12. Pequeno Príncipe

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"O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca."

Antoine de Saint-Exupèry, O Pequeno Príncipe

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— Lily, é melhor entrar, não acha? — Harvey pediu, após deixá-la por um tempo brincando no balanço. A garotinha estava tentando fazer uma competição comigo de quem ia mais alto, porém eu não estava no clima para isso e, com um sorriso, disse que aquilo que estava fazendo era o máximo que eu conseguia. Lily pareceu entender. — Preciso falar com o papai Luc também.

Imediatamente virei para encarar Harvey, mas seus olhos não encontraram com os meus, já que ele apenas observava sua filha com um sorriso.

— Ok... — Aos poucos, Lily parou de se balançar no balanço e deixou que seus pés calçados encontrassem o chão, descendo de onde estava. Veio até mim em seguida, plantando um beijo em minha bochecha direita. — Eu amo você, papai. Sabe disso, não?

Soltei uma leve risada e sequei uma lágrima que permanecia no canto de meu olho direito.

Eu sempre fui muito sentimental após chorar e Leo sempre me lembrava disso depois de assistir algum tipo de drama juntos.

É, sim, incrível, não? Eu tenho sentimentos.

— E você é uma garotinha muito fofa para alguém não conseguir gostar.

— É verdade — ela concordou timidamente e tive de rir de sua sinceridade. Lily foi então dar um abraço e um beijo em Harvey para depois sair correndo em direção à casa de minha mãe, permitindo assim que o rapaz de olhos esverdeados sentasse no balanço ao lado e deixasse seu corpo ir e vir para frente e para trás levemente.

Respirei fundo e soltei o ar de uma só vez de meus pulmões.

Eu não devia nenhuma explicação a ele, absolutamente nenhuma explicação a Harvey, mas não conseguia mais vê-lo daquele modo, parecendo sofrer por minhas ações, e deixar por isso mesmo. E por mais difícil que fosse mudar, eu precisei respirar fundo e decidir que pelo menos uma meia verdade eu revelaria a ele.

— Harvey... Eu... Eu sei que estou agindo estranho, claro que estou, e muito estranho... Mas... Mas tudo ficará bem logo. Sei que ficará... Nós teremos a nossa vida de antes, com certeza. — Pois nós teríamos. Afinal, o destino não poderia me deixar naquela realidade paralela para sempre. Eu voltaria ao meu minúsculo apartamento e Harvey também provavelmente nem se lembraria de que foi um personagem para a peça que o universo quis me pregar. Voltaria a sua vida de antes, sabe-se Deus como ela era e com quem ele a dividia, mas ele voltaria em breve e não ficaria sofrendo por isso. Seria igual em filmes. Como se tudo não tivesse passado apenas de um sonho. — São só problemas com os quais estou tendo de lidar e você não tem culpa de nada. Sabe aquela frase que diz que o problema não é você, mas sim eu? Então... Bem, ela pode ser aplicada certamente e sem ironia para nós. Eu só estou com problemas aqui... — Apontei para minha própria cabeça e sorri sem jeito. — Não que eu esteja louco, eu só, hm, não me recordo de algumas coisas e--

— Não se recorda de algumas coisas? — Harvey perguntou com a expressão totalmente preocupada e com os olhos arregalados após virar o rosto para mim.

— É, mas, hm, não é nada. Isso é coisa do estresse. Sabe como é... Pessoas sob muito estresse tendem a esquecer das coisas.

— Como você tinha esquecido as crianças naquele dia?

— É, bem — eu menti após ser pego de surpresa com aquele questionamento. — O universo me odeia, Harvey — mudei de assunto rapidamente e dei uma risada cansada. — Mas me odeia mesmo. Tudo que eu não quero que aconteça, acontece e por culpa desse maldito universo.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora