49. Essa realidade

158 19 53
                                    

"Família não é algo de sangue. São as pessoas que amam você. As pessoas que protegem você."

Cassandra Clare, Cidade do Fogo Celestial

**

Com o coração na mão, comecei a caminhar em direção à saída do orfanato enquanto carregava Jamie no colo. Harvey segurava as malas com os pertences de nosso bebê e também não parecia muito feliz após sua ficha cair sobre o fato de que estávamos saindo dali sem a nossa filhinha.

Acenei com a cabeça para a diretora e a assistente social, que nos tinha passado uma série de informações e regras sobre como daria suas visitas em nossa casa nos próximos meses, e continuei em direção ao carro com Sirene que nos aguardava com os olhos extremamente arregalados e parecendo afoita.

— Aquela maluca vai pular em Jamie assim que abrirmos a porta, eu tenho certeza — Harvey cochichou em meu ouvido e meus olhos o fuzilaram.

— Olha como você fala da minha cachorra — avisei e ele apenas riu.

Era uma ameaça verdadeira e meu marido estava levando como se eu estivesse apenas brincando.

Com excitação, Jamie se remexeu em meu colo e tive certeza no mesmo instante de que ele se encontrava extremamente animado após avistar Sirene ali no carro. Chamou com a mãozinha, seus pés chutaram meu estômago e tive de segurá-lo firme para que não pulasse de meu colo e saísse aos gritos atrás dela. Mas é claro que isso estava se tornando impossível, pois Jamie havia crescido nos últimos meses e eu podia comparar a força que agora ele usava contra mim a de Zezinho de Os Incríveis. E sem nenhum exagero.

— Vai usar sua visão a laser contra mim, mocinho? — Ele apenas respondeu aquilo formando um enorme bico com seus lábios. — Eu não tenho medo nenhum dessa carinha brava, ok? Não adianta fazer esse biquinho. — E como resposta ele apenas esboçou um bico ainda maior. — Ótimo. Você está bravo, eu estou bravo. Tal pai, tal filho, certo? — E depositei um beijo em sua testa, fazendo-o sorrir e rir um pouco.

Em seguida, abri a porta da parte de trás do carro e a primeira coisa que aconteceu foi Sirene pular para fora, obviamente. Jamie achou a maior graça e passou a bater palminhas, animando-se imediatamente e desmanchando o bico enorme que carregava nos lábios. Tive de soltá-lo antes que ele realmente pulasse de meu colo para agarrar os pelos de Sirene e passar a brincar com a cachorra bagunceira aos meus pés.

Levando muito tempo e tomando certo esforço, Harvey conseguiu colocar Jamie no bebê conforto e fazer Sirene se acalmar dentro do automóvel — e ela só o fez após conseguir acomodar sua cabeça no colo do bebê. Claro que tive de dar risada ao observar toda aquela cena, mas meu rosto murchou assim que entrei no carro e me acomodei em meu assento.

Por mais que eu tenha imaginado, por mais que aquela hipótese tivesse passado pela minha mente, eu jamais desejaria em toda a minha vida ver a cena que se passou em meus olhos nos próximos instantes.

Meu olhar encontrou Lily em uma das janelas dentro do orfanato nos observando enquanto as suas duas mãozinhas estavam apoiadas no vidro embaçado, assim como seu nariz se encontrava pressionado contra o material.

Meu coração se apertou de forma imediata.

Mesmo de longe, eu podia ver lágrimas escorrendo por suas bochechas e a tristeza profunda que ela carregava em suas feições. Lily acenou lentamente para mim após notar que eu retribuía ao seu olhar e secou as lágrimas, tentando não deixar com que eu percebesse que estava chorando. Ela apertou mais Stitch contra o peito e meu desejo foi gritar que eu voltaria para buscá-la, que eu não estava a abandonando.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora