Capítulo 17

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Grayson

Uma semana depois:

Minhas noites tem sido um inferno, é como se o capeta tivesse decidido me levar mais cedo para estar ao seu lado.

Os pesadelos pioraram. Antes, apenas pessoas mortas ou sendo mortas apareciam para mim, porém, nos meus sonhos atuais a causa da morte dessas pessoas sou eu.

Mato minha mãe com uma bala em seu crânio assim como John matou meu pai. Mato meu pai a facadas ainda criança no último dia que vi minha mãe. Mato Adam afogado em uma privada. Mato Marcos com socos em seu estômago. Mato Olivia ao cortar sua cabeça com um machado. Mato Benjamin o enforcando. Mato Nicholas desmembrando seus ossos. Mato Luna arrancando seu coração com as mãos.

Todos os dias é uma pessoa diferente com uma forma de morte diferente.

Como irei encarar essas pessoas sendo que sou o motivo de suas mortes?

Ainda não encontrei uma maneira de acabar com os pesadelos, então estou me mantendo o mais afastado que consigo de todos, assim não tenho que lidar com a perturbação ao ver aqueles rostos pessoalmente.

Me manter ocupado com o trabalho pelo menos tem ajudado a não deixar meus pensamentos fluírem, por que quando deixo os pensamentos entrarem, eles não saem tão facilmente.

Mesmo não querendo pensar, eu não posso me dar o luxo de não pensar, pois há tantas coisas que tenho que cuidar e me responsabilizar.

Primeiro, o aniversário de minha mãe está perto e tenho que resolver sua papelada do sanatório.

Segundo, tenho que resolver a situação da Luna com a escola, pois suas faltas começarão a ser preocupantes e as coisas podem complicar caso a escola decida ir procurar seu responsável.

Terceiro, John não precisa de meus trabalhos faz um tempo. O que é meio cômico de se pensar, pois o fato de ele não estar me mandando matar alguém é o motivo da minha desconfiança.

Quarto, tenho uma garota morando debaixo do meu teto, e com esse motivo e o terceiro me levam ao próximo motivo.

Quinto, a última conversa que tive com meu chefe me levantou questionamentos. Como um cara como ele, que tem a vida de todos em sua volta na palma da mão, não sabe sobre a filha de seu ex contratado?

Algo não me parece certo. As peças não estão se encachando.

Estou divagando demais.

Por hoje ser sábado me permito ficar mais tempo na academia. Isto provavelmente é o único hábito saudável que John me forçou a criar. Aquelas manhãs correndo em volta da sua casa ou as sequências de exercícios físicos serviram para alguma coisa, pois tenho um bom físico que me garante mais alguns anos de vida.

Termino minha rotina da manhã ao sair da academia e vou a caminho do meu quarto. Quando passo pela sala não vejo Luna e ao passar pelo seu quarto sua porta está fechada e nem consegui ouvir sua voz, então provavelmente ainda está dormindo.

Tem dias que a garota acorda mais cedo para me acompanhar na academia ou ficar de preguiça no sofá, porém tem dias como hoje que nem seu desenho favorito consegue fazê-la sair da cama cedo.

[...]

No momento estou recarregando meus armamentos de trabalho, especificamente as facas. Confesso que não uso todas, eu as tenho em maioria por eu apenas gostar e querer colecionar.

Minha pequena sala de armas pode parecer um pouco assustadora, mas para mim é a coisa mais bonita que mantenho.

Algumas armas estão presas na parede atrás de um vidro, sendo iluminadas pela luz branca.

Há alguns instrumentos de tortura nas gavetas e outras coisas que uso para descartar meus cadáveres.

- Gray! - Sou interrompido quando ouço um grito abafado.

Rapidamente volto para o escritório após trancar a sala de armas, o grito continua e felizmente ele está abafado por conta da porta estar fechada, se não, Luna estaria completamente aterrorizada ao ver a sala de armas.

Abro a porta segundos antes da garota gritar novamente, quando me olha da um sorriso envergonhado e coloca sua pequena mão na boca.

- Desculpa gritar... É que você não tava ouvindo a Luna. - Encaro aqueles olhos azuis que me analisam a espera de qualquer atitude minha.

- O que você quer?

- Eu quero beber água. - A confusão em meu rosto é o suficiente para ela se explicar sem eu perguntar nada. - Eu não alcanço os copos, lembra? Da última vez você ficou bravo por eu ter subido no banquinho para tentar pegar.

- Não há nenhum no lava louça que possa utilizar?

- Nenhum. Antes de vim te incomodar eu procurei em todos cantos que eu conseguia alcançar e não encontrei nenhum.

Solto um suspiro pela boca ainda encarando a garota. Luna meche sua mão em ato nervoso, até parece que está com medo de mim.

- Vamos descer.

Fecho a porta do escritório e sou acompanhado por Luna até a cozinha.

Pego o copo sem nenhuma dificuldade dentro do armário, ato que Luna só faria se estivesse com um banco ou se o armário fosse mais baixo.

Não sei a altura exata de Luna, no entanto, ao comparar ela comigo que tenho 1,94, ela não chega nem aos meus ombros.

- Lembrarei de deixar um copo para você.

Luna levanta a cabeça para olhar para mim e sorri.

- Obrigada.

[...]

Minha dispensa está ficando vazia, foram poucas coisas que sobraram, então hoje para o almoço eu preparei coisas simples, como macarrão com almôndegas e legumes levados ao forno. E para uma melhor digestão fiz suco com maçãs e laranjas.

Nunca sei se a comida é do agrado de Luna, pois ela nunca faz nenhuma reclamação. De qualquer forma ela sempre come tudo e em alguns dias faz até repetições.

Para minha surpresa, durante essa semana nossas refeições são silenciosas, Luna não faz nenhuma pergunta ou tenta começar papos aleatórios, até me lembrou dos tempos que eu fazia minhas refeições sozinho.

Na verdade, minha casa era mais silenciosa antes de Luna vir morar aqui. Não havia barulho de TV passando desenhos animados, conversas parelelas com meu segurança ou de brincadeiras com um coelho de pelúcia.

Minha casa se parecia muito mais comigo antes de Luna chegar. E estranhamente não me incomoda o fato que a casa estar aos poucos aparentando pertencer a ela também.

Não me incomoda mais seus desenhos estarem espalhados pela casa, suas noites de cinema no sofá, suas cantorias tão altas durante o banho ou até mesmo seus falatórios quando está sozinha com sua pelúcia.

Os dias foram passando e sem eu notar, a presença da garota não era mais um incômodo. E isso não me parece algo bom. Isso não vai acabar bem.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora