23. A confusão de Harvey

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"Você é algo entre um sonho e um milagre."

Elizabeth Barrett Browning

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— Eu não quero jogar na sua cara, Harvey, mas é impossível você conseguir me vencer nessa — Noah disse com um sorriso convencido no rosto e eu apenas lancei a ele um olhar desconfiado.

Ele deveria estar trapaceando quando eu me distraia para pedir bebidas ou para falar com Alex.

—Eu sei que você mexeu naquela bola — falei com convicção, mesmo não tendo completa certeza sobre isso. Eu só sabia que aquela bola estava em outra posição na mesa de sinuca segundos antes. — Mas quero ver você ganhar de mim quando a minha atenção estiver totalmente voltada para essa mesa.

— Vai continuar sendo fácil da mesma forma como já está sendo. — Mas, pelo que eu conhecia do meu amigo, ele não parecia tão certo.

Para ser sincero, nem mesmo eu tinha a convicção de que realmente ganharia, pois os meus pensamentos estavam presos em um sonho que tive naquele dia. Ou, pelo menos, nos fragmentos do sonho que estavam completamente embaçados, porém armazenados na minha mente.

Havia uma criança sorrindo. Uma menina de cabelos lisos. Eu não conseguia ver a cor de seus olhos e muito menos os traços de seu rosto, mas ela parecia feliz. A garotinha segurava um urso que parecia um dinossauro e vestia um vestido azul comprido e delicado.

Ela estava em uma sala de estar. Ou, pelo menos, era o que parecia. Uma sala de estar confortável e simples e sorria para mim. Além disso, ela não fazia nada demais a não ser balançar um pouco o corpo de um lado para o outro e segurar o seu urso de pelúcia.

Havia um bebê também, mas ele não estava em meu campo de visão. Eu só sabia de sua presença em meu sonho por causa do som de sua voz.

O bebê ria com vontade e era uma gargalhada que poderia contagiar quem estivesse por perto. Até mesmo eu abria um sorriso toda vez que lembrava daquele som tão agradável e gostoso de ouvir. Eu lembrava que a única coisa que eu tinha visto dele era um de seus pezinhos descalços. Seus dedos gordinhos mexiam contentes enquanto ele balançava o pé e soltava gargalhadas.

Esse sonho acabou quebrando o meu coração em um milhão de pedaços.

Eu já sonhava acordado com o dia em que eu pudesse adotar algumas crianças que eu chamaria de filhos e sonhar com aquilo fez com que uma avalanche de planos futuros despencasse de uma vez só na minha cabeça.

Eu tinha um plano ideal. Eu iria reservar a maior parte do meu salário do mês para juntar o suficiente e dar um entrada em uma casa boa o suficiente que fosse mais espaçosa do que o minúsculo apartamento em que eu estava morando.

Meu apartamento tinha dois quartos, um estava vazio e eu planejava alugá-lo para alguém para conseguir mais dinheiro ainda e reservá-lo para os meus, e também havia uma sala, uma cozinha, uma lavanderia e um banheiro. Eram cinco cômodos, mas não eram grandes o bastante.

Eu também queria uma casa que tivesse uma boa garagem e um jardim, pois eu planejava adotar um cachorro grande e amigável para me fazer companhia nos primeiros meses que me mudasse.

Já os outros meses que fossem seguir aos da mudança, eu acreditava que eles seriam um pouco mais difíceis, pois eu me focaria em realizar um dos meus maiores sonhos.

Quando eu era adolescente, costumava falar para todo mundo que o meu maior sonho era me tornar um bombeiro. Minha mãe, a pessoa mais importante da minha vida, sempre me encorajou e fez o possível, e o impossível, para que eu conseguisse alcançar tal objetivo.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora