Capítulo 22

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Luna

- Eu preciso de doce... Eu preciso de doce...

O chão da cozinha está bem geladinho, é mais confortável do que Luna achava.

Eu me sinto como um tapete, daqueles bem pequenos que ficam no banheiro.

- Eu preciso de doce... Eu preciso de doce... Eu preciso de doce...

Grayson nem liga que Luna está deitada aqui, ele apenas segue fazendo seu café.

- Eu preciso de doce... Eu preciso de doce...

Não sei quanto tempo estou aqui implorando por doce, mas faz bastante tempo.

- Eu preciso de doce... Eu preciso de doce...

É bem engraçado ver alguém desse ponto de vista, o Gray parece ser um gigante ainda mais gigante vendo daqui.

- Eu preciso...

- Se não quer ser pisoteada por mim é melhor se levantar daí.

- Eu preciso de doce... Eu preciso de doce...

Luna só ignora o Gray que nem ele está fazendo comigo, quem mandou não atender meus pedidos sofridos por doce.

Ele não entende minha necessidade por doces, ele é muito adulto para gostar de doce, se fosse mais novo ele saberia meu sofrimento.

- Vai mesmo ficar perdendo seu tempo aí?

Luna concorda com a cabeça e volta a falar.

- Eu preciso de doce... Eu preciso de doce...

Ele simplesmente sai andando para a sala sem se importar com a Luna jogada no chão da cozinha.

- Eu preciso de doce... Eu preciso de doce...

- Vai querer mesmo ficar aí e deixar seu coelho sozinho aqui na sala? Ele vai ficar chateado com você.

Sorrio com a tentativa falha do Gray em fazer eu sair daqui e ficar quieta. Mas a Luna é muito inteligente e conversou com o senhor coelho sobre meu plano de pedir doce, o senhor coelho também é inteligente porque ele super apoiou a Luna com esse plano.

Então essa tática não vai funcionar comigo.

- Luna precisa de doce... Luna precisa de doce...

- Daqui alguns minutos seu desenho animado favorito vai começar, vai querer perder o episódio? - Estou sendo muito forte, estou lutando contra a tentação que Gray fala. - Fiquei sabendo que é um episódio especial e vai demorar para passar novamente.

Resiste Luna, resiste.

- Luna precisa de doce...

Eu estou cansada de ficar falando isso, será que se eu ficar quieta Luna convence mesmo assim ele a comprar doces?

[...]

- Sabia que algo estava estranho.

Abro meu olhinhos rapidamente ao ouvir esse sussurro. Gray está olhando para a Luna com um sorriso no rosto.

- Você dormiu no meio do seu protesto. - Ele está zombando de mim, consigo perceber pelo tom da sua voz.

A não. Deu tudo errado. Luna estragou tudo. Como alguém dorme enquanto está protestando contra a proibição de doces?

- Vamos, levante daí, já ficou muito tempo nessa sua esquisitice. - Gray estende sua mão tatuada para a Luna. Eu pego a mão dele e me levanto com sua ajuda.

As costas da Luna dói, parece realmente que eu era um tapete e fui pisada, pisada por vários mamutes. Eu poderia ter pensado em fazer esse protesto no sofá, seria bem melhor que no chão.

- Está com dor?

- Uhum.

- Onde? - Eu coloco minha mão nas minhas costas. - Tenho um remédio para dores no corpo, você quer?

- É de gotinhas?

- Não, é comprimido.

Grayson mal termina de falar e Luna começa a choramingar.

Eu odeio, odeio, odeio remédio de pílula. Quando eles são em líquidos podem até ter sabor ruim, mas é mais fácil de tomar do que em comprimido, principalmente aqueles que desfazem com água.

Em cima da mesa Gray coloca o comprimido e do lado um copo de água.

- Só tomá-los.

- Eu prefiro morrer do que fazer isso. - Sendo bem dramática eu derreto no chão com a mão no coração.

- Não fale besteira, Luna, é apenas um remédio. - Nego com a cabeça. - Então vai mesmo ficar com dor? Não vai ser bom e pode piorar.

Sendo mais dramática ainda, fecho os olhos e coloco a língua para fora. Acho que é assim que alguém aparenta estar morto.

- Já que está morta posso enterrar, não quero um cadáver fedendo na minha cozinha.

Fico confusa ao ouvir as palavras de Gray, Luna tinha fingido tão bem em ser um morto que ele acreditou?

Em um segundo eu estava pensando em ser atriz, em outro eu estou sendo levantada de um jeito muito esquisito pelo Grayson.

- O que você tá fazendo!? - Estou de cabeça para baixo quando ele me pega como um saco de batatas. Cutuco suas costas com meus dedos, mas ele não para - Gray!

Eu ouço um arrastar de cadeira e no segundo seguinte estou sentada nela, Grayson coloca o remédio e o copo nas minhas mãos enquanto me cerca com seus braços.

- Enfie na garganta e engula.

- Você não é bom nas palavras...

Devagarzinho coloco a pílula na boca e para engolir preciso beber quase toda água.

- Engoliu? - Concordo. - Viu? Não precisava daquela encenação toda.

Ele tira o copo da minha mão ao se levantar.

- Você está muito dramática, mais que o normal. - Ele me encara com as sobrancelhas franzidas.

Estou mesmo, acho que estou para ficar nos dias vermelhos e só de pensar nisso me deixa com vontade de chorar. É tão ruim ficar nos dias vermelhos, Luna fica chorosa e com muitas cólicas, tanto que algumas vezes Luna virou uma bebê.

Um barulho de vibração faz o Grayson desviar seu olhar de mim e ele me deixa sozinha para ir até a sala.

Acho que era o celular dele fazendo aquele som, pois o barulho parou quando ele coloca o celular no ouvido.

Gray fica um tempo falando no celular e ele não está com uma expressão nada boa.

Me lembra no começo quando conheci ele e ele ficava com aquela cara de homem mal. Agora ele fica com uma expressão mais relaxada, com cara de gente legal.

Gray aperta seu celular com muita força e posso jurar que se apertasse por mais alguns segundos ele iria quebrar o celular.

Ele fala várias palavras feias, tipo muito feias, são iguais as que meu pai falava quando estava irritado com a Luna.

Grayson sobe para seu quarto e eu fico aqui no andar debaixo, especificamente no começo da escada.

Luna ouve algumas vezes barulho de porta fechando e só no terceiro barulho o Gray aparece descendo as escadas com uma mochila.

- Luna, passarei o resto do dia fora e provavelmente volto só amanhã pela parte da noite.

- O que!?

- Marcos está vindo para ficar aqui, você não vai ficar sozinha.

- Gray...

Ele nem me ouve, apenas continua procurando algo.

- Qualquer problema fale com ele e Marcos irá me comunicar. - Ele pega seu celular e um molho de chaves que nunca tinha visto. Ele segue caminho para a porta principal sem se importar com a Luna atrás dele.

- Grayson, espera...

Ele para por um breve momento e olha para mim.

- Vejo você depois.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora