26. Marido de outra realidade

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"Crie a vida para a qual você não consegue acordar."

Josie Sainardi

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— O que você disse? — foi o que Harvey questionou, achando engraçado.

— Luc veio conhecer o quarto que você quer alugar — o loiro chiclete repetiu. — Foi sobre ele que falei com você noite passada.

A risada que antes se formava foi substituída por um franzir de sobrancelha no mesmo instante em que Harvey viu a expressão confusa de Noah.

Harvey demorou muito mais do que meros segundos para dar espaço e nos deixar entrar. Ele demorou tanto que até o loiro o fitou confuso e com as sobrancelhas extremamente franzidas.

Depois de Noah dizer algo como "eu realmente não quero ficar aqui parado em frente a sua porta por meia hora", meu marido de outra realidade mordeu os lábios por um momento, parecendo pesar tudo o que estava acontecendo, e nos deixou entrar um segundo depois. Puxou a porta de forma lenta e nos deu espaço.

Eu não demorei muito para adentrar o ambiente, é claro.

Meu último desejo era de que Harvey tivesse alguma chance de fechar a porta em minha cara e, portanto, dei passos largos em direção à entrada do apartamento.

E não era um apartamento ruim, sendo sincero.

Com uma rápida olhada, pude perceber que o ambiente era bem iluminado com paredes brancas, piso escuro, móveis antigos, porém em bom estado, e tudo bem aconchegante.

Enquanto observava tudo rapidamente, ouvi o som baixo da porta se fechar e os pés de Harvey. Afinal, estávamos em sua casa e ele supostamente deveria apresentá-la a seu convidado.

Supostamente.

Essa palavra já foi associada por mim de uma forma diferente, pelo que bem me lembro, porém aquilo tudo era em uma situação diferente e eu não poderia chamar Harvey de "meu marido" ou "meu suposto marido" e nem esperar que ele estivesse sustentando em seu dedo uma aliança com o meu nome.

Eu não poderia esperar nada disso. Não nessa realidade.

— Esqueceu que teria visita hoje? — Noah perguntou divertido, mas havia algo em seu tom que me deixava com a sensação de que ele estava sondando por algo. Como se estivesse desconfiando do comportamento de Harvey. Loiro chiclete não fazia ideia de que eu era a razão para as atitudes do outro.

— Não, eu só, hm... — Harvey lançou um olhar em minha direção e notei o nervosismo que tentava esconder. Ele estava visivelmente desconfortável. Eu sabia que a última coisa que ele desejava no momento era me ter por perto. — Me distraí... — Mordeu os lábios novamente, com sua nítida mentira escapando por eles, e olhou para todos os lados, evitando descaradamente cruzar seus olhos com os meus.

— Ok... — Pelo menos, Noah também não parecia muito convencido com aquela resposta. — E então Luc? Excitado para conhecer seu talvez futuro novo colega de quarto?

Com isso, Harvey fez uma expressão totalmente desgostosa. Era como se ele estivesse com uma súbita ânsia de vômito, porém, como a pessoa civilizada pela qual eu estava lutando para me tornar, ignorei e dei um sorriso grande, porém totalmente falso, para o loiro chiclete.

— Se Harvey não se importar em me deixar conhecê-lo... — Abri um sorriso pequeno.

Harvey permaneceu sério, no entanto. Não deu nem mesmo um sorriso para aliviar a situação embaraçosa na qual nos encontrávamos e nem mesmo tentou disfarçar seu desconforto para Noah diante de tudo aquilo.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora