"Começar tudo de novo não é tão ruim assim ... Porque quando você reinicia, você tem outra chance de fazer as coisas certas."
Shrikant Gaikwad
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Pessoas como eu não merecem segundas chances.
Era essa a frase que eu repeti em minha cabeça durante muito tempo e várias e várias vezes, mas mesmo assim no final do dia eu acabei não permitindo que essa ideia fosse completamente absorvida. Não me permitia abrir mão de estar mais uma vez reunido com Harvey e as crianças. Não queria tomar um rumo diferente e os deixar tocarem a vida pertencente a essa realidade e que nada tinha relação comigo.
Eu queria me colocar em seus caminhos como uma pedra pesada demais, não dando chance para que me tirassem dali com simples chute despreocupado.
Eu não conseguia abrir mão deles, por mais egoísta que isso pudesse soar.
Por isso, todas as tardes, eu passava em frente ao orfanato Clifford e procurava por Lily e Jamie. Encontrava a garotinha vez ou outra e, sempre que a via, ela estava brincando na companhia apenas de uma boneca velha. Apesar de sempre ignorada pelas demais crianças que se encontravam no pátio, Lily rapidamente abria um sorriso quando sentava em um local mais afastado e colocava sua boneca no colo. No entanto, eu sentia meu coração ficar dolorido todas as vezes em que tinha de observar aquela cena, pois não era de meu desejo ver Lily tão sozinha como daquele modo.
Mas o que mais me frustrava era o fato de que todas as vezes em que eu ia até a frente do orfanato Clifford para ver Jamie e Lily, em nenhuma delas encontrei o bebê babão que só fazia a saudade dentro do peito aumentar em proporções estratosféricas.
Eu não sabia ao certo se os menores ficavam em berçários ao invés de irem para o pátio ou se o local em que brincavam era escondido dos olhos curiosos dos pedestres, a única coisa que eu tinha certeza era de que eu precisava saber se Jamie ainda estava naquela instituição. Ou se sequer pertenceu em algum momento a ela.
Eu precisava descobrir um modo de andar por toda aquela instituição à procura de Jamie, sem que fosse suspeito o suficiente para que alguém chamasse a polícia.
Por isso, fingir que eu era alguém casado e interessado em adotar uma criança não seria de muita serventia, visto que eu teria um acesso muito limitado ao interior do local. Além disso, no máximo eu conseguiria vê-las de perto uma única vez. E depois? Como faria? Iria fingir de novo e rezar para que ninguém percebesse que era a mesma pessoa querendo conhecer as mesmas crianças sem nenhuma certeza de que realmente iria adotá-las? Afinal, a dificuldade que pessoas solteiras tinham para adotar era cinquenta vezes maior que a de pessoas casadas.
Com isso, por um bom tempo, acabei não fazendo ideia de como explorar a instituição até o dia em que uma faixa foi pregada nos portões do Orfanato e chamou minha atenção.
CONTRATA-SE AUXILIAR DE LIMPEZA
Era isso! Bingo!
Um sorriso de orelha a orelha tomou conta de meu rosto no momento em que vi aquela faixa.
Essa seria a minha chance de me aproximar das crianças: trabalhar como auxiliar de limpeza no Orfanato Clifford.
Eu precisava conquistar esse emprego.
Foi então que, no mesmo dia, voltei correndo para casa e comecei a elaborar um bom currículo, sendo na maior parte do texto verdadeiro em meus apontamentos. Por mais que tivesse acontecido em outra realidade, coloquei que tinha experiência com limpeza após trabalhar durante certo período em um hotel e fiz questão de acrescentar todo e qualquer emprego que tive em minha vida inteira, mesmo a lista não sendo muito extensa.
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Destino Estranho
RomanceLuc Thornton sempre foi muito ambicioso. Ele não consegue esconder a inveja que sente de todas aquelas pessoas que têm carros luxuosos, mansões em bairros nobres, que fazem viagens extravagantes e que possuem dinheiro de sobra no bolso. Luc inveja i...