Olhos Azuis

Capítulo 6

Grayson

A escuridão me cerca, uma água também escura está abaixo de meus pés. A sensação é de estar acima do mar, onde não sei a sua profundidade e do que pode estar me esperando lá no fundo. Encaro meu reflexo na água e vejo meu rosto de oito anos e meu corpo também.

Tudo isso é muito estranho. Nunca estive em um lugar como esse, principalmente com essa idade.

Olho em minha volta novamente, parece que não há fim a onde estou. Tudo é uma escuridão que não parece acabar em algum lugar.

Ando um pouco pelo lugar, confirmando que realmente não parece ter fim. Em um momento eu paro de caminhar quando vejo dois corpos deitados no chão.

Vou chegando mais perto para saciar minha curiosidade, mas no momento em que estou em frente a eles, o arrependimento me consome.

Minha mãe está com seu corpo deitado de lado, seu rosto era mais cinza que os dias nublados. Sua camisola hospitalar está ensanguentada, o sangue vindo dos seus pulsos escorrem para a água. Sua aparência está mais velha desde a última vez que a vi.

Eu também reconheço o outro corpo. Meu pai. Ele estava virado para cima, uma bala estava alojada no meio de seu crânio e um líquido preto escorre desse buraco. Apenas um olho está na cabeça dele e sua boca parece ter virado uma casa para os insetos.

Tento dar um passo para trás ao me sentir afetado com as imagens a minha frente, porém minhas pernas estão presas ao que me parece ser mãos. Aos poucos sinto a água escura me consumir por completo, dos pés a cabeça e ainda em frente daqueles dois corpos.

Aperto com muita força o braço da cadeira. Minhas respiração está desregulada assim como meus batimentos cardíacos, sinto como se realmente eu tivesse sido afogado. Uma dor aguda preenche minha cabeça, parece que vai me explodir por completo.

Passo minhas mãos pelo meu rosto e meu cabelo de forma frustrada. Essas merdas de pesadelos voltaram para me atormentar.

Fazia algum tempo que eles não apareciam, eu devia ter desconfiado. E parecem estar piores, nunca tive pesadelos desse tipo, ainda mais com meus pais.

Se pelo menos fosse apenas pesadelos eu estaria um pouco melhor, o problema é o combo de problemas que vem junto. A insônia, a irritabilidade, as dores de cabeça e o estresse.

Me levanto da cadeira com as costas totalmente desconfortável, pegar no sono na cadeira do escritório não foi das minhas melhores ideias.

Ao sair do escritório o ambiente fica escuro, não há nenhuma luz ligada pela casa além das áreas de fora. Passo pelo quarto de hóspedes e encontro Luna esparramada pela cama enquanto dorme junto com sua pelúcia de coelho. Eu fecho a porta do quarto e continuo meu caminho para o andar de baixo.

Encontro alguns de meus remédios em cima do balcão da cozinha, pego um em específico para dores e tomo.

Após tomar água e deixar o copo na pia, percebo que tem um prato, talheres e outro copo colocados de lado após lavados. Luna possivelmente comeu algo antes de dormir e lavou o que usou.