36. Objeto não-identificado

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Eu estava a ponto de arrancar os meus cabelos.

Luc tinha acabado de se meter em uma missão suicida e saído com vida, mas apenas porque eu ter chegado a tempo no local. 

Eu ficava remoendo a todo momento o fato de que, se eu tivesse atrasado um pouco mais, ele não estaria sequer no hospital. 

Eu tinha quase ficado preso no trânsito horas antes e, como um efeito borboleta, a situação poderia ter sido outra.

Poderia, poderia, poderia.

Mil possibilidades cruzavam a minha mente. Nenhuma delas era um pensamento positivo.

Olhei para Luc que continuava adormecido na cama de hospital. Sua cabeça estava enfaixada, havia leves cortes ao longo de sua pele e ele continuava respirando, segundo o que a máquina apontava ao lado da cama. 

Parecia um anjo, mas quem o conhecia, mesmo que conhecesse pouco, sabia muito bem que toda aquela calmaria escondia uma pessoa teimosa, cabeça dura e inconsequente.

A verdade é que eu estava extremamente furioso. 

Furioso com ele, mais precisamente. 

Ali sentado, não conseguia parar de cutucar o meu polegar a ponto de quase arrancar um pedaço de pele do canto da unha. 

Eu não conseguia entender, não fazia o menor sentido para mim, como alguém poderia se colocar em risco daquela maneira sem pensar no que os seus atos poderiam ocasionar. 

O que uma pessoa como ele poderia estar pensando para se arriscar daquela forma? 

Achava que era a porcaria de um super herói?

Se bem que se eu fosse refletir bem, era muito provável que Luc pensasse.

E em meio a todas as minhas reflexões repletas de irritação que ouvi Luc fungar. 

Minhas orelhas só faltaram ficar em pé pela forma como meu corpo enrijeceu e meus olhos voltaram mais uma vez para o seu rosto.

Luc ainda estava de olhos fechados, mas parecia agitado. Suas mãos e seus braços se moveram descordenadamente e ele fungou outra vez, parecendo se afogar com a própria saliva. Seus braços se moveram ainda mais e suas mãos acabaram indo em direção ao rosto, mais precisamente de encontro à faixa. 

Isso fez com que eu levantasse da poltrona na qual eu estava acomodado apenas o observando por diversas horas seguidas. Fui rápido o suficiente para segurar os seus braços e impedi-lo de acabar mexendo no ferimento mais grave. No entanto, impedi-lo pareceu fazer com que seus olhos se abrissem. 

Luc começou a abri-los lentamente, como se estivesse com muito sono e bastante grogue. Ele piscou várias vezes quando abriu os olhos por completo e me encarou em silêncio e extremamente sério por longos segundos. 

Sem saber muito bem como agir, fiz o mesmo. 

Devolver o olhar daquela forma, no entanto, fez com que Luc me encarasse ainda mais e com as sobrancelhas franzidas. Havia um enorme finco no meio delas quando ele tombou a cabeça, parecendo carregar uma genuína curiosidade no olhar. Era como se eu fosse um espécie rara de um animal que ele estava estudando.

Comecei a me perguntar o que ele estava fazendo e por qual motivo estava demorando tanto para começar a tagarelar. 

O quão forte tinha sido a pancada para afetá-lo daquela forma?

— Quem é você? — ele perguntou com um sorriso brincalhão no rosto.

Uma sensação incômoda, extremamente incômoda preencheu o meu peito. 

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora