Capítulo 20

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Grayson

Antes mesmo de passar pela porta principal eu escuto a voz da Luna. Não preciso nem olhar para saber que a garota está tagarelando com Marcos enquanto o mesmo apenas concorda ou faz pequenos comentários.

Porém, quando entro dentro da casa e Luna percebe minha presença, ela fica quieta. Talvez ela não estava esperando me ver por agora já que cheguei um pouco mais cedo que o comum.

Fiquei tanto tempo focado no trabalho que eu adiantei até aqueles que não precisava. E Benjamin depois do almoço praticamente me expulsou da empresa, ainda com aquela história que eu precisava dormir e pintar o cabelo.

Eu realmente preciso dormir, mas isso se tornou impossível de realizar, então fui ao cabeleireiro retocar minha raiz.

Não sou loiro natural, meu cabelo é descolorido desde meus dezenove anos. Comecei com isso quando me dei conta que não poderia estar ao lado de mamãe, e com o cabelo descolorido era uma maneira de estar mais próximo a ela.

Infelizmente não herdei nada genético de mamãe, lembro de quando eu era criança e ela falava que gostaria que eu tivesse herdado seus cabelos loiros.

Por meu cabelo ser bem escuro o máximo que consigo fazer é descolorir.

Me pergunto as vezes como seria a reação da minha mãe ao me ver assim.

Sou tirado do meu devaneio ao ver Marcos me dando um aceno de cabeça como comprimento, eu retribuo o aceno e subo para o andar de cima, mas antes escuto Luna perguntar bem baixo para meu segurança.

- Por que ele chegou mais cedo?

Não sei o que Marcos respondeu e se é que ele respondeu, pois segui o caminho para meu quarto.

Dentro do quarto eu troco minha roupa para uma mais leve e confortável.

Dou um grande suspiro ao deitar na cama, fecho meus olhos como um agradecimento silêncioso por minha dor de cabeça estar passando sem uso de remédios.

Uso tanto remédio para aliviar minhas dores que não sei como eles ainda fazem efeitos em mim.

O cansaço se apossa de meu corpo e ele clama por um descanso, não aguentando essa situação eu a atendo suas necessidades, caindo em um profundo sono.

[...]

Acordo desnorteado sem saber que horas é, não há sol lá fora, mas ainda não está escuro o suficiente para ser tarde da noite.

Procuro pelo meu celular tateando a cama e quando o encontro me assusto ao ver as horas.

Passei cinco horas dormindo sem pesadelos. Esse definitivamente foi o maior tempo de horas de sono desde que os malditos pesadelos voltaram.

Me sinto renovado, como uma nova pessoa, um sono nunca me fez tão bem.

Outra coisa que me faria bem agora seria comer, meu estômago não parou de roncar desde que eu acordei.

Falando em fome, Luna também deve estar com fome, está na hora do jantar janta e tenho certeza que ela não jantou, pois ontem eu não fiz comida o suficiente para durar como refeição de hoje a noite.

Com o celular ainda em mãos entro no aplicativo de um restaurante, passo alguns minutos olhando e escolhendo as opções de comida para mim e para Luna, depois desço para o andar de baixo.

No fim da escada eu consigo ver Luna sentada no chão enquanto se apoia na mesinha de centro para desenhar, Marcos está de uma distância considerável da garota enquanto ouve suas histórias.

- Marcos. - Chamo sua atenção e Luna se assusta. - Pode ir embora, depositarei uma quantia extra por você ter ficado além do seu horário.

Antes de Marcos falar qualquer coisa, Luna se levanta do chão e fica de frente para ele.

- Você já vai ter que ir embora?

- Sim, nos vemos amanhã.

Com um semblante desanimado a garota acompanha o segurança com o olhar, vendo ele desaparecer pela porta.

- Está com fome? - Pergunto para ela e Luna apenas concorda com a cabeça. - Pedi lanches para nós jantarmos.

Novamente ela apenas assente com a cabeça e ainda mantém seu olhos longe de mim, Luna suspira parecendo pensativa e volta para onde estava sentada.

[...]

- Você pediu hambúrguer e batata frita. - Ela parece surpresa ao ver minha escolha como janta para essa noite.

- Não gosta?

- Gosto muito. - Enquanto separo os lanches de cada um, Luna espera ansiosamente no outro lado da mesa.

Coloco em sua frente seu hambúrguer, batata frita e seu refrigerante, ela os pega e se senta na minha frente. Não do meu lado. Isso é uma coisa que havia percebido durante nossas refeições, ela começou a se sentar na minha frente ou com pelo menos uma cadeira de distância entre nós.

- Você pode abrir o refri para Lu-mim? - Dou uma breve olhada para ela quando se corrige.

Achei que depois de um tempo morando aqui ela pararia com essa besteira de se corrigir e de agir como ela não é.

Eu pego sua lata de refrigerante e abro.

- Você não precisa se corrigir, sabe disso não é?

- Se corrigir? - Ela fala bem baixo enquanto se encolhe na cadeira. Por mais que tenha perguntado, ela sabe exatamente do que eu estou falando.

Eu concordo com cabeça e como meu lanche normalmente.

- Você não liga?

- Se eu ligasse não chegaria perto de Benjamin e muito menos seria amigo dele.

Eu volto a olhá-la quando percebo que sua atenção está em mim e finalmente vejo aqueles olhos azuis.

- Eu sou um pouquinho tagarela, não vai ligar mesmo quando eu falar errado um montão de vezes? - Nego com a cabeça. - Tem certeza? Você não vai ficar bravo quando eu começar a falar errado...

- Era por isso que você só falava com Marcos e não comigo? - Interrompo Luna antes que ela continue com suas perguntas um pouco confuso. - Era medo de eu ficar bravo?

- Também.

- Também?

- E que... Você não gosta quando eu falo, então se eu falasse e ainda falasse errado, você poderia ficar bravo comigo...

- Quando eu disse que não gosto que você fale? - Pergunto.

- Você pareceu não gostar.

Tudo bem, posso ter deixado entendido no começo que eu não gostava da sua faladeira, mas agora eu não sei, talvez não me incomoda mais.

- Enfim, você não precisa ficar forçando algo, entendeu? - Encerro o assunto antes que eu pense demais sobre isso.

- Sim. - Luna diz com um grande sorriso, seus lábios estão sujos com molho do hambúrguer e seus olhos brilham como da vez que recebeu aqueles doces diabéticos.

Luna dessa forma me parece agradável para eu ficar olhando até o fim da noite.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora