações que lhe rondavam agora. Por que Maraisa terminou daquele jeito? O que havia feito de tão errado? Por que não lhe deu a chance de se desculpar? Marília se sentia culpada pelo que havia acontecido, acreditava ter magoado a morena de forma que não houvesse perdão, mas a real pergunta era: "O que foi que eu fiz?"

É triste quando nos entregamos a alguém que não tem a mesma intenção que nós, o corpo começa a se contorcer, talvez realmente tenha sido apenas um passatempo, uma curiosidade, mas se foi por que iludir com palavras, promessas e olhares? Ah os olhares, esses machucam muito mais que palavras.

A brisa fria acariciava as bochechas vermelhas da loira que já se permitia chorar mais uma vez naquela semana, a melodia das árvores balançando, os galhos se arrastando e as folhas de outono caídas ao chão, davam uma perfeita orquestra melancólica vivida por Marília, pegou seu celular para ver as horas e viu que haviam algumas mensagens dos amigos. "Marília, onde você está?" "Marília, vovó está perguntando por você" "Docinho, quando voltar traz tequila". Tá ai uma boa companhia da loira, a boa e velha tequila, dias resumidos em trancar-se no quarto e se deleitar de sua bebedeira na falha esperança de encontrar seu momento de paz, um minuto sem pensar naquela morena de olhos amendoados e lábios tão doces quanto o mel. Fechou os olhos permitindo-se ser levada ao passado, onde agora era apenas um depósito de lembranças uma linda ilusão.

FLASHBACK MARÍLIA

— Marília, para! — Dizia Maraisa gargalhando em meio as cócegas. — Eu não aguento mais. — Dizia com dificuldade.

A loira prendeu os braços da morena acima de sua cabeça com um sorriso vitorioso nos lábios admirando a bela mulher totalmente vulnerável embaixo de seu corpo.

— Desiste? — Disse sorrindo.

— Desisto. — Maraisa diz ofegante.

— Então fala, Marília Mendonça é a mulher da minha vida, dona das minhas vontades, soberana das soberanas. — disse arqueando a sobrancelha esquerda enquanto mantinha o sorriso nos lábios.

— Não acha que está passando tempo demais com Maiara? — Disse gargalhando da loira.

Marília tornou a fazer cócegas fazendo-as rolar pela cama que já haviam arrumado, os olhos da advogada lacrimejavam devido as gargalhadas provocadas pela namorada, contorcia-se lutando para não desistir e deixar que a loira saia dessa "batalha" vitoriosa, mais uma vez, fracassou.

— Eu me rendo. — Maraisa dizia buscando equilíbrio. — Você é tudo isso aí que você falou. — Disse revirando os olhos.

— Não gostei, quero mais. — Marília disse apertando sua cintura.

Com os braços envolvidos em seu pescoço, Maraisa usou as pernas e toda força que tinha para inverter as posições e ficar por cima da loira.

— Você é a mulher da minha vida, cujo a pessoa que eu quero acordar com os meus oitenta e cinco anos usando aqueles aparelhinhos de vovó. — Aproximou seus corpos ficando perto da boca da mais nova. — Com os nossos netinhos correndo pela casa. — Enquanto nós preparamos o café da tarde e planejamos histórias. — Finalizou beijando-a.

A estrangeira - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora