39. Stitch

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"Ohana significa família. Família significa que ninguém é deixado para trás ou esquecido."

Disney, Lilo & Stitch

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Por mais estranho que pudesse parecer, estava se tornando comum para mim comemorar a chegada dos meus dias de trabalho. Eram chatos, exaustivos e horripilantes se eu contasse o fato de ter de limpar pelo menos um banheiro todo dia, porém eram nesses momentos em que eu via Lily e Jamie e era tudo o que importava.

Por isso, quando chegou terça-feira, eu estava literalmente saltando de excitação. Faltava muito pouco para eu poder ver meus filhos e eu acompanhava um relógio de pulso enquanto contava os minutos.

Harvey, porém, parecia estar mais preocupado do que nunca ao me ver correndo de um lado para o outro do apartamento ao mesmo tempo em que eu tentava me equilibrar com aquelas malditas muletas.

— Se você cair, eu não vou nem te ajudar a levantar do chão — repreendeu. Ele já tinha me lançado alguns olhares irritados antes disso. — Fica correndo de um lado para o outro e nem sequer melhorou completamente. Daqui a pouco terá de volta para o hospital!

— Ei! — Parei no meio da sala e apontei um dedo em sua direção. — Vire essa boca pra lá!

— Mas é verdade — insistiu e revirei os olhos.

— Você é uma pessoa tão negativa, Harvey. Tente trabalhar o seu lado positivo. Vamos lá — Fflei enquanto passava pela cozinha numa velocidade absurda para quem estava utilizando muletas para se locomover de um lugar para o outro.

Talvez Harvey tivesse razão, afinal. Talvez fosse melhor tomar cuidado e não correr daquele modo pela casa.

Mas, quer saber... Dane-se.

Eu estava extremamente entusiasmado, pois queria ver meus filhos outra vez. Já fazia dias desde o último momento em que vi meus filhotes.

Sim... Filhotes. Eu acabei adotando aquele apelido recentemente, pois combinava extremamente com Lily e Jamie.

— Nós vamos no meu carro. DOROTEIA — gritei do meu quarto.

— Luc, é esquisito você chamar aquela lata velha de Doroteia. Sério! — Ele apareceu na porta do meu quarto enquanto dava risada.

Eu, porém, fitei-o com uma carranca.

— Quem que é lata velha aqui?

— Aquela caminhonete. Vamos com o meu carro. Sou eu quem vou dirigir, afinal — falou como em uma sentença.

Era o momento em que eu teria de atuar para conseguir o que eu queria.

Por isso, sentei na cama com dificuldade e, ainda meio apoiado nas muletas, comecei a fingir estar completamente machucado pelo fato de Harvey não querer ir com a minha caminhonete. Eu ainda não tinha andado com ela, por meu trabalho ser muito perto, e queria aproveitar o fato de que Harvey precisava de um porta-malas para levar a roupa na lavanderia.

— Harvey, eu estou completamente quebrado e você não quer nem mesmo me fazer uma vontade minha... — Choraminguei enquanto fitava o chão.

— Mas...

— É só um carro, poxa.

— Ok, Ok — disse meio contrariado e voltou a andar em direção à cozinha.

Eu, é claro, comecei a fazer minha dancinha da vitória ali mesmo.

— Mas — Harvey colocou a cabeça para dentro do meu quarto e me pegou em flagrante. Por mais que eu tenha tentado parar para que ele não visse, não deu nem mesmo para disfarçar. Seu olhar mortal foi direcionado para mim. — O que temos aqui?

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora