Capítulo 48

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Grayson

Com o passar dos anos, eu desenvolvi a habilidade de camuflar a dor física. Se eu tivesse machucado meu joelho, eu fazia um ralado menor perto dele e concentrava minha dor no pequeno machucado, assim camuflando a dor maior com uma menor.

Então quando John rasga minhas costas com uma adaga, eu tento ao máximo concentrar a dor em outras coisas, seja na minha cede, nos meus pulsos ou no cansaço físico.

- Tudo isso por conta de uma garota, Grayson. - A voz irritante ecoa pelo ambiente.

A maneira que fala e o tom que se refere a Luna me deixa com mais ódio e vontade para matá-lo.

- Como deixou ser levado por tão pouco?

Tenho vontade de retrucar, mas guardo minhas palavras para mim.

Não fui "levado" por tão pouco ou por qualquer garota. Fui levado por Luna, a garota com os olhos azuis mais intensos que já vi, com o sorriso capaz de iluminar meus dias mais sombrios e com a alma mais encantadora existente no mundo.

- Tudo isso poderia ter sido evitado se você apenas tivesse matado a merda da garota.

Pode até ser verdade, porém, se eu tivesse cometido tal erro, eu nunca teria vivido os melhores dias da minha vida e experimentado o que é a alegria.

A maneira que ele se refere a Luna me faz questionar se ele chegou conhecer a sobrinha. Sei que John mantinha contato com seu irmão, até porque era chefe dele, agora com Luna não tenho ideia, a mesma nunca chegou mencionar um tio.

Não que isso faria muita diferença, afinal, se John teve coragem de mandar matar o próprio irmão que mantinha contato, imagina com a sobrinha.

John continua com os cortes em minhas costas, sinto o sangue escorrer em minha pele e se misturar com o suor.

Acredito que eu estar silêncio é o que está influenciando no humor de John, pois ele gosta de entretenimento ao ouvir as lamentações e os gritos de dor vindo das suas vítimas.

Além de ter feito o que fiz, eu não estar colaborando com seu divertimento está o deixando com raiva, por isso que ele tenta descontar o sentimento me ferindo fisicamente.

Apenas tenho que esperar ele ficar entediado e me deixar sozinho outra vez.

[...]

Ficar tantas horas em pé e acorrentado faz meu corpo latejar de dor, meu pulso preso metal é um dos locais que mais dói depois dos ferimentos atrás. Além de ele estar preso, eu estou a um tempo tentando quebrar a corrente, por isso que naturalmente ele machucou mais no processo. Pelo menos a corrente não está tão firme, já é um caminho.

Seguro mais uma vez a corrente e a puxo com força, e dessa vez o barulho dos estalos é mais alto, o que indica que consegui quebrá-la um pouco mais.

Paro de mexer na corrente quando ouço um barulho vindo da porta, no próximo segundo ela é aberta, mas não é John quem aparece, quem passa por ela é um homem de estatura alta e que segura um copo em suas mãos.

Quando ele se aproxima, seu rosto fica mais evidente e não consigo reconhecê-lo como um dos homens de John. Após dar uma conferida na porta - onde há dois homens armados e esses sim eu reconheço o rosto de alguém que trabalha para John -, o homem para em minha frente e estende o copo com um canudo.

Ele oferece o líquido de aparência transparente ao colocar o canudo na altura da minha boca, obviamente não faço o que ele silenciosamente está pedindo, não sei se realmente é água ou está com outro conteúdo misturado, não posso arriscar.

- É apenas água, garanto que não tem nada além disso. - É como se ele tivesse lido meus pensamentos e me avisa encarando no fundo dos meus olhos. - Continue sem expressar qualquer tipo de reação a partir do que vou dizer agora e demore o máximo para tomar a água.

Mantenho inexpressivo como o tal homem pediu, mesmo não tendo nenhuma confiança nele.

- Aaron já sabe da sua localização, ele está vendo a melhor forma para vir te buscar.

Agora ele tem toda minha atenção presa a ele.

- Não consigo te ajudar além de passar informações do que está acontecendo lá fora, pois John apenas deu armamento para os que ele mais confia.

Sua voz se mantém em um tom baixo, beira ao sussurro e a minha também.

- Como vou saber se devo confiar em você? Ou se é mais uma pegadinha de John?

- Ich werde unsere Geheimnisse bewahren und niemals die verraten, die an meiner Seite stehen. Wenn ich meinen Rücken kehre, soll mein Fleisch verbrannt werden.

( Guardarei nossos segredos e nunca trairei aqueles que estão ao meu lado. Se eu virar as costas, minha carne deve ser queimada. )

Automaticamente reconheço o juramento que ele está citando. O juramento dos Kruse, ou melhor, da máfia alemã que pertence a Aaron. O homem só pode ser um soldado dele.

- Estou tentando arrancar as correntes. - Comento. - Dar para ouvir eu mexer nelas do lado de fora?

- Não, pode fazer qualquer barulho. - Um pequeno sorriso surge em sua boca. - Foram burros em escolher esse lugar.

Mato minha cede ao finalmente beber a água com intervalos muitos longos e aproveitando cada segundo dela.

- Como conseguiu se infiltrar aqui?

- John faz a troca de guarda apenas uma vez por dia, isso tornou aqueles homens relaxados ao ponto de não perceberem o sumiço de um deles e a sua substituição.

John pode ter vários pontos fortes, mas não posso esquecer que também é falho. Seu ego o deixou assim, se ele descesse do pedestal que se colocou e parasse de achar que é um ser indestrutível, talvez ele não cometeria erros.

- Fiquei responsável por te alimentar, tentarei trazer algo escondido na próxima vez, algo que te ajude.

Estava dando meu último gole de água quando um dos dois homens que estavam na porta chamam por ele e diz que já está na hora dele voltar.

- Até logo, Grayson. - Ele afasta o copo de mim e o segura com as duas mãos. - Ah, me chamo Dean.

Dean sai quieto assim como entrou e eu me mantenho como se nada tivesse acontecido. Quando a porta se fecha, eu espero apenas alguns minutos e volta para meu objetivo principal: me livrar das correntes.

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Prometo que o Gray está preste a voltar para casa e ser feliz com a Luna.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora