38. Mal estar

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"Se apaixone por alguém que cuidará de você não de uma forma material, mas se apaixone por alguém que cuidará da sua alma. Se apaixone por alguém que cuidará da sua mente, alguém que cuidará do seu coração. Se apaixone por alguém que cuidará até mesmo das partes mais caóticas de quem você é."

Bianca Sparacino

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Por mais que eu quisesse que domingo passasse rápido — pois eu desejava realmente ver Lily logo e explicar o motivo de minha ausência no cuidado das flores com ela —, aquele dia se arrastou lentamente por mim. Muito lentamente. Mas foi tão lento seu arrastar que agradeci aos céus quando vi os últimos raios de sol desapareceram no horizonte e o tom escuro tomar conta de todos os cantos da minha cabeça.

Agradeci mais ainda quando percebi que dormiria com Harvey na cama aconchegante naquela noite e seria possível trocar inúmeros beijos com ele. Além disso, faltava cada vez menos tempo para a minha contagem regressiva para a terça-feira — dia do reencontro com meus filhos — acabar.

Harvey, no entanto, não tinha dó de meu estado fragilizado. Eu poderia arriscar até a hipótese de que ele parecia querer que meu estado piorasse.

Pude perceber suas intenções maléficas assim que o vi adentrar o quarto com o peito desnudo e minha camiseta do time na mão. Dando de ombros, ele então vestiu a peça de roupa e a arrumou no corpo em seguida.

Ao se aproximar da cama, Harvey estava com um sorriso no rosto, aquelas malditas covinhas marcando presença, e vestia minha camiseta como se fosse algo totalmente casual e nada que pudesse me causar um ataque cardíaco. Pude observar com muita facilidade seus músculos se moverem e precisei respirar fundo para mais uma vez não desmaiar.

Assim que meu marido terminou de vestir a roupa, tirou a calça de moletom — valha-me Deus — e resolveu ficar apenas de boxer e com a minha camiseta de time.

É claro que eu finalmente entendi o motivo dela cheirar tanto a Harvey. Não podia ser somente por ela estar em meio a suas roupas naquele dia em que a encontrei em seu armário. Ela tinha estado em seu corpo inúmeras vezes enquanto ele dormia.

Aquilo estranhamente me excitou.

— Você vai dormir assim? — perguntei meio receoso.

Eu não desejava passar pelo constrangimento de ficar excitado durante toda aquela noite e bem em frente a Harvey.

Ele deu de ombros e pulou, literalmente pulou, para debaixo das cobertas.

Meu marido era uma cópia completa da outra realidade mesmo.

Eu já podia sentir algumas fisgadas em meu baixo ventre e a última coisa que eu precisava era ficar excitado com tantas dores no corpo como estava sentido. Se começasse a me excitar ali diante daquele corpo, diante de meu marido, eu sei que não me controlaria por muito tempo. Acabaria suado, exausto e com ainda mais dores — só que dessa vez elas teriam sido produzidas de um modo mais prazeroso.

E eu realmente estava querendo voltar a andar direito antes de terça-feira.

— Qual o problema? — Seu cenho estava franzido em confusão.

Limpei a garganta e olhei para todos os lados. Eu estava começando a suar e meu corpo se encontrava cada vez mais quente. Minhas bochechas queimaram e amaldiçoei o fato de que isso estava acontecendo.

— Eu te deixo desconfortável? — Harvey ficou receoso.

— Não — falei imediatamente. — Não é isso... Eu só... Estou com um pouco de calor, sabe. Está quente aqui, não? — Soltei o ar completamente de meus pulmões e me abanei com uma das mãos, tentando de algum modo fazer com que o suor parasse de se formar. — Esse quarto está muito abafado... Não sei se percebeu. — Fitei Harvey naquele momento e aquele ridículo estava mordendo o lábio para conter um sorriso. — O que foi? — indaguei já formando uma bela de uma carranca. Ele soltou uma risada por aqueles lábios carnudos e eu dei um soco em seu peito. — O que foi, seu ridículo?

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora