21. A fonte

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"Às vezes, as coisas se tornam possíveis se as quisermos muito."

T. S. Eliot

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Naquele dia, assim que me recuperei um pouco, após enxugar as inúmeras lágrimas de meu rosto, e mesmo soluçando, tentei procurar por Harvey e pelas crianças. A primeira coisa que decidi fazer foi dirigir até a casa que era nossa naquele bairro do subúrbio e ver se eles estavam por lá.

Eu tinha esperanças de que eles estivessem por lá, afinal.

Portanto, após estacionar o carro em frente à casa, desci do mesmo e caminhei por aquele jardim pequeno e que eu tanto conhecia. Não havia tantas flores quanto antes e isso fez meu coração saltar dentro do peito de um modo extremamente incômodo. Harvey adorava um jardim florido e eu me lembro das inúmeras orquídeas, violetas, rosas e girassóis que antes ali estavam, mas que não apareciam por lá naquele momento. Além disso, a garagem da casa estava fechada e não havia sinal algum daquela caminhonete que eu acabei aprendendo a amar.

A vontade de chorar voltou novamente, pois aquilo definitivamente não era um bom sinal, e me forcei a segurar as lágrimas, visto que meus olhos já se encontravam incrivelmente inchados devido ao fato de eu ter chorado durante todo o caminho até ali. A sensação dentro de meu peito era simplesmente horrível, mas ainda havia um pequeno fio de esperança dentro de mim.

Assim sendo, quando bati à porta daquela casa, ainda esperava que Harvey abrisse enquanto segurava as duas crianças no colo e sustentava um sorriso de orelha a orelha no rosto, dizendo em seguida algo como "Ei, amor, onde estava? Ficamos preocupados, né Lily? Diga para o papai, Jamie, que ficamos preocupados". No entanto, como o meu sentido estava me avisando desde o início, não foi nada disso que aconteceu, fazendo meu mundo mais uma vez desmoronar embaixo de meus pés.

— Olá? — Um senhor de aproximadamente 60 anos foi a pessoa que abriu a porta daquela casa, da minha casa, e suas feições me denunciavam que ele não fazia ideia de quem eu era.

Eu também nunca o tinha visto antes.

— Oi! Eu, hm,... — Limpei a garganta uma vez e tentei controlar minha voz instável, pois eu definitivamente estava prestes a cair no choro. — E-Eu queria saber se há algum Harvey aqui...

— Harvey? — Ele pareceu confuso e isso só fez meu coração acelerar de um modo incômodo. Ele não estava lá. Eu podia sentir a falta de sua presença. — Não tem nenhum Harvey aqui.

Eu sei. Eu não deveria chorar, mas não pude controlar a primeira lágrima que começou a cair de meus olhos e escorrer por minha bochecha.

— Oh... O-Ok. Obrigado.

— Está tudo bem, rapaz? — o homem perguntou gentilmente, mas a única coisa que consegui fazer foi abaixar a cabeça para esconder as lágrimas que começavam a escorrer descontroladamente por minha bochecha e acenar afirmativamente com a cabeça, como se eu estivesse dizendo que tudo estava perfeitamente bem, mesmo sabendo que nada estava.

Absolutamente nada estava bem.

— D-Desculpe — falei ao homem.

Sem delonga alguma, virei meu corpo e, ainda com a cabeça baixa, comecei a me afastar da porta, caminhando em direção a meu carro. Eu chegava a me arrastar sem força alguma para continuar.

Não era pedir demais querer Harvey e as crianças comigo. Por que eu não podia tê-los novamente?

Sem ânimo algum para nada, entrei em meu carro e apoiei as duas mãos no volante, repousando em seguida minha cabeça em meus braços estendidos. Eu não enxergava mais um palmo diante de mim devido a meus olhos embaçados pelas lágrimas que se formavam e caíam uma a uma em um choro silencioso.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora