6. Pensamentos confusos

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"Não tenha medo de mudar. Você pode perder alguma coisa boa, mas você pode ganhar algo ainda melhor."

Sunamita Vieira de Carvalho

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Quando vi Harvey ali parado no meio do quarto apenas me esperando para ter uma conversa, logo compreendi que seria sobre meu comportamento dos últimos dias e tive vontade de dar meia volta e ir embora dali. Sair correndo para o primeiro andar e fingir que estava ocupado demais para ter aquela discussão.

Porque, sim, Harvey provavelmente desejava discutir a relação ou algo parecido e eu não estava com paciência alguma para isso. Não depois de lavar banheiro de hotel, além de limpar coisas sobre as quais eu não quero nunca mais lembrar na minha vida.

Além disso, eu tinha receio do que o rapaz que dizia ser meu marido poderia fazer se descobrisse o que estava realmente acontecendo ali. Imagine se eu simplesmente abrisse a boca para dizer que tudo aquilo não era a vida real. Imagine se eu dissesse a ele que daqui alguns dias, meses ou anos (por favor, que sejam dias, poucos dias), aquela família formada por obra do universo seria apagada com borracha e suas cinzas desapareceriam com o vento. Eu nunca esquecia a possibilidade de ser enviado a um hospital psiquiátrico, porque eu temia muito ser mandado para lá.

— Luc — ele começou e travei na entrada do quarto, arregalando os olhos temerosamente e parando com cautela em uma distância segura. Harvey simplesmente suspirou e deixou o ar de seus pulmões saírem, fazendo um gesto em seguida para que eu me aproximasse. — Vem aqui — Pediu e demorei um tempo para fazer isso, pois, afinal, eu não o conhecia e não sabia se podia confiar no homem à minha frente.

Com passos lentos e difíceis, aproximei-me de Harvey e fiquei bem de frente para ele.

Pude notar um pouco de nossa diferença de altura e ela não era muita agora que ele não estava vestindo suas botas de cano curto.

Harvey parecia cansado, pois seus olhos estavam caídos e havia uma expressão apática preenchendo seu rosto, carregada de algo que eu não conhecia, mas que provavelmente para outro Luc deveria ser familiar.

Inferno! Isso é tão confuso.

Harvey segurou minhas mãos, pegando-as com cuidado e colocando-as entre as dele e pude, pela primeira vez, sentir o quanto elas eram ásperas e quentes. Grandes também. E cheias de anéis dos mais vários modelos, tamanhos e carregando pedras de todos os tipos — mas que eu sabia que não deveriam valer muita coisa.

Engoli em seco, abaixando o olhar para encarar o chão e fechando os olhos em seguida, esperando pela enxurrada de perguntas que viriam.

— Eu te conheço o suficiente para saber que há algo de errado, Luc — ele começou. — E não é só a dor de cabeça, porque, da última vez que pegou um resfriado, você quis que eu ficasse do seu lado, te cuidando como se fosse um filhote de gato, o tempo inteiro. Foi uma semana inteira assim... e isso não aconteceu dessa vez.

Levantei o olhar rapidamente e tentei pensar em algo para dizer que me salvasse do que quer que fosse que estava por vir.

— Harvey, eu não--

— Deixe-me terminar — pediu sério e me calei. — Eu só estou querendo saber o que está acontecendo. Você comprou comida pronta, Luc, e fingiu que tinha preparado ela. — Mas como...? Como ele pode saber disso? Minhas bochechas coraram em constrangimento. Principalmente pelo modo como Harvey disse aquilo. — Eu conheço você, já te disse — respondeu aos meus olhos arregalados de espanto. — E fiz Lily me contar que você se atrasou para buscá-los. Uma hora de atraso.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora