44. Anjo ranzinza

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"Se alguém realmente deseja fazer parte da sua vida, ela se esforçará seriamente para fazer parte dela. Não há razões. Sem desculpas."

Moni Dey

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Assim que entrei em minha caminhonete, passei a dirigir em direção ao orfanato com o coração palpitando de modo rápido dentro do peito, porém resolvi fazer uma parada em uma confeitaria para comprar dois cupcakes para os meus filhos e entregar a eles o presente assim que tivesse oportunidade — fato que talvez acontecesse depois que eu os tirasse da instituição e estivesse me locomovendo apressadamente para o apartamento.

Os cupcakes que comprei eram de chocolate e cheios de cobertura e sorri ao imaginar o rosto lambuzado e corado de felicidade de Lily e Jamie. Tive também de criar muita força de vontade para não acabar mordendo um pedaço de cada um dos cupcakes e me obriguei a afastar a desculpa de minha mente de que queria fazer isso só para provar e conferir se estava muito bom para meus filhos. Eu estava sendo um tremendo de um guloso, somente isso, mas acredito que era devido à minha ansiedade. Estava prestes a fazer algo que me colocaria em uma situação extremamente complicada e nervoso o suficiente para nem sequer pensar direito.

Eu só sabia que precisava tirar meus filhos de lá e teria de fazer isso naquele dia, pois aquele casal poderia estar com a papelada preenchida a qualquer momento e acabaria levando Jamie para a casa deles. E eu definitivamente não suportaria viver se isso acontecesse.

Com as mãos tremendo, manobrei o carro e estacionei em uma vaga perto do portão pequeno do orfanato, afinal, havia planejado sair por ele levando Jamie e Lily.

Respirei fundo e tentei suavizar as expressões de meu rosto, visto que eu sentia que estava me denunciando sozinho. Minhas mãos, assim como pernas, tremiam muito e meu rosto se encontrava extremamente branco. Sentia como se fosse desmaiar de nervosismo a qualquer momento e talvez isso de fato acontecesse.

Quando finalmente ganhei um pouco de cor nas bochechas, no entanto, meu celular vibrou, denunciando o fato de eu ter acabado de receber uma mensagem.

Ridículo, era o que eu tinha escolhido para intitular o contato de Harvey.

Amor, sei que já perguntei a você, mas tem certeza que está tudo bem?

Harvey devia estar desconfiando que algo estava muito errado comigo. Além de ser um oficial, ele farejava tão bem quanto Sirene.

Bloqueei a tela do meu celular e entrei no orfanato pelo portão principal. Não consegui evitar que meus lábios abrissem um sorriso nervoso ao cumprimentar um funcionário ou outro que passava por mim e corri para o banheiro, dando um tapa em meu rosto, quase me obrigando a relaxar e tentar agir normalmente.

Ninguém podia desconfiar do que eu estava prestes a fazer, pois, se isso acontecesse, eu nunca mais veria meus filhos outra vez.

— Preciso de ajuda com os banheiros do segundo andar — um de meus colegas me avisou assim que passou por mim. — Pode fazer isso?

Eu apenas concordei com um aceno rápido, sentindo-me em seguida um pouco cansado daquele trabalho operacional. Seria até bom aquele ser o meu último dia no emprego, pois eu já estava exausto daquele serviço. Como eu me conhecia bem, só não tinha trocado ainda pelo desejo de ficar perto dos meus filhos.

Se a situação fosse um pouco mais agradável, ou seja, se eu não estivesse prestes a fugir da cidade, eu poderia tentar abrir meu próprio negócio, um pequeno negócio qualquer, apenas para ser chefe de mim mesmo. Talvez um pouco do Luc de antigamente ainda estivesse correndo em minhas veias, mas pelo menos naquele momento eu desejava trabalhar e não ser apenas sustentado por outros.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora