43. Plano B

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"Não posso te perder de novo. Eu não posso, de novo não. Eu não sou forte o suficiente."

Disney, Os Incríveis

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Não sei ao certo como é passar por uma crise de ansiedade, pois nunca tive sintomas antes que se encaixassem com esse problema, porém naquele dia acredito que estava perto de ter uma.

Quando Kristen disse que havia um casal querendo adotar Jamie, meu coração passou a bater em um ritmo acelerado. Extremamente acelerado. Eu mal conseguia respirar, mal conseguia focar a atenção no que as outras pessoas falavam para mim, mal conseguia me manter em pé. Parecia que as imagens à minha frente se formavam em um borrão e não era nada em relação a minha miopia. Era simplesmente por eu estar desorientado e desesperado.

A única coisa que me puxou um pouco para a realidade foi quando Lily apareceu em minha frente balançando o corpo de um lado para o outro e com um sorriso doce e gentil no rosto.

— Oi Lou. Você está muito príncipe hoje. — E suas bochechas coraram, fazendo ela abaixar o rosto para esconder. Juntou suas mãozinhas em frente ao corpo e me olhou outra vez, sorrindo pequeno e balançando ainda mais o corpo.

Eu ainda estava tentando não deixar que lágrimas caíssem de meus olhos, porém era difícil naquele momento. Tão complicado.

Lily ali paradinha daquele modo fazia com que eu me recordasse dos momentos bons e gostosos nos quais passei com minha família na outra realidade e não dava para suportar o fato de eu estar perto de perder uma parte disso para sempre.

Eu precisava fazer algo para impedir que Jamie fosse adotado. Precisava fazer algo.

Engoli o soluço preso na garganta e forcei meus lábios a abrirem um sorriso — afinal de contas, eu estava parado diante de minha filha e devia o mundo a ela.

— Obrigado. Mas acho que está enganada — brinquei, tentando aliviar o aperto em meu coração disparado. Sua expressão confusa se mostrava tão delicada e doce que tive vontade de chorar naquele exato momento. — Eu sou um rei. Afinal são eles os pais de princesas como você, certo?

E encantada por isso ela abriu um sorriso maior ainda.

Contudo, quando entrei em minha caminhonete para voltar para casa, não aguentei um minuto a mais e deixei que as lágrimas rolassem por minhas bochechas como forma de aliviar o desespero que tinha tomado minha mente. Isso não adiantou em nada, no entanto. Acredito que somente serviu para me deixar ainda mais desesperado e transtornado.

O medo que eu sentia em todas as vezes que tinha de voltar para o meu apartamento e deixar meus filhos no orfanato, tendo o risco deles serem adotados enquanto eu estivesse fora dali, aumentou consideravelmente. Eu me encontrava aos soluços e apertando o volante com extrema força. Queria que aquilo tudo fosse somente um pesadelo terrível, mas era real. Muito real. Estava ali diante de mim e eu tinha de encarar aquilo. Tinha de encarar o fato de que estava perdendo Jamie a cada segundo que se passava. E eu quase não conseguia enxergar os carros à minha frente com os olhos lacrimejados e embaçados pela tristeza que carregava dentro de meu peito, mas, por sorte, cheguei em frente ao edifício pouco tempo depois e são e salvo.

Bem... Pelo menos fisicamente eu estava.

Enquanto subia de elevador ao apartamento e deixava que o choro se instalasse por todo aquele ambiente, não tive forças para impedir que o desespero se instalasse ainda mais em cada poro de meu ser. Abracei forte meu próprio corpo e procurei segurar o resto de calma que estava ali, porém sem sucesso algum.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora