28. Três segundos de coragem

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"Às vezes, tudo que você precisa são três segundos de coragem insana e eu prometo que algo ótimo vai resultar disso."

Benjamin Mee

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Enrolei-me no cobertor ainda mais naquele sofá e com um lenço de papel enxuguei o rosto enquanto as lágrimas jorravam de meus olhos sem que eu pudesse sequer tentar controlar.

O Pai da Noiva é um filme extremamente triste e eu estava condenando a TV paga por ter me recomendado algo tão cruel quanto aquela obra.

Funguei algumas vezes e agradeci silenciosamente o fato de Harvey ter saído e não ter voltado até aquele momento. Seria constrangedor demais ele me flagrar daquele modo, afinal, eu parecia um rio transbordando.

Enfiei um pouco mais de pipoca de micro-ondas em minha boca enquanto assistia a mais uma cena de arrancar o coração do peito. A música tema do filme começou a tocar — My Girl de The Temptations — e minha mente passou a ser tomada por imagens de uma Lily crescida jogando basquete enquanto um Luc idoso tentava vencê-la e marcar várias cestas. Imaginei Lily em um vestido de noiva esperando impacientemente para que eu ou Harvey nos decidíssemos sobre quem entraria com ela na igreja.

Inferno!

Aquilo era patético e eu tive de revirar os olhos para mim mesmo por estar sendo tão meloso sobre tudo isso. Tudo bem que eu desejava minha família de volta, mas agora passar boa parte do meu tempo pensando sobre esse fato? Isso já era um exagero.

Mesmo assim, minha cabeça era teimosa o suficiente para ignorar o fato de eu achar aquilo tudo patético e, para mais um desespero meu, a música ainda estava tocando e eu passei a cantarolar a letra.

Eu tenho o brilho do sol em um dia nublado...

E mais lágrimas caíram enquanto eu engolia as pipocas e tomava um pouco de Coca-Cola.

Quando está frio lá fora tenho o mês de maio...

E foi quando escutei a porta sendo destrancada, tendo certeza que Harvey tinha chegado de sabe-se Deus onde. Parei no mesmo instante de cantarolar e enxuguei meu rosto com as costas das mãos, já que eu estava tomado pelas lágrimas.

A porta então se abriu e tentei esconder-me no sofá de modo que Harvey simplesmente me ignorasse e passasse reto em direção a seu quarto como de costume. Não que eu gostasse quando ele o fazia, mas naquele momento era realmente um desejo meu, assim ele não me veria chorando daquela forma desesperada. Não veria meus olhos inchados por causa daquele clássico dos anos 80. Não veria o quanto eu era idiota e patético.

Ouvi seus passos pesados adentrando o ambiente e me encolhi ainda mais, abaixando o volume da TV em seguida e fazendo um sinal para que Sirene não fizesse nenhum movimento brusco e permanecesse em silêncio como estava há um bom tempo a meus pés.

Notei que Harvey caminhou lentamente até seu quarto e desapareceu por lá, fazendo com que eu respirasse aliviado e acreditasse que ele me deixaria chorando em paz por um filme antigo. Distrai-me novamente com O Pai da Noiva, comendo pipoca e bebendo refrigerante e passaram-se cerca de dez minutos sem que eu caísse no choro. No entanto, mais algumas lágrimas desceram por meu rosto, em um momento realmente triste do filme, em minha legítima defesa, e tive vontade de me estapear algumas vezes enquanto Sirene choramingava ao me olhar.

Aquela ridícula estava tentando me denunciar, só poderia ser.

E é claro que tinha alcançado com êxito seu intuito, pois notei, de canto de olho, que Harvey me observava na cozinha.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora