"Porque você já foi ferido antes, você se apaixona por qualquer um que mostra sua alma. Você sabe quanta coragem é necessária. "
Bianca Sparacino, The Strength In Our Scars
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Naquela mesma noite, após inúmeras cervejas e diversos pedaços de pizza, Noah teve a ideia de irmos a um bar com música. Nós todos acabamos concordando, mesmo tendo consciência de que teríamos de acordar cedo no dia seguinte para o trabalho. O fato do álcool correr em nosso sangue e por termos saído apenas às dez da noite do apartamento acabou convencendo a todos.
Até mesmo eu e Harvey.
Enquanto eu tive de ser cutucado por meu amigo para concordar com aquela ideia, pois meus pensamentos estavam tomados pela ideia de Harvey desejar menos ainda em sentir algum interesse por mim, Harvey, mesmo parecendo estar mais calado que Alex e mais pensativo que eu, concordou com um aceno leve enquanto encarava o copo vazio e esboçava um bico distraidamente.
Eu queria saber o que estava passando por sua cabeça. Eu realmente queria saber o que estava passando por ela.
Mas tive de esquecer minhas indagações e aflições para pregar um sorriso no rosto, agarrar uma garrafa de cerveja e a balançar no ar enquanto caminhávamos na rua escura e fria naquela noite de inverno. Eu gritei a Leo e pedi para que ele me acompanhasse em uma canção, mas, talvez envergonhado pela presença de Alex, não estando bêbado o suficiente para isso ou sério demais para esse tipo de coisa, acabou negando e fazendo com que eu fosse obrigado a começar a dramatizar no meio da rua vazia.
— Você não me ama mais? — Apontei para Leo e meu lábio inferior formou um pequeno bico.
— Saia do meio da rua, Luc — Leo disse rindo.
— Não me ama. Não me ama — falei cabisbaixo. — Eu tento, tento, tento, tento e mudo, mas você só vê os meus defeitos. Por quê?
Eu nem sabia mais se estava falando com Leo. Encontrava-me um pouco alterado devido à bebida, mas, apesar disso, tinha consciência de muitas coisas e estava tentando manter a minha cabeça no mesmo lugar. A única coisa que eu desejava era que Harvey dissesse alguma coisa, dissesse qualquer coisa, mesmo se as perguntas não parecerem direcionadas a ele.
— Eu não vejo só os seus defeitos. — Leo me olhou confuso. — Eu critico muitos deles, mas não vejo só isso. Você tem um coração bom, Luc — ele disse sorrindo e meu coração se aqueceu, fazendo com que eu sorrisse também, porém minimamente.
— Você acha que eu tenho um coração bom?
Tentei pensar em algo bom que eu tivesse feito sem esperar nada em troca nos últimos tempos, mas nada me veio à mente.
— Sim, eu acho. Agora saia do meio da rua, por favor? Não quero que seja atropelado por um carro ou pelo triciclo que resolveu voltar para se vingar daquele dia.
Notei Harvey me olhando de soslaio enquanto ele conversava com Noah. Ele parecia querer me puxar do meio da rua e me reprovar por estar sendo tão imprudente — afinal, ele era bombeiro e talvez tivesse desenvolvido um sentido de proteção para com os outros —, porém eu estava tão focado no fato de Leo achar que eu tinha alguma qualidade que acabei nem tendo os calafrios como em toda vez que Harvey me olhava daquele modo.
Apenas me aproximei ansioso de meu amigo e, excitado com o que ele tinha falado, questionei de forma animada:
— Por que você acha que eu tenho um coração bom? O que eu fiz para você achar isso?
Eu não estava sendo humilde acreditando que eu realmente não tinha um coração muito bom. Na verdade, eu acreditava que tinha um dos corações mais pobres de Londres, porém por muito tempo nem me importei.
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Destino Estranho
RomanceLuc Thornton sempre foi muito ambicioso. Ele não consegue esconder a inveja que sente de todas aquelas pessoas que têm carros luxuosos, mansões em bairros nobres, que fazem viagens extravagantes e que possuem dinheiro de sobra no bolso. Luc inveja i...