42. Mordida na canela

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"Não sou uma pessoa perfeita, cometo muitos erros; mas ainda assim, amo aquelas pessoas que ficam comigo depois de saberem quem eu realmente sou."

Dhana Sri

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Quando entrei no supermercado com Harvey no dia seguinte após voltar do trabalho e resolvi fazer compras, a quantidade de pessoas que ali estavam comprando diversos produtos na véspera de Ano Novo me assustou e fiquei paralisado na porta por alguns segundos. Eu estava feliz, pois vi que Jamie e Lily estavam em segurança ainda no Orfanato e por sorte ninguém os tinha adotado, mas meu bom humor sumiu no momento em que vi filas quilométricas em cada ponta daquele estabelecimento.

Em seguida, é claro, fitei Harvey ao meu lado, que já parecia ter entendido que sua ideia tinha sido péssima.

— Quer dizer alguma coisa? — questionei, encarando-o com cara de poucos amigos.

Harvey não devolveu o olhar.

— Hm... — Ele lançou um olhar rápido em minha direção, porém logo desviou. — É só focarmos no que realmente colocamos na lista de compras e logo estaremos fora daqui.

Cruzei os braços, deixando que uma expressão zangada tomasse conta de meu rosto.

— Não vou poder nem escolher meus cereais direito. — E Harvey deu risada, passando o braço sobre meu ombro e beijando minha testa.

Com isso, acabei deixando um sorriso se abrir em meus lábios e fechei os olhos por um instante enquanto permitia que meu nariz roçasse em sua jaqueta de couro, podendo assim sentir o cheiro de seu perfume gostoso.

Depois desse momento entre nós dois, passamos a andar pelos corredores e a quase sermos pisoteados por aquela multidão desesperada por um pedaço de carne e alguns champagnes baratos.

— Acha melhor nós nos separarmos? — Harvey perguntou enquanto olhava para todos os lados e parecia analisar o amontoado de pessoas em torno dos assados recém preparados e expostos para o público.

Peguei um pouco de queijo e algumas caixas de pizza, colocando em seguida no carrinho carregado por Harvey, e neguei com a cabeça firmemente.

— Nem pensar — disse. — Da última vez que nós fizemos isso, você estava se engraçando--

Ok. Péssima ideia.

Parei no meio da frase ao lembrar que essas minhas recordações, péssimas recordações, não pertenciam a essa realidade.

— Da última vez? — Seu cenho se franziu e minhas bochechas queimaram.

— Olha ali! — Tentei fazê-lo focar em outra coisa. — A fila de carnes está menor. É melhor a gente aproveitar.

Dei um sorriso exagerado e percebi o olhar de desconfiança com o qual Harvey me fitou, porém ele pareceu deixar aquilo de lado e apenas me seguiu enquanto eu andava no meio daquela enorme quantidade de pessoas e pegava um ou outro bolinho de chocolate industrializado.

— Eu estou vivendo com uma criança — reclamou e assim que colocou o carrinho no final da fila me deu as costas e foi pegar algumas frutas que pareciam extremamente fresquinhas.

De longe e curiosamente, observei Harvey pegar algumas bananas, morangos, laranjas e cerejas em uma cesta e voltar poucos minutos depois e após a fila ter andado um pouco.

— Olha isso! — Mostrou as frutas e eu fiz uma expressão contrariada. Aquele ridículo estava querendo dizer que eu não me alimentava direito, mesmo eu sabendo que ele também não ficava para trás quando o assunto era comida industrializada. Afinal, era Harvey quem devorava diversos tipos de pizza e não deixava sobrar uma única para o café da manhã. — Vou fazer uma vitamina hoje à noite e deixarei apenas as cerejas para amanhã, já que é Ano Novo.

Destino EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora