Olhos Azuis

Capítulo 46

Grayson

O plano deu errado.

E não deduzo isso pela situação que me encontro, em um lugar desconhecido com os pés acorrentados assim como as mãos acima da minha cabeça. 

Havia deduzido isso no momento que Aaron não apareceu e quando recebi a mensagem de Octavia.

Quem diria que o velho ainda teria inteligência e capacidade para me prender.

Sinto minha cabeça está explodir de dor, principalmente do lado direito onde levei o soco de John.

Para muitos, esse seria o momento que desistiriam de tudo e não veriam motivos para lutar, mas comigo não funciona assim. E é por isso que mesmo com dor, eu faço o possível para me manter estável, mesmo quando recebo choques e a tentativa suja de manipulação de John.

Parei de contar a rodada que estou de tortura após a segunda. Estranhamente John, apenas permaneceu com as agressões em alguns lugares do corpo e os choques.

Cada vez que sinto o choque no meu corpo, ajo como se o chip rastreador em meu braço não estivesse queimando minha carne por dentro, e torço para que ele não sofra nenhuma alteração, assim Octavia conseguirá me localizar sem dificuldades.

- Vai permanecer quieto? - John limpa a mão que estava alguns segundos atrás em meu rosto.

O gosto metálico ficou em minha boca e vejo que há vestígios do meu sangue em sua mão, é por isso que ele limpou a mão, ironicamente John odeia se sujar com sangue.

Posso nessa situação humilhante e com a aparência horrorosa, mas não abaixo minha cabeça e desvio meu olhar nenhuma vez.

O que está me mantendo dessa maneira é saber que nesse momento Luna está segura com Marcos. Dei uma ordem clara para ele, qualquer sinal que o plano saiu do planejado, ele deve sair de casa com a garota - no caso de irem atrás dela lá - e a protegê-la. A segurança dela é minha prioridade.

- Vinte anos trabalhando juntos?

Ele sabe exatamente quantos anos eu estou preso em suas mãos, ele apenas quer vangloriar a si mesmo e fazer seu discursinho. Típico.

- E ainda assim acreditou que conseguiria esconder algo de mim, pior, esconder que deixou minha sobrinha viva.

Faço o impossível para manter minha expressão neutra, mesmo estando completamente abismado com a nova informação.

John é tio da Luna?

- Fui paciente e dei um tempo para você confessar o que fez, semanas passaram e nada veio de você, sequer uma menção sobre a garota. Até cheguei pensar que você apenas não sabia da existência dela e a queimou junto com o pai.

Só eu sei o quanto agradeço por ter ouvido Luna naquela noite e a ter trazido para casa, mesmo que essas ações tenham me trazido para a atual situação.

- Mas então a ruivinha, Júlia era o nome dela, ela só confirmou o que eu já desconfiava. - John sobe as mangas de sua blusa. - Você não só encontrou Luna, também a manteve com você em segredo.

Diversas vezes o olhar de desprezo do John foi direcionado a mim, felizmente nunca me afetou. Meu chefe não deve se lembrar do homem que convivi antes dele, talvez eu até devesse agradecer meu genitor por isso, para algo ele serviu.

- Eu estou disposto a esquecer esse erro grotesco, Grayson, realmente estou. - Se o diabo sorrir ele deve se assemelhar a John sorrindo. - Apenas mate a garota e eu deixarei esse evento para trás, esquecerei que você agiu pelas minhas costas.

- Matar sua sobrinha? - Faz tantas horas que estou sem falar que quase esqueci como soa minha voz.

Odeio usar essa palavra, odeio saber que há esse nível de parentesco ligando John e Luna.

- Era para o idiota do meu irmão ter feito isso muito tempo atrás. Apenas estou pedindo para fazer algo que ele nunca teve coragem de fazer.

John é podre, tanto por dentro quanto por fora, ele nunca fez questão de esconder isso, não sei porquê ainda fiquei surpreso com suas palavras.

- Além do mais, essa garota só está atrapalhando você, ela tirou toda sua concentração do trabalho.

- Não irei matar ela. - Falo com tranquilidade.

Nunca que estarei abrindo mão da única coisa boa que aconteceu em minha vida, não estarei abrindo mão de Luna. Pior ainda, matar ela.

- Acredita mesmo que a vida dela vale mais que sua?

- Sem dúvidas.

Luna é um anjo na terra. Sempre se preocupa com o bem estar do próximo, é gentil, carinhosa, mede suas palavras para não machucar o outro, o rancor não existe nela e outros mil motivos. Então sim, definitivamente a vida dela vale mais que a minha, de qualquer um na verdade.

- Eu te criei melhor que isso.

- Destruiu, é a palavra mais adequada.

Minhas palavras são desferidas com ódio. Como ele ousa a achar que deu algo além de sofrimento para o meu eu criança, algo bom ainda por cima.

- Fale como quiser, não me importo.

John tem uma faca em mãos, achei que começaria outra rodada de tortura, mas não, ele apenas a guarda em uma capa e com a mão livre ele retira um celular de seu bolso.

- Voltarei mais tarde, quem sabe você mude de ideia. - Ele digita algo no celular e caminha para a porta.

Nos segundos em que a porta se abriu, foi possível ver dois homens armados. John desaparece pela porta e suspiro com o alívio temporário.

O ambiente que estou é fechado, sem janelas ou aberturas além da porta. Acredito que eu só conseguirei ouvir algo de fora caso o barulho for muito alto, pois ao julgar de longe, as paredes são de concreto.

Se eu estivesse amarrado com cordas ao invés de correntes, seria mais fácil de se livrar delas, mas isso não significa que seja impossível de quebrá-las.

Não estou tão distante da mesa com a faca, se eu conseguir me desprender pelo menos uma mão, vai ser o suficiente para eu pegá-la, desprender minha outra mão e os pés e ter um meio de defesa contra John quando ele entrar. O problema está depois daquela porta, não tenho noção de quantos homens armados estão fora ou o que tem lá fora.

Ao ver a aparência da corrente por fora, ela é menos grossa do que normalmente seria e está enferrujada em sua maior parte. Se eu forçá-la o bastante elas estouram.

Agora é a hora de saber se meus treinos da academia servirão para algo.

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Desculpem o horário da postagem, acho que meu wattpad tinha bugado e não tava deixando eu postar antes, mas agora foi.

Espero que estejam gostando da história!