24. Fantasmas do passado

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"Os erros têm o poder de transformá-lo em algo melhor do que você era antes."

Oscar Auliq Ice

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O vento gelado batia contra meu pescoço e tentei protegê-lo com a touca da jaqueta, abraçando meu próprio corpo em seguida e fechando um pouco mais o agasalho para que o vento cortante não tivesse chance de me atingir. Já estávamos no início de um período frio do ano e eu não queria ter o risco de ficar doente. Afinal, sempre fui muito sensível sobre isso. A minha sorte foi o fato de que não demorou muito para que eu chegasse ao café que me cativava somente pelo cheiro gostoso que dele vinha.

Assim que abri a porta do estabelecimento, um pequeno sino anunciou minha entrada e a primeira coisa que notei foi o fato de que, além do espaço ser grande, bem distribuído e aconchegante, o local se mostrava muito bem iluminado, mesmo apresentando algumas paredes pintadas em tom de preto. Tinha um toque vintage em todo o espaço e acreditei que em dias de inverno seria um bom lugar para se passar uma tarde.

Mesmo que não fosse exatamente o local que eu quisesse ficar agora.

Preferia o aconchegante sofá com um buraco no canto enquanto ficava enrolado nas cobertas desfrutando do carinho de Lily, Jamie e Harvey, porém eu não tinha mais essa opção para poder escolhê-la.

Portanto, dirigi-me à fila do caixa e olhei para as opções mostradas em uma tela grande na parte de cima de uma das paredes do local, pensando se iria de chá mate ou se escolheria dessa vez algum outro tipo. Descendo os olhos para olhar o local mais uma vez, no entanto, deparei-me com a figura ilustre do loiro chiclete atendendo os clientes e anotando os pedidos do pessoal que se encontrava na fila onde eu estava.

Sorri com isso.

Não acreditava que o mundo poderia ser tão pequeno a ponto de encontrá-lo mais uma vez.

É claro que eu não sentia tanta a falta de Noah, afinal, nem mesmo pensei muito sobre ele depois que voltei para a minha realidade — só umas duas, três, cinco vezes, talvez —, mas era bom vê-lo novamente. Era melhor ainda vê-lo sem que ele me reconhecesse, assim eu não teria que enfrentar seus abraços de amassar ossos e quebrar costelas.

Era bom.

Era ótimo!

Talvez um pouco esquisito e havia uma estranha sensação de mal estar na boca de meu estômago.

— Bom dia — o loiro chiclete me cumprimentou animado, assim que tomei o primeiro lugar da fila da cafeteria.

Respondi com um sorriso pequeno e coloquei as mãos dentro do agasalho, mas, mesmo lá dentro, o frio ainda me afligia.

Por alguma razão, eu queria conversar com Noah, muito mais do que fazer meu simples pedido. Havia uma necessidade crescente em relação a isso dentro de mim.

— O que deseja? — perguntou.

— Bem... — Pensei um pouco mais. — Um chá e, hm... O que pode me sugerir? — arrisquei na tentativa de iniciar uma conversa. — Não sei o que seria bom para acompanhamento.

O loiro chiclete pareceu ficar extremamente feliz com meu pedido, dando um sorriso de orelha a orelha e concordando com um aceno, como se compreendesse o meu problema.

— Vejamos... — Ele deu uma olhada no painel atrás dele e avaliou. Parecia estar levando muito a sério aquilo e tive de morder o lábio inferior para conter uma risada. — Prefere doce e salgado? — Olhou para mim novamente.

— Acho que salgado.

— Temos croissant, misto quente, panquecas...

Misto quente fez minha barriga roncar, mas não de modo tão alto para alguém conseguir escutar.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora