"Estou desmoronando bem na frente dos seus olhos, mas você nem mesmo me vê."
Pugal
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Enquanto eu organizava as minhas coisas no meu mais novo quarto e Sirene permanecia deitada ao meu lado, Harvey passava seu tempo na sala de estar ignorando a minha existência.
Ele não dirigiu nenhuma palavra para mim, nem mesmo para perguntar se eu precisava de alguma ajuda e muito menos para desenvolver alguma conversa banal.
No entanto, eu podia notar suas olhadas rápidas na direção do quarto, principalmente quando passava pelo corredor em direção ao seu cômodo ou quando levava o pote de pipoca para a pequena cozinha. Parecia querer ter a certeza de que eu não estava aprontando nada e nem mesmo, quem sabe, afiando uma faca.
Rolei os olhos quando o flagrei me espiando e ainda corando por ter sido pego o fazendo.
— Seu pai é ridículo — cochichei para Sirene, fazendo ela me olhar e soltar um resmungo típico seu. — Olha o que ele está fazendo... Eu vou começar a fingir que sou o assassino da serra elétrica e aí ele vai ver o que é ter medo.
Remexi em uma das caixas que tinha trazido comigo e acabei derrubando um dos pacotes que se encontravam ali, espalhando pelo chão vários e vários papéis. Choraminguei pela bagunça que eu havia causado e bufei irritado comigo mesmo, começando imediatamente a guardá-los em seu devido lugar.
No entanto, parei no momento em que minhas mãos encontraram um pequeno papel que continha o número da casa de minha mãe.
Senti um aperto extremamente desconfortável dentro do peito e uma sensação angustiante que me sufocava.
Sentia falta dela, de meu pai e de minhas irmãs, mas eu ainda não tinha certeza se devia ou não resgatar o contato de antes, pois não era de meu conhecimento se essa realidade estava ou não seguindo exatamente o mesmo script da outra.
E se meus pais ainda não quisessem falar comigo? E se eles me rejeitassem novamente?
Eu poderia lidar com a dor outra vez?
A rejeição realmente havia me machucado na época, apesar de eu ter a minha própria maneira de lidar com isso.
Bufei irritado e sem saber o que fazer.
Por fim, acabei apenas deixando o papel com o telefone anotado dentro da gaveta da mesinha ao lado da cama, postergando o momento em que eu deveria conversar com minha família outra vez e voltando, portanto, aos meus afazeres. Decidi empurrar aqueles pensamentos para uma parte isolada do meu cérebro e me concentrar em qualquer coisa a não ser isso.
Eu me concentraria no fato de Sirene estar babando no chão recém limpo por Harvey naquele momento, isso sim.
— Sirene, você é uma cachorra ou uma porca? — questionei e ela apenas me lançou um olhar sonolento. Logo em seguida, bocejou e deitou a cabeça novamente sobre suas patas dianteiras. — Eu é que não irei limpar essa sua nojeira.
E foi então que ouvi um suspiro frustrado de Harvey.
O que? O que era agora? Aquilo era para mim?
Revirei os olhos para mim mesmo.
Meu marido de outra realidade/ atual colega de quarto estava me aborrecendo. Era difícil ter de suportar sua indiferença e rancor quando eu tinha tudo ao seu lado em outra realidade. Eu tinha seu carinho, seu amor, sua paciência, suas risadas e seus beijos. Eu tinha tudo, porém agora não me restava nada. Na verdade, o que restava era apenas um suspiro frustrado, pois ele se recusava a falar comigo para comentar sua descontentação com meu comentário.
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Destino Estranho
RomanceLuc Thornton sempre foi muito ambicioso. Ele não consegue esconder a inveja que sente de todas aquelas pessoas que têm carros luxuosos, mansões em bairros nobres, que fazem viagens extravagantes e que possuem dinheiro de sobra no bolso. Luc inveja i...