Capítulo 23

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Grayson

Hipocrisia seria a minha se contasse que sinto o cheiro de morte no local, sendo que a vítima não chegou a esse estado do ciclo da vida.

O idiota grita quando enfio minha adaga em sua coxa, e seus urros de dor a cada vez que arranco uma unha sua me recordam o quanto estou cansado disso.

Não tenho mais paciência para torturas longas, prefiro ir direto ao ponto e acabar com suas vidas. Porém, alguns idiotas como esse merecem ter a vida um pouco prolongada em meio do sofrimento.

Perdi a noção do tempo que estou nesse galpão torturando, mas considerando que cheguei aqui de manhã e a noite já chegou, estou a um tempo considerável.

Quando engatilho a arma na minha mão, o idiota que estava rezando de olhos fechados se assusta com o barulho e abre os olhos. Seu rosto está pálido, quase semelhante ao que ele vai ficar daqui alguns segundos.

- Vamos acabar logo com isso. Estou entediado de ficar olhando você.

O homem a minha frente pede perdão pelo que fez, como se eu fosse um ser divino e ele estivesse de joelhos implorando pela sua misericórdia.

- Te vejo no inferno. - Aponto a arma no meio de seu rosto e puxo o gatilho pondo fim na sua vida.

Seu sangue podre respingou um pouco em mim e uma pequena poça de sangue se acumula em baixo do cadaver que caiu da cadeira.

Solto um suspiro ao encarar toda essa bagunça.

Hora de limpar o local do crime e para mim essa é a parte mais entediante. Eu poderia colocar outra pessoa para fazer esse trabalho, porém, a confiança não é meu forte em uma situação como essa.

Como eu confiaria em alguém para limpar uma cena do crime onde eu estava participando?

É arriscado demais.

[...]

John pediu para encontrá-lo depois de eu terminar todas as etapas do meu trabalho, ou se preferir chamar, minha cena do crime.

Eu já deveria estar acostumado com sua presença, porém o incômodo em meu peito continua aqui.

Pareço como uma criança, aquela criança que se deu conta que tudo havia mudado para pior, e sim, tinha como piorar a vida para aquela criança.

Encontro meu chefe na sua sala de jogos, a famosa sala que ele traz seu "colegas" para trocar papo furado. Ele está de costas para mim e em seus dedos está um cigarro aceso, e em sua outra mão segura um taco de sinuca. Seu cabelo parece mais grisalho do que a última vez que nos encontramos.

Seria tão simples, eu poderia pegar minha arma da cintura e dar um tiro fatal nele. Ele não teria nem tempo de reagir e eu estaria livre de suas mãos sujas.

Porém, as coisa não são simples assim, qualquer movimento estranho que eu fizesse seria o motivo pela minha morte, seus seguranças não deixariam passar nem um movimento em falso.

E mesmo se eu conseguisse o matar, sei que a próxima morte seria a minha. John tem muita influência em suas mãos, tanta que eu não sairia impune mesmo estando escondido em uma ilha deserta.

John sabendo que estou no ambiente, me entrega outro taco sem olhar para mim, contra minha vontade pego. A última coisa que quero é passar mais tempo nessa cidade com meu chefe.

Nas primeiras tacadas ninguém fala nada e a cada segundo que passa me pergunto o porquê que ele me chamou aqui, duvido muito que só queria uma companhia para jogar sinuca.

- O que fez com ele?

- Você não especificou as torturas, então só arranquei suas unhas, usei a adaga em alguns lugares do seu corpo e por fim atirei em sua cabeça.

- Tem planos para ficar mais tempo na cidade?

- Não. - Me limito na minha resposta e John sabe que não vai conseguir outra resposta de mim.

Meu chefe balança a cabeça em concordância, mas há uma ruga em seu rosto.

- Está com pressa para ir embora? - Sua pergunta me faz paralisar por alguns segundo.

- Não. Por que a pergunta?

John me encara pela primeira vez desde que entrei nesta sala, faço minha melhor cara de desentendido e ajo normalmente, ajo como se eu não tivesse motivos para querer voltar mais cedo para casa.

- Você costuma prolongar mais seus trabalhos, principalmente as torturas.

- Acho que é a idade chegando, não tenho mais paciência para ouvir súplicas de desgraçados como antes. - Posso estar usando meu tom de brincadeira, mas nada é divertido.

- Idade chegando? Você ainda é novo, garoto. - Ele tenta descontrair com uma risada. - Velho está eu que tenho dobro da sua idade.

Infelizmente vaso ruim não quebra, se não, John já estaria a sete palmos do chão. Com tantas bebidas, drogas e cigarros usados por ele ao longo da vida, é impressionante ele estar com 56 anos e não ter morrido ainda.

Finalizo o jogo ao bater na minha última bola de bilhar, assim vencendo.

- Irá precisar de mim para mais alguma coisa?

- Não por agora, incrivelmente poucas pessoas estão sendo idiotas.

As pessoas que ele se refere são os seus clientes e as pessoas que tem coragem de o enfrentar. Meu chefe como um bom agiota torce para atrasos de pagamento e assim cobrá-los com a morte.

- Quando eu precisar te chamarei.

Eu concordo e dou um aceno como despedida. Até eu sair da sala sinto minhas costas queimando com o olhar de John.

O caminho todo para casa repasso minha estranha conversa com meu chefe, por que ele me chamaria para apenas fazer perguntas que não levam a lugar algum?

Seja o que for que ele está pensando, eu tenho que tomar cuidado, pois John é capaz de notar as coisas até nos mínimos detalhes.

Hoje foi um exemplo, o simples fato de eu não ter estendido mais a tortura, já foi motivo de desconfiança.

[...]

Chego em casa por volta das três da madrugada, Marcos já foi embora, ele trocou de lugar com outro segurança assim que Luna foi para a cama.

Falando da mesma, provavelmente a garota deve estar dormindo, pois ela não está me esperando no sofá como nas vezes que volto do trabalho.

Subo para o meu quarto e tomo um banho. Fico um tempo de baixo do chuveiro aproveitando a água quente.

Após sair do banho coloco apenas a calça de moletom e arrumo a temperatura do ar-condicionado. Eu estava preste a deitar na cama quando um pensamento me vem a mente.

E se eu fosse ver a Luna? Só para ver como está já que não vi ela hoje.

Não sei o que deu em mim, a garota vai estar dormindo, do que adiantaria eu ir vê-la?

Eu não compreendo de onde saiu essa vontade, mas quando me dou conta já estou com a mão na maçaneta do quarto da garota.

Abro a porta devagar para não fazer barulho. Luna está dormindo encolhida na cama e me surpreende ela não está com sua pelúcia em seus braços. No caso, seus braços estão enrolados em volta da sua barriga, como se estivessem protegendo algo.

Chegando mais perto dela, noto que sua feição não está suave ou serena como tenho visto outras vezes, parece mais que algo está a incomodando.

Coloco a uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha para poder observar melhor seu rosto. Em alguns momentos seus lábios rosados tremem e seus olhos se apertam, é como se estivesse preste a chorar.

Será que está tendo pesadelo?

Relutante me afasto da sua cama e volto para meu quarto. Se for algo que realmente estiver a incomodando, ela irá acordar e me procurar por ajuda, não é?

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora