Olhos Azuis

Capítulo 26

Luna

Eu estava muito concentra no meu desenho, muito mesmo, tanto que nem ouvi Gray chegar ao meu lado.

Na sua mão ele traz um potinho branco, aqueles de sobremesa. Gray tira o lápis da minha mão e no lugar coloca uma colher, já na minha outra mão, coloca o potinho branco.

No pote tem algumas frutas, por vista apenas reconheço o abacate, a banana e o melão, mas há mais duas outras frutas.

Confusa olho para o Gray, ele está com aquela plenitude no seu rosto que nunca sei o que ele pode estar pensando ou planejando.

- É para comer tudo.

- Obrigada, mas... por que você fez isso para mim?

- Eu só cortei as frutas para você.

- Eu vi. - Luna olha novamente para o potinho - Mas por que? Não tá nem na hora do lanche.

- Eu li que é bom comer essas frutas durante o período menstrual.

Ao ouvir esses duas palavras, Luna naturalmente se encolhe, sei que isso é normal, mas me deixa um pouco envergonhada.

- Ah... Obrigada.

Gray acena com a cabeça e diferente das outras vezes, ele senta no sofá e não na sua poltrona. Luna levanta do chão e vai se sentar próximo dele.

Eu estou sendo muito bem cuidada pelo Grayson, ele sempre está perguntando se estou com dor, se estou desconfortável com algo ou se preciso de alguma coisa.

Se Luna soubesse que ele a trataria assim, eu não teria ficado com tanto medo da reação dele ontem de manhã.

- Que fruta é essa? - Mostro para ele a fruta na colher.

- Pera.

- É deliciosa. - A coloco na boca e Gray me encara com o cenho franzido.

- Nunca tinha comido antes?

- Não me lembro de ter experimentado.

Por ele estar ao meu lado, ele se movimenta para ficar um pouco de lado, ficando quase de frente para mim.

- O que seu pai te dava para comer?

- Ele comprava muitos salgadinhos e minha bolacha favorita, e quando queria ele fazia miojo ou macarrão.

- Ou seja, você não comia bem.

- É...

Continuo comendo as frutinhas cortadas e sinto que Gray ainda está me olhando.

- O que foi? - Pergunto para ele.

- O que você está desenhando dessa vez? - Termino de mastigar a banana e respondo.

- Algumas flores.

Ele se estica para pegar a folha em cima da mesinha e os analisa como se fosse um especialista.

- Eu ainda não terminei, então...

- Você tem talento para isso.

Fico estática ao ouvir seu elogio, ele nunca falou coisa desse tipo e acredite que esse desenho nem está tão bonito como os outros.

Coloco o pote com as frutas para o lado e chego mais pertinho do Gray.

- Mas não sou tão boa assim, eu tremi na hora de fazer as pétalas, olha aqui. - Apoio minha mão no seu braço e com a outra aponto para meus rabiscos. - E não consegui fazer um bom sombreado.

- Quando alguém tem talento, até mesmo uma linha reta sai perfeita.

Gray diz muito sério, seus olhos azuis como o meu me encaram sem nem piscar. Nunca estive tão perto dele ao ponto de ver os detalhes do seus olhos.

Mas Luna lembra que ele não gosta quando estou muito perto dele, então sento novamente ao seu lado e tiro minhas mãos que havia apoiado nele.

- Quando a Luna terminar vai estar mais bonito. - Tiro da sua mão o papel.

- Não esqueça de me mostrar depois.

- Vai mesmo querer ver?

- Eu vi os outros, por que não iria ver esse?

Dou ombros e volto a comer os restos das frutas para tentar esconder o maior sorriso que a Luna queria abrir.

A gente fica um tempo sentados um do lado do outro, é estranho ficar assim com ele, Gray nunca gostou de tanta proximidade e agora ele está por vontade própria ao meu lado.

Não é só hoje que ele está mais próximo, faz alguns dias que ele me espera para comermos juntos, ele conversa comigo enquanto cozinha e quando faz seus exercícios físicos na academia, até deixa a Luna ficar com ele no seu escritório.

Aliás...

- Você não trabalha mais? - Pergunto pro Gray.

Não vejo mais ele indo para a empresa dele, é por isso que estamos passando bastante tempo juntos.

- Ainda trabalho.

- Mas você não vai mais pra empresa.

- Decidi trabalhar de casa, apenas irei a empresa quando houver necessidade.

- Ah...

Estranho, muito estranho.

Grayson parecia gostar muito de sair da casa e do nada decidiu ficar mais aqui. O que não tem problema nenhum, é a casa dele né e a Luna está gostando bastante de ficar mais com a sua companhia, apesar que eu sinto falta do fofoqueiro as vezes.

Como Grayson está mais em casa, o segurança fofoqueiro quase não vem mais aqui olhar a Luna.

- Por que você decidiu trabalhar daqui?

- Não sei, eu só tive vontade. - Ele pega o potinho vazio da mão da Luna e se levanta andando para ir na cozinha. - Por que pergunta?

- Curiosidade. - Falo me virar no sofá para vê-lo voltando.

- Prefere que eu volte a trabalhar na empresa?

- Não!

Nossa, Luna pareceu aquelas pessoas desesperadas, mas é que eu não quero que ele pense que não gosto dele próximo, é ao contrário.

- É mais divertido quando você passa o dia aqui com a Luna. - Por um segundo Gray abre um sorrisinho, foi rápido, mas Luna viu.

Grayson tem um sorriso bem bonito, por mais que não tenha visto muitas vezes, eu acho ele lindo. Ele deveria sorrir mais.

- Vou ficar no escritório, quer ir lá comigo?

Rapidamente concordo com a cabeça e o sigo para o andar de cima.

Luna se senta na cadeira giratória de frente pro Gray, quando ele se senta nela parece aqueles chefes super bravos.

Ele abre uma gaveta e tira de dentro algumas caixinhas finas, olhando bem vejo que são alguns materiais de desenho e lápis coloridos, muitos lápis coloridos, nem sabia que existia tantas cores.

Grayson coloca as caixinhas na minha frente sem dizer nada.

- São para a Luna? - Pergunto tentando não explodir de felicidade.

- Se você quiser elas. - Antes mesmo dele balançar os ombros eu pulo da cadeira e vou até ele.

Luna envolve os braços no pescoço de Gray e sinto ele colocar suas mãos nas minhas costas desajeitado, acho que ele nunca abraçou alguém.

- Obrigada, Gray! - Me solto dele ainda com um sorriso no rosto. - Você é a melhor pessoa do mundo inteirinho!

Dou alguns pulinhos animados e novamente abraço ele, e dessa vez ele abraça Luna de um jeito melhor.

Tenho que ensinar Grayson a dar abraços melhores!