34. Seu cheiro

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"Eu amo o seu cheiro nas minhas roupas..."

Sahil Jordan

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Eu dormi muito bem naquele dia. Inundado pelas lembranças de Lily, Jamie e Harvey juntos, fechei meus olhos e desejei que a outra realidade invadisse a minha enquanto eu estivesse desacordado. Desejei acordar nos braços de Harvey rodeado pelas crianças pulando alegres na cama e até mesmo deixando meu rosto ser lambuzado pela saliva de Sirene.

Eu queria tudo isso, porém, como meus desejos nunca eram atendidos, aquilo não aconteceu e tive de me contentar com a realidade na qual eu estava fadado a ficar.

No entanto, meus pensamentos ficaram presos na ideia de realizar meus desejos.

Eu queria todos eles comigo e apenas Sirene era quem de fato estava.

Harvey com aquela proposta estúpida de ser apenas meu amigo colocava uma pedra no nosso caminho de construirmos uma família juntos. Porque, veja bem, a ideia de adotar Lily e Jamie parecia muito simples, porém não seria fácil somente eu entrar com um pedido de adoção.

Primeiramente, eu precisava ter condições financeiras estáveis e isso significava morar em uma casa própria e não em um quarto alugado de alguém que nem meu namorado era. Apesar de ter condições de comprar uma casa própria, pois eu tinha reservado um dinheiro para Harvey para o que fosse que ele estivesse precisando, eu não desejava abrir mão de meu marido desse modo tão fácil.

Segundo, eu não queria ter de abrir mão de Harvey também, porque se o fizesse Jamie e Lily não teriam o pai brincalhão e seria somente eu na vida deles.

Terceiro era o fato de que, se eu adotasse as crianças e mais tarde ficasse de fato com Harvey e quisesse começar um novo processo para que ele também tivesse a guarda delas, nós teríamos que arcar com ainda mais gastos e, após a compra da casa e o primeiro processo para eu as cuidasse, não teríamos como pagar por isso.

E, por último, havia o fato de que estar junto de Harvey perante a lei é estar unidos em legítima comunhão. Definitivamente não estávamos juntos assim e talvez demorasse algum tempo para acontecer.

Se acontecer.

O que me deixava um pouco ansioso de uma forma nada prazerosa.

Mas eu preferia não pensar sobre esse assunto em particular. Pelo menos não muito. Todas as vezes que o fazia, acabava mandando tais pensamentos para um lugar bem inóspito da minha mente.

— O que está fazendo?— Harvey quis saber e levantou as sobrancelhas.

Eu estava perdido em pensamentos enquanto mexia em meu celular durante o café da manhã, mal tocando a comida, provavelmente fazendo ele perceber que eu estava distraído e talvez acreditando que eu não tinha gostado de suas torradas.

Meio perdido, levantei a cabeça e o encarei.

Harvey estava incrivelmente bonito naquela manhã vestindo três suéteres de cores diferentes, porém neutras. Seus cabelos tinham crescido um pouco desde a primeira vez que nos vimos nessa realidade, mas continuavam curtos o suficiente para eu ainda poder ver sua nuca. Algumas mechas se encontravam jogadas sobre sua testa e seus olhos estavam levemente sonolentos.

Tive de conter um suspiro idiota.

— Estou conversando com Mary, a senhora que me vendeu Doroteia. — Harvey deu risada do apelido. — As torradas estão muito boas. — Sorri, mas recebi apenas uma expressão ofendida de meu marido.

— Você nem tocou nelas...

Limpei a garganta uma vez e comi um bom pedaço dela, sorrindo de boca fechada para Harvey.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora