"Aprendi que esperar é a parte mais difícil e quero me acostumar com a sensação de saber que você está comigo, mesmo quando não está ao meu lado."
Paulo Coelho
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Eu não sabia o que tinha acontecido com Luc.
— Harvey, me ajude aqui, por favor — um dos meus colegas disse.
Eu tirei os olhos do celular e fui ajudá-lo, mas meus pensamentos continuaram presos na minha caixa de mensagens vazia.
Eu não sabia o que tinha acontecido com Luc, mas aquilo não era algo normal.
Mesmo nos piores dias, naqueles dias em que Luc gostava de ficar sozinho, sem ser incomodado, e mal humorado em algum canto, ele me mandava mensagens para me atualizar sobre o que estava acontecendo em casa. As mensagens eram curtas, sem serem grosseiras, e por vezes ele nem mesmo respondia o que eu dizia em seguida, mas havia algo no conteúdo delas que sempre me fazia rir.
O lixo passou por aqui, mas não deu tempo de colocar lá fora, porque escorreguei.
Jamie não quer tomar banho, mesmo fedendo igual um gambá.
Comprei aquilo que precisava, mas, dane-se, pechinchei.
O que diabos é centrifugação?
Eu sentia falta dessas mensagens.
E por mais que estivéssemos brigados, por mais que ele tivesse pisado na bola da pior forma possível, eu conhecia Luc o suficiente para saber que ele daria um jeito de fazer as pazes e as mensagens seriam uma forma disso.
Eu conseguia perceber que ele estava se sentindo mal pelo que tinha dito para mim. Ele me lançava alguns olhares receosos e culpados e parecia querer dizer alguma coisa, mas, no último segundo, parecia voltar atrás. E isso era algo que me deixava ainda mais bravo, porque me confundia. Eu sentia como se não conseguisse entendê-lo, eu não conseguia ler o que estava escrito nas suas expressões, e isso me mandava ainda mais para a escuridão.
Mesmo quando eu comecei a perceber que ele queria ficar sozinho — foi difícil notar isso, no entanto, pois ele não me dizia nada e parecia querer fingir que estava tudo bem —, eu não conseguia ler direito os comportamentos dele.
Por exemplo, era difícil esquecer do dia em que ele tentou enganar a todos sobre ter feito a comida do almoço. Naquele dia, ele deu um sorriso estranho quando tínhamos chegado, um sorriso que até mesmo ele detestava e que eu tinha visto pouquíssimas vezes, e perguntou onde deveria deixar as coisas das crianças.
Mas o fato era que tinha sido Luc quem decidiu exatamente onde deveríamos deixar as coisas das crianças — no quarto delas, pois, se deixasse na sala, ele não conseguiria aproveitar um tempinho para sentar na frente da TV e assistir alguma coisa qualquer em seu tempo curto e precioso de folga — e foi quando um grande sinal de alerta começou a piscar dentro da minha cabeça.
Era como se Luc estivesse esquecendo das coisas.
Ele tinha esquecido como deveria trocar fraldas, como deveria cozinhar e onde deviam ser colocadas as coisas das crianças.
Era como se a parte de Luc que pertencia a essa família tivesse desaparecido e isso começou a me preocupar muito. Foi algo que me deixou completamente cego de preocupação.
Eu tentei fazer e falar coisas como se não estivesse percebendo os seus "esquecimentos" ou o que quer que estivesse acontecendo com ele. Eu tentei agir como um idiota e fazer as nossas brincadeiras habituais. Tentei provocá-lo, seduzi-lo, entendê-lo quando ele dava uma desculpa esfarrapada sobre qualquer coisa e incentivava-o a continuar o que quer que estivesse fazendo, mesmo que aquilo não fizesse sentido algum.
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Destino Estranho
RomansaLuc Thornton sempre foi muito ambicioso. Ele não consegue esconder a inveja que sente de todas aquelas pessoas que têm carros luxuosos, mansões em bairros nobres, que fazem viagens extravagantes e que possuem dinheiro de sobra no bolso. Luc inveja i...