Capítulo 5

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Grayson

A garota tem algum problema, isso é óbvio para mim. Sua sensibilidade extrema e jeitos incomuns de agir, como o bico que faz nos lábios sempre que vai chorar, seu erro em algumas falas e até me parece inocente em alguns momentos.

Tudo isso me parece muito estranho e me remete para uma idade que ela não tem. E por mais que ela tente parecer mais madura, esses sutis detalhes lembram de uma criança.

Espero Luna na minha sala de estar. Um programa matinal passa na TV, mas não estou prestando atenção. Sentado no sofá, estou separando os produtos que devo usar para limpar os machucados da Luna e trocar os curativos.

A garota não demora muito para vim, seu olhos e nariz ainda estão vermelhos, mas para minha sorte não derrama mais lágrimas.

Não sei lidar com choros, ainda mais com os escandalosos. Então eu os evito a todo custo, mesmo que isso signifique que eu fuja deles.

Confesso que acho graça na diferença entre o tamanho de Luna e entre o resto da casa, Luna parece uma formiga andando na minha direção, pequena e frágil.

Em nenhum momento ela fez contato visual comigo, apenas sentou ao meu lado do sofá e ficou quieta.

- Vou ser sincero com você Luna, possivelmente irá doer quando eu for limpar seu machucados.

- Tá bom... - Sua voz sai quase inaudível e mesmo assim consigui ouvir como sua voz está trêmula.

Todo o processo foi mais rápido do que o esperado, Luna soltou alguns resmungos e encheu os olhos de lágrimas algumas vezes, porém não fez escandalo e me permitiu fazer o necessário. Tenho que dar créditos a garota, sua colaboração também ajudou para que o processo fosse rápido.

- Terminei.

Eu falo ao guardar os materiais, mas para Luna foi a mesma coisa que eu ter ficado quieto. Ela está muito concentrada na TV, mais especificamente no desenho que passa, um de três bonecas esquisitas coloridas de azul, rosa e verde.

Luna encara a tela encantada, seus olhos azuis curiosos chegam a brilhar de tanto fascínio. Nem parece que estava derrubando lágrimas a minutos atrás.

Vendo que não adiantaria nada eu chamar sua atenção, eu levanto do sofá e vou guardar a bolsa de primeiros socorros.

Indo para o andar de cima eu pego meu celular do bolso da calça e mando uma mensagem para Benjamin e Nicholas avisando que não iria a empresa hoje.

Ambos são meus amigos a muitos anos, nos conhecemos no primeiro ano da faculdade de administração. Após a faculdade, Matthew herdou a empresa de tecnologia do avô e chamou eu e Benjamin para trabalharmos juntos.

Desde então, tenho dois trabalhos, um ilegal e um legalizado. Sempre tento conciliar ambos como prioridade e não deixar que um atrapalhe o outro.

Volto para sala com duas sacolas com roupas femininas dentro. Ontem eu havia pedido para uma amiga comprar algumas roupas para Luna, ambas tem uma extratura e corpos parecidos, então pedi para comprar as roupas com base nas suas medidas.

Chamo a atenção da Luna ao ficar em frente a TV, impedindo que ela continue vendo os desenhos das bonecas esquisitas. Ela que estava relaxada no sofá se senta rapidamente ao me ver.

- São para você, caso alguma roupa não servir, me avise que irei resolver.

Vejo novamente os olhos da garota brilharem de curiosidade, eu estendo as sacolas para ela e um pouco relutante ela pega.

- Obrigada, Gray. - Luna olha para a sacola com um tímido sorriso no rosto.

Luna ainda parece estar abalada sobre a morte do pai, mas está com um semblante melhor que antes.

Sendo sincero eu não vejo motivos para tanto choro e lamento pelo pai dela, claramente a garota não vivia em uma boa situação.

O tanto de dinheiro que David ganhava com seus trabalhos sujos daria para dar uma boa condição de vida para a garota. Porém Luna está abaixo do peso ideal para sua idade, o que indica que ela não comia tanto em casa. Suponho isso, pois aqui na casa ela comeu tudo super bem no café da manhã.

Além de outras informações estranhas e incompletas sobre sua vida. Ao me lembrar de algumas pendências em relação a essas informações, eu respondo a Luna rapidamente.

- Enquanto você estiver aqui terá que seguir algumas ordens. Você está proibida de entrar no meu quarto, escritório e de sair lá para fora. - A garota volta a se encolher no sofá. - Estamos entendidos, Luna?

- Sim.

- Caso precisar de algo chame um dos guardas, eles me passarão o recado.

Eu mal espero sua resposta e saio para voltar ao escritório.

Desde que quase matei acidentalmente Luna na sua casa, comecei uma busca por informações por conta própria. Após o fracasso de Adam que quase me colocou em perigo, não sei se vou confiar em alguém tão cedo para fazer esse trabalho.

Dou uma revisada nas informações que coletei até agora sobre Luna.

Seu nome completo é Luna Franco, sua mãe se suicidou quando Luna tinha dois anos, os registros médicos não dão muitos detalhes, apenas que foi encontrada morta com uma faca com suas digitais. Desde a morte de sua mãe, Luna morava com seu pai.

Na escola, David usa outro nome e sobrenome como responsável da Luna. A garota quase não tem faltas e suas notas são medianas, em algumas ela se destaca e em outras ela passa arrastando. Luna não tem nenhum passado de brigas ou algo alarmante para seu pai aparecer na escola.

O único registro em hospitais que ela tem é de seu nascimento, fora isso nada. Nem mesmo achei registros de suas vacinas, e é que se foram tomadas.

E nenhum parente foi encontrado com o mesmo sobrenome de Luna ou com o falso sobrenome do seu pai.

Tudo me parece estranho. Várias lacunas da vida dela estão vazias e isso me deixa irritado, porque isso complica ainda mais para eu me livrar da garota.

O plano era encontrar algum parente da Luna e passar a responsabilidade para eles, mas até agora eu não encontrei nehuma informação sobre eles e nenhum parente chegou a procurar por ela.

Ficar com Luna definitivamente não está nos meus planos.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora